Documentos da inteligência dos Estados Unidos, que acabam de ser vazados, sugerem que a Coreia do Norte continua investindo no seu programa de enriquecimento nuclear.
Essas informações levantam dúvidas sobre a sinceridade do país asiático durante recentes negociações com os americanos em que se comprometeu com sua desnuclearização.
Segundo a imprensa americana, a unidade de enriquecimento nuclear de Yongbyon, a única reconhecida oficialmente, estaria sendo aprimorada. Além disso, o país estaria intensificando o enriquecimento de urânio em duas ou mais unidades secretas, localizadas nas proximidades de Yongbyon.
A Coreia do Norte ainda estaria produzindo veículos de lançamento para seus mísseis. E teria ampliado a produção de mísseis baseados em combustíveis sólidos, que são mais fáceis de transportar e de lançar.
Mas quão confiáveis são essas informações? Elas são baseadas em diversas fontes da inteligência americana, mantidas em sigilo, bem como em um estudo feito a partir de imagens de satélite da área de Yongbyon. Especialistas em Coreia do Norte consideraram que as informações são confiáveis.
Quão sérias são as informações?
“Nenhuma dessas atividades seria uma violação dos acordos feitos no encontro entre o presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un”, afirma Vipin Narang, professor de ciência politica do MIT e especialista em proliferação nuclear.
Nos acordos com os EUA, a Coreia do Norte concordou apenas em buscar a desnuclearização da península coreana. Os detalhes de como isso ocorreria na prática ainda seriam definidos pelos dois lados.
“Isso (a desnuclearização) nunca seria unilateral e imediata”, diz Narang. “Então, Kim Jong-un está livre para continuar a operar nos locais existentes.”
Mesmo assim, muito viram as informações de que a Coreia do Norte estaria mantendo suas atividades nucleares como um balde de água fria nas negociações e levantam dúvidas sobre as reais intenções do país.
“O cenário atual é de que o programa nuclear da Coreia do Norte continua como o indicado por Kim Jong-un em seu discurso de janeiro, quando ele demandou a produção contínua de ogivas e mísseis balísticos”, explica Ankit Panda, editor da revista The Diplomat.
Trump sabia dessas informações?
As informações da inteligência americana, provavelmente, não são novas. É possível que Trump tenha sido informado sobre isso antes da rodada de conversas com a Coreia do Norte.
Então, por que as informações foram vazadas para a mídia apenas agora? “Parece ser uma tentativa de trazer essa notícia para a esfera pública”, opina Abrahamian.
Segundo especialistas, há duas hipóteses. Primeiro, o vazamento de informações teria como objetivo “conter a narrativa oficial da Casa Branca de que a missão foi concluída e que a Coreia do Norte deixou de ser uma ameaça nuclear”, diz Narang.
Com isso, Trump pode ser constrangido “a não declarar uma vitória que ele ainda não alcançou”, concorda Abrahamian. “Isso aumenta a pressão para que Trump não pegue leve com os norte-coreanos.”
A segunda hipótese é de que o vazamento teria sido coordenado pelo próprio governo Trump para pressionar a Coreia do Norte. Ao revelar que a inteligência americana teria tais informações, os americanos podem pressionar os norte-coreanos a admitir que possuem locais de operação secretos.
A pressão vai funcionar?
A grande questão é se esse tipo de pressão sobre a Coreia do Norte, após o encontro com os Estados Unidos, pode ter algum efeito sobre Kim Jong-un.
As informações de que a Coreia do Norte continua com seu programa nuclear sugerem que o país não deve abandonar suas instalações nucleares nem sua produção de armas.
“Pode ser que a Coreia do Norte esteja calculando que a China não está mais fazendo pressão máxima na campanha de sanções contra o país. E que os Estados Unidos não podem sustentar isso sem a China”, alerta Narang.
“Kim Jong-un pode dizer: ‘eu fiz o que precisava para reduzir a campanha de sanções'”.
Andreas Illmer