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Eleições nos EUA serão plebiscito sobre Donald Trump

Presidente dos EUA, Donald Trump, faz pronunciamento para eleitores em Chattanooga, Tennessee, no domingo (4/11) — Foto: Jonathan Ernst/ Reuters

A campanha transformou a eleição de hoje nos Estados Unidos num plebiscito sobre o governo Donald Trump. Num país bem mais polarizado que o Brasil, sairá vitorioso não o partido que reunir maior simpatia, mas aquele que despertar mais antipatia pelo adversário.

Para democratas e republicanos, a vitória tem sentidos diferentes. O cenário básico, como expliquei ontem, é que os republicanos mantenham a maioria no Senado (por um ou dois votos), percam a maioria na Câmara e que os democratas vençam parcela substancial dos governos estaduais (pelo menos dez a mais do que têm hoje).

Qualquer desvio que fuja desse roteiro – os democratas levarem o Senado ou os republicanos manterem maioria na Câmara – poderá ser considerado derrota ou vitória pessoal de Trump. Ele chamou a disputa para si. Fez comícios em vários estados e distritos onde a disputa está apertada. Procurou ditar a agenda da campanha em torno de seus temas prediletos: imigração e economia.

Tome o estado de Arizona, onde a democrata Kyrsten Sinema concorre ao Senado contra a republicana Martha McSally. O Arizona faz fronteira com o México e aprovou anos atrás as leis mais duras do país para barrar imigrantes. Ao mesmo tempo, a população latina tem crescido. Enquanto McSally insistiu no combate à imigração, Sinema defendeu a manutenção da reforma da saúde do governo Obama, ameaçada por Trump. As pesquisas dão ligeiro favoritismo a Sinema.

Situação distinta vive Indiana, no Meio Oeste, cuja indústria tem sido beneficiada pelas tarifas do aço e pelo protecionismo de Trump. Lá é o democrata Joe Donelly que corre o risco de perder sua cadeira no Senado para o republicano Mike Braun. Depois de apoiar a primeira indicação de Trump à Suprema Corte, Donelly votou contra a confirmação do juiz conservador Brett Kavanaugh. Enfrenta resistência até em sindicatos que sempre garantiram votos aos democratas. Ainda assim, é dado como favorito, por margem pequena.

A economia é um tema que tem favorecido candidatos republicanos também nas disputas por cadeiras na Câmara. Mas a imigração não. Os discursos inflamados de Trump mobilizam a base fiel, mas sua ideia de suspender por decreto o direito à cidadania para filhos de imigrantes nascidos em solo americano despertou revolta. Redes de TV foram obrigadas a cancelar um anúncio retratando um imigrante criminoso, considerado preconceituoso. Em vários estados, a população está mais preocupada em manter seus planos de saúde do que com a invasão de produtos chineses ou imigrantes mexicanos.

O Partido Democrata leva ainda outra vantagem: levantou mais recursos para a campanha. De acordo com o projeto OpenSecrets, desde as primárias e eleições especiais, os 1507 candidatos democratas à Câmara arrecadaram US$ 923 milhões. Os 1217 republicanos, US$ 612 milhões. Na campanha ao Senado, a disparidade é maior: US$ 540 milhões para 154 candidatos democratas; US$ 396 milhões para 295 republicanos.

Com o vento favorável à oposição, típico nas eleições de meio de mandato, não é impossível que os democratas superem as expectativas e obtenham alguma vitória improvável nas disputas pelo Senado, em estados como Tennessee, Texas ou mesmo Dakota do Norte, onde a senadora Heidi Heikamp (outro voto contrário a Kavanaugh) concorre à reeleição. Mas seria supreendente que vencessem todas ao mesmo tempo – e isso é necessário para conquistar a maioria.

Na Câmara, a situação é mais complexa. O redesenho de distritos em 2010 tornou o mapa bem mais favorável aos republicanos. Apesar disso, a impopularidade de Trump dá vantagem aos democratas na disputa pela maioria. Mas não é uma vantagem tão sólida quanto parece. Se o comparecimento de jovens e minorias às urnas não se materializar na proporção desejada, a decepção será semelhante à da derrota de Hillary Clinton em 2016.

Tanto o cenário em que republicanos mantêm maioria nas duas Casas Legislativas quanto aquele em que os democratas conquistam as duas são possíveis, embora ambos seja improváveis (o primeiro menos que o segundo). O único que pode ser descartado mesmo é os democratas conquistarem o Senado, mas não a Câmara. Seria uma surpresa ainda maior do que foi a vitória de Trump.

Hélio Gurovitz

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