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China entra na discussão ‘Rússia vs Ucrânia’ com recado duro aos EUA

Exercícios militares da Russia

A China afirmou aos Estados Unidos que as preocupações de segurança da Rússia a respeito da crise na Ucrânia devem ser levadas a sério.

O alerta foi feito durante uma ligação entre os chefes de diplomacia das duas potências mundiais.

Na conversa, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, também disse ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, que os EUA devem “parar de interferir” nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e “parar de brincar com fogo” em relação a Taiwan.

“As preocupações razoáveis de segurança da Rússia devem ser levadas a sério e resolvidas”, declarou Wang, de acordo com o comunicado divulgado pelo governo chinês.

“A segurança regional não pode ser garantida pelo fortalecimento ou, inclusive, a expansão dos blocos militares”.

O representante de Pequim na ONU, Zhang Jun, foi ainda mais longe e disse abertamente que a China discordava das alegações dos EUA de que a Rússia está ameaçando a paz internacional.

Ele também criticou os Estados Unidos por convocar uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, afirmando que a “diplomacia do megafone” americana “não era propícia” para as negociações.

“Saiam imediatamente da Ucrânia”

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu na quinta-feira (10) aos cidadãos americanos que estão na Ucrânia para que saiam do país devido à ameaça de uma invasão russa.

“Os cidadãos americanos deveriam sair agora. As coisas podem acelerar rapidamente”, declarou Biden durante uma entrevista para a NBC News.

Biden descartou novamente a ideia de enviar soldados à Ucrânia, nem mesmo para ajudar a retirar os cidadãos americanos em caso de invasão.

Isso seria “uma guerra mundial. Quando os americanos e os russos começam a atirar uns nos outros, entramos num mundo muito diferente”, afirmou Biden.

“Ocidente ignora demandas”

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que os Estados Unidos e a Otan (aliança militar ocidental) ignoraram suas demandas para encontrar estabilidade no Leste Europeu e acusou o Ocidente de arriscar uma guerra com a Rússia.

“Estamos analisando as respostas dos EUA e da Otan […], mas está claro que as preocupações da Rússia foram ignoradas”, disse ele, em entrevista coletiva, durante a qual afirmou esperar que o diálogo com o Ocidente continue, para evitar “cenários negativos”.

“Vamos imaginar que a Ucrânia é um membro da Otan e inicie essas operações militares”, disse, em referência a uma tentativa de recuperar a Crimeia anexada. “Devemos ir à guerra contra a Otan? Alguém já pensou nisso? Aparentemente não.”

O Kremlin emitiu um ultimato exigindo que a Otan, que se expandiu a leste depois da Guerra Fria, retirasse suas forças de países ex-comunistas absorvidos desde 1997 e se comprometesse a nunca deixar a Ucrânia entrar no clube.

China, mais uma vez

A China, que se manifestou com firmeza nos últimos dias, já deixou claro que compartilha das preocupações de Moscou.

O presidente russo esteve em Pequim para acompanhar a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno a convite do líder chinês Xi Jinping. Os dois líderes se reuniram antes da abertura do evento.

Em um comunicado divulgado após a reunião, os dois países afirmaram que “a amizade entre [Rússia e China] não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação” e que pretendem “combater a interferência de forças externas em assuntos internos de países soberanos”.

A China é o maior parceiro comercial da Rússia há anos e atingiu no ano passado um novo recorde de US$147 bilhões em comércio bilateral.

Os dois países também assinaram um acordo para estreitar seus laços militares no ano passado e intensificaram os exercícios militares conjuntos.

Presidentes da Rússia e China

A origem do problema

O principal impasse entre a Rússia e o Ocidente em torno da Ucrânia diz respeito aos pedidos da Rússia para que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não se expanda para o Leste da Europa e que não incorpore a Ucrânia.

Como as potências ocidentais não parecem dispostas a ceder às garantias de segurança, resta saber até que ponto Moscou e o Ocidente vão conseguir manter as apostas altas para evitar um conflito.

Para a pesquisadora-sênior do Instituto de Estudos dos EUA e Canadá da Academia de Ciências da Rússia Alexandra Filippenko, as garantias de segurança que Moscou exige da Otan estão no centro da atual tensão em torno da Ucrânia.

Ela afirmou que as partes estão menos interessadas em um conflito armado e mais em demarcar certas fronteiras de segurança na Europa, mas ela destaca que é evidente que o Ocidente não tem interesse em ceder às exigências russas e não irá fazê-lo.

No que diz respeito à prontidão dos EUA de intervir e agir no território ucraniano, considerando um cenário mais negativo, a pesquisadora aponta que isso seria feito por tropas europeias, tendo em vista que os cidadãos norte-americanos “acabaram de observar o fim [da presença] no Afeganistão e seriam categoricamente contra o envio de soldados americanos de novo para algum lugar longe para defender os interesses de alguém”.

ANSA/RPP

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