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Eleições no Chile para escolher sucessor de Michelle Bachelet

Os candidatos: o conservador Sebastián Piñera (esq.) e o progressista Alejandro Guillier (dir.). EFE/Elvis González

As mais de 43 mil mesas de votação em 1.963 colégios eleitorais. abriram no país às 9h e devem fechar às 19h (horário de Brasília). O resultado deverá ser conhecido na noite deste domingo.

A mídia chilena registra uma série de atrasos na instalação das mesas nesta manhã. No estádio Nacional, em Santiago, que também serve de local de votação, 35 das 197 mesas não estavam instaladas cerca de uma hora após a abertura dos portões, segundo o jornal “La Tercera”. Não há, contudo, relato de tumultos.

A dispersão do voto no primeiro turno de 19 de novembro, quando o partido de esquerda radical Frente Ampla surpreendeu e virou a terceira força política do país, dificulta a vitória de Piñera e transforma numa incógnita o resultado de Guillier.

O ex-presidente, que governou o Chile de 2010 a 2014, conseguiu 36,6% dos votos (muito abaixo do esperado), contra 22% do senador Guillier e 20% da candidata da esquerda radical, Beatriz Sánchez.

A última pesquisa eleitoral Cadem, divulgada no dia de 1º de dezembro, apontava Piñera com 40% das intenções de voto e Guillier com 38,6%, um empate técnico. Outros 21,4% dos entrevistados indicaram que não sabiam em quem votar, votariam em branco ou nulo ou não iriam às urnas. O Chile tem um prazo de 15 dias em que não podem ser divulgadas pesquisas antes da eleição.

No Chile, o voto não é obrigatório. No primeiro turno de novembro, o comparecimento às urnas foi de quase metade dos mais de 14 milhões de eleitores. O índice de participação neste domingo será vital para a disputa acirrada.

A presidente chilena, Michelle Bachelet, pediu neste domingo que os eleitores compareçam às urnas. “Meu único comentário seria fazer um chamado para que as pessoas votem. Que se some, que não se subtraia. Que ninguém tome decisões por eles”, declarou em vídeo postado nas redes sociais.

Piñera depositou seu voto pouco antes das 10h, no horário local. Mais cedo, ele havia divulgado uma foto tomando café da manhã com a família, agradecendo o apoio dos eleitores durante a campanha.

Guillier também se deixou fotografar tomando café em sua casa, em Antofagasta e votou por volta de 10h30, no horário local. Em sua conta do Twitter, a equipe do candidato postou agradecimentos pelas vitórias parciais nos postos de votação de outros países, como Nova Zelândia e Austrália, onde os votos dos chilenos expatriados já foram contados. Ele também agradeceu ao apoio do líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, que o desejou boa sorte.

“Provavelmente, a eleição será definida por menos de 200 mil votos de diferença”, prevê o analistas político da Universidade de Santiago, Marcelo Mella, em entrevista à agência de notícias France Presse. Para Mauricio Morales, diretor do Centro de Análises da Universidade de Talca, estas eleições estão cercadas de “um dos maiores graus de incerteza desde o retorno da democracia”.

Independente do vencedor, a eleição deste domingo torna iminente algo que há anos não se via na América Latina: a ausência total de presidentes mulheres. Michelle Bachelet sairá de cena como a última presidente mulher da região.

O resultado dependerá, sobretudo, do que decidirem os eleitores da Frente Ampla, que deu liberdade de decisão a seus seguidores, apesar de Sánchez ter anunciado que votará em Guillier.

O fantasma da derrota começou a rondar a coalizão de direita de Piñera ante a possibilidade de uma união de todas as forças centro-esquerda – que disputou o primeiro turno fragmentada em seis candidaturas.

Piñera: ‘governante da unidade’

Piñera prometeu na quinta-feira, em seu último comício, ser o governante da “unidade”. “Vou ser o presidente da unidade, da mudança, do progresso, do futuro e da esperança”, disse Piñera.

Afirmou ainda que os chilenos querem “mudanças profundas, mas bem feitas, baseadas no diálogo e não no confronto”.

O ex-presidente, que encerrou a campanha em um teatro no centro de Santiago, diante de cerca de 3 mil pessoas, recebeu o apoio de vários ex-mandatários, como o espanhol José María Aznar, os colombianos Andrés Pastrana e Álvaro Uribe, e o mexicano Felipe Calderón.

Piñera pediu o voto dos menos favorecidos e da classe média para colocar em marcha seu lema de campanha: “Tempos melhores”, com mais empregos, salários e melhores aposentadorias, além do combate ao crime e a promoção da saúde para todos.

“Se sente, se sente, Piñera presidente”, gritava o público, majoritariamente feminino, procedente de muitos bairros periféricos de Santiago.

Se vencer, Piñera será o único político de direita a governar o Chile em duas ocasiões, ao final de um longo caminho que sempre trilhou junto ao manejo de seus negócios, que o levaram a ter hoje uma fortuna avaliada em 2,7 bilhões de dólares, segundo a revista Forbes.

Guillier: ‘consolidar o caminho’

Já Alejandro Guillier encerrou sua campanha com um comício em Santiago, ao lado do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica (2010-1025). Guillier foi durante três décadas repórter, editor chefe e apresentador dos principais telejornais do país, que o tornaram um dos jornalistas de maior credibilidade do Chile.

Com o Palácio de la Moneda como pano de fundo, ele discursou para cerca de 5 mil pessoas. “A história me colocou em um lugar que não procurei, mas aceito este desafio. Quero ser presidente do Chile”, afirmou Guillier para seus partidários.

“O ex-presidente Piñera sempre falou muito bem do Uruguai e reconheço isto, mas estou com o mundo progressista”, declarou Mujica, 82 anos, em referência ao candidato da oposição.

“A presença de Pepe Mujica é uma lição de humildade, de onde queremos ir. Sua presença nos vitaliza e nos ajuda a unir os progressistas”.

“Michelle Bachelet começou o caminho e precisamos consolidar este caminho, avançar em novos temas, em novos desafios”.

Guillier acusou Piñera de ser o “retrocesso” para o Chile ao beneficiar as elites chilenas. “Este domingo podemos dizer ao senhor Sebastián Piñera que ele representa o passado, tudo o que queremos deixar para trás”.

A atual presidente Michelle Bachelet evitou dar um apoio explícito a Guillier, mas defendeu, fortemente, a continuidade das reformas sociais empreendidas por ela.

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