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Xadrez do Pibinho e o futuro desenhado por Guedes e Bolsonaro, por Luis Nassif

XADREZ DO PIBINHO

O Ministro da Economia Paulo Guedes apertou o botão de pânico, quando anunciou ter 15 semanas para “salvar o Brasil”. Empregou pela última vez a retórica das reformas como boia de salvação, típica de economistas sem a mínima noção sobre a gestão de política econômica. E se deu conta de que acabou o prazo batizado pela Escola de Chicago de “teoria do choque”.

Consiste no seguinte:

Peça 1

Sempre que há um choque interno qualquer em um país, há uma desestruturação do sistema político e das formas de organização da sociedade. Por choque entenda-se desde choques econômicos até políticos, como golpes de Estado.

A perda de rumo geral abre espaço para a apresentação de fórmulas mágicas, liberais. A população aceita as perdas decorrentes dessa reforma, na esperança de que abram novas perspectivas.

A eleição de Bolsonaro consistiu no segundo tempo de um choque que começou com o impeachment.
Agora, esse tempo começa a esgotar.

Peça 2 – o funcionamento da economia

Analisando as correlações:

Gastos do governo alimentam a demanda das empresas e famílias, não apenas nos investimentos – que aquecem a cadeia dos fornecedores -, como serviços públicos.

No caso das famílias, os gastos públicos têm impacto no emprego-renda e na economia doméstica. Se a saúde não funciona, as famílias adoecem, por falta de atendimento, ou terão que gastar com atendimento pago.

O mesmo ocorre na educação e outros serviços públicos. Além disso, são fatores que afetam o bem estar das famílias e, portanto, têm consequências políticas.

Os cabeças de planilha, economistas com visão estritamente financeira da economia, sem conhecimento maior sobre como azeitar essa engrenagem, concentram toda sua esperança naquele círculo entre demanda e gastos de empresas: as expectativas.

Seu esquema de trabalho é assim:

O empresário vai investir se tiver expectativa favorável.

O único fator de expectativa que impacta empresário é o equilíbrio fiscal.

A única maneira de conseguir equilíbrio fiscal é através do corte de despesas e de reformas.

Analisam a riqueza do país e dividem entre setor público e privado. E supõe que, retirando o setor público, a riqueza continuará a mesma e será ocupada pelo setor privado. Simples assim. Em qualquer economia de mercado, despesa do setor público significa demanda do setor privado.

Ora, o empresário vai investir se houver demanda no presente e expectativa favorável de demanda no futuro. E essa expectativa não depende apenas da higidez fiscal, mas da certeza de que a economia vai crescer, mais empregos serão gerados, haverá mais renda das famílias para consumo.

Além disso, equilíbrio fiscal depende também do aumento da receita. E aumento da receita depende de crescimento.

Peça 3 – a relação gastos púbico x receita privada

Ora, gasto público impacta positivamente a receita privada e ajuda a gerar emprego, crescimento do PIB e, consequentemente, crescimento da receita fiscal. Ou seja, aumento do gasto público permite atingir o equilíbrio fiscal se o aumento da receita  fiscal, dali decorrente, for maior do que o nível de gastos.

Em outras palavras: se gasto 100 e esse gasto estimula a economia a tal ponto que a receita fiscal aumenta 120, estou no melhor dos mundos.

O desafio consiste em acertar essa medida. Se a despesa crescer de forma desproporcionalmente maior que seu impacto no aumento do PIB – e das receitas fiscais – o caldo entorna. Foi o que ocorreu no festival Guido Mantega de subsídios.

No entanto, se deprimo o gasto público sem nenhuma preocupação com os impactos no setor privado e nas famílias, a economia não cresce e não conseguirei segurar as expectativas dos empresários.

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