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Produtor musical Wesley Rangel morre na Bahia

Bell Marques e Margareth Menezes no Cemitério Jardim da Saudade (Foto: Alex DePaula/G1)

Vários artistas da música baiana prestaram as últimas homenagens ao empresário e produtor musical Wesley Rangel, que morreu na madrugada desta quarta-feira (6), aos 65 anos, em Salvador. Ele lutava contra um câncer de próstata com metástase óssea há cinco anos. O corpo dele será cremado no Cemitério Jardim da Saudade.

Fundador da WR Estúdios, gravadora responsável pela projeção nacional de artistas da axé music, Rangel participou ativamente do mercado fonográfico baiano. Ele produziu e colaborou para o sucesso de artistas como Juca Chaves, Luiz Caldas, Chiclete com Banana, Ivete Sangalo, Edson Gomes, Banda Reflexus, Olodum, Daniela Mercury, Timbalada, É O Tchan, Terra Samba, Companhia do Pagode, Gang do Samba, Araketu As Meninas e Babado Novo.

“É um cara com a visão pioneira. Nos brindou com a criação da WR, que com certeza mudou a face da indústria musical brasileira. Com certeza, é um legado muito grande”, afirmou Margareth Menezes.

Quem também esteve na cerimônia no cemitério Jardim da Saudade foi a cantora Daniela Mercury, que ressaltou a influência do empresário em sua carreira.

“Salvador não teria se tornado esse templo das artes, nem se profissionalizado dessa maneira. Eu tive a chance de ser contratada por ele, quando eles começaram a WR. Foi o meu primeiro contrato de carreira. Ele, além de ter sido um homem que viu na frente, que teve a percepção dos talentos que haviam na cidade, ele fez uma estrutura de estúdios internacional. Nos deu a chance de fazer discos que ganharam o Brasil, ganharam o mundo. Não só eu como dezenas de artistas baianos”, relatou a cantora.

 Tonho Matéria, que atualmente está à frente da banda Araketu, também foi se despedir do empresário. “Rangel escreveu o nome dele na história da música da Bahia, do Brasil e do mundo. Uma música que começou nos blocos afro, que adentra o trio elétrico, que vai para os comerciais, que vai para os estúdios e que depois se transforma em axé music e depois nessa world music que nós temos”, lembrou.

“Ele sempre foi uma grande pessoa, contribuiu muito. Eu não lembro de ter outra pessoa que tenha contribuído tanto sem ser artista. Ele realmente conseguiu modificar por várias vezes a estrutura musical da Bahia. Conseguiu fazer com que a música fosse lembrada sempre”, afirmou Bell Marques.

“Eu tenho muito o que agradecer a ele porque foram 16 milhões de CDs que nós vendemos, o Tchan, e foi ele que produziu todos os CDs. Ele é o nosso pai do axé. Ele que produziu todos os artistas da Bahia, então, fica uma saudade imensa”, destacou Compadre Washington.

Empresário
Nascido na cidade baiana de Iramaia, Wesley Rangel veio para Salvador em 1967. Cursou Administração de Empresas e, posteriormente, Direito. Ele abriu as portas de seu estúdio para novos artistas, criando uma oportunidade para que alcançassem o grande público e fomentando a cadeia musical no estado.

Criada em 1975, a WR formou, em 1980, uma banda com alguns dos melhores profissionais do período: Luiz Caldas (arranjos, guitarras e vocais), Cesinha (bateria), Carlinhos Marques (baixo e vocal), Alfredo Moura (Teclados e Arranjos), Carlinhos Brown e Tony Mola (Percussão), Silvinha Torres e Paulinho Caldas (vocais). Esse grupo, a partir de 1984, passa a compor a Banda Acordes Verdes, que acompanhou Luiz Caldas na turnê emblemática para o início da axé music, com o disco “Magia” e o sucesso “Fricote”.

Como reconhecimento à sua contribuição para a cultura e para a projeção da música baiana no Brasil e no mundo, em novembro de 2015, a Assembleia Legislativa da Bahia homenageou Wesley Rangel na celebração pelos 30 anos da Axé Music. A homenagem foi proposta pela Comissão de Educação e Cultura da Casa Legislativa. O corpo de Wesley Rangel será cremado às 15h30, no cemitério Jardim da Saudade, em Salvador.

Repercussão
Mais cedo, outros artistas baianos manifestaram pesar após notícia da morte do produtor musical. Leia abaixo:

Luiz Caldas
“Hoje, a Bahia está mais triste. A gente perde Wesley Rangel. Wesley foi um grande amigo, um grande irmão, um grande produtor musical, foi quem me ajudou a criar a axé music. Ele abria a porta do seu estúdio para todo artista que precisava fazer a sua carreira aparecer. Vai fazer uma grande falta. Vai com Deus, Wesley”.

Carlinhos Brown
“Tudo acontece na casa do pai. O pai é acolhedor. O pai é conselheiro. O pai é responsável. O pai é a força. E, por incrível que pareça, o axé leva esse nome de força. O pai do axé partiu para produzir novos sonhos em um lugar desconhecido, mas deixou um legado único. O maior produtor de todos os tempos da Bahia nos criou, nos recriou e nos ensinou mais do que tudo a sermos pessoas do bem, a sermos homens. Meu pai Wesley Rangel, peço que Deus o receba logo e tenho certeza que você será muito acolhido pelo seu coração e pelo tamanho da missão que você desempenhou aqui para todos nós. Só nos resta agradecer. A mim, agradecer muito! Muito obrigado meu professor. Nos encontramos um dia. Até um dia!”.

Ricardo Chaves
“Rangel foi fundamental na vida , na história de uma geração de artistas que começou na música no início da década de 1980. Foi através dos estúdios WR que a carreira de todos nós começou e graças a generosidade de Rangel, a carreira da gente foi pavimentada, cresceu. A orientação dele foi fundamental pra todos nós. Rangel, indiscutivelmente, foi o homem mais importante no cenário musical de toda essa geração e no movimento que veio depois se chamar axé music. Uma perda irreparável e insubstituível na capital baiana”.

Manno Góes
“Antes de tudo, Rangel sempre foi um cara muito querido. Ele possibilitou, através do seu empreendedorismo, através do seu talento, através da sua coragem, dar dignidade à produção musical baiana. Ele é um dos responsáveis diretos pela ascensão da nossa música, da nossa produtividade regional, local. Ele é reponsável direto pela ascensão de vários norme e artistas aqui da nossa terra. Todos nós somos muito gratos a ele e vamos ficar sempre com a lembrança do sorriso gentil e carinhoso do Wesley Rangel”.

Notas de pesar
O secretário municipal da Educação, Guilherme Bellintani, lamentou a morte do produtor cultural Wesley Rangel. Por meio de nota, o secretário ressaltou a importância do empresário no ramo musical. “O trabalho de Wesley Rangel com certeza foi um divisor de águas para o cenário musical baiano. Uma grande perda para os artistas baianos e para a Bahia”, disse.

A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) também lamentou a morte de Wesley Rangel. Por meio de nota oificial, destacou que ele foi um dos grandes incentivadores da música baiana. O órgão transmitiu o seu pesar aos familiares e amigos.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, lamentou a morte do produtor musical. “Se a Bahia hoje é o maior polo musical do Brasil, muito se deve ao trabalho de Wesley Rangel, que sempre abriu seus estúdios para as gravações e apostou em novos talentos”, disse.

G1 Bahia

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