Cinco meses após a vitória de Donald Trump – que se elegeu presidente dos Estados Unidos baseando-se em um discurso xenófobo e protecionista –, a Holanda vai às urnas nesta quarta-feira (15/03) enquanto assiste, no próprio país, ao crescimento da extrema-direita, que defende posições semelhantes à do mandatário norte-americano.
O pleito é visto como o primeiro teste da ultradireita neste ano.
Um resultado favorável ao partido representante deste campo, o PVV (Partido para a Liberdade), do líder Geert Wilders, pode indicar o caminho que França e Alemanha seguirão nas eleições dos próximos meses.
Entre os franceses, Marine Le Pen aparece em primeiro ou segundo lugar, dependendo da pesquisa; já entre os alemães, o AfD (Alternativa para Alemanha) deve se consolidar como terceira força política.
O partido de Wilders liderava as intenções de voto até a semana passada, mas foi ultrapassado pelo VVD (Partido Popular para Liberdade e a Democracia), do atual premiê Mark Rutte.
Nesta terça-feira (14/03), véspera da eleição, o PVV aparece disputando o segundo lugar com o CDA (Apelo Democrata-Cristão), de centro-direita, e o centro-esquerdista D66 (Democratas 66).
O que Wilders e o PVV defendem?
Geert Wilders resume o plano de seu partido em uma frase: “ao invés de financiar o mundo inteiro e as pessoas que não queremos aqui, vamos gastar nosso dinheiro nos cidadãos holandeses comuns”. Para o PVV e o político, “milhões de cidadãos holandeses já se cansaram da islamização do nosso país.
Chega de imigração em massa e asilo, terror, violência e insegurança”.
O candidato propõe interromper o recebimento de asilados e imigrantes de países islâmicos, “fechando as fronteiras” – em linha com sua posição anti-União Europeia.
Wilders também quer proibir o uso de véus islâmicos no serviço público, prender preventivamente “muçulmanos radicais”, fechar todas as mesquitas e escolas islâmicas e banir o Corão da Holanda.
Ele já disse que gostaria de tirar do país “a ralé marroquina, que torna as nossas ruas perigosas”. No final de 2016, o político foi condenado por declarações preconceituosas contra a comunidade do país africano na Holanda.
Uma das justificativas de Wilders para ter estas posições é o que ele classifica de “ameaça” aos valores do país. Em entrevista ao jornal USA Today em fevereiro deste ano, o político disse que “os valores holandeses são baseados no cristianismo, no judaísmo, no humanismo”.
“Islã e liberdade não são compatíveis”, afirmou.
Na mesma entrevista, Wilders disse que não “voltaria para a garrafa” caso perdesse a eleição, e chamou de “primavera patriótica” seu crescimento na política holandesa.
“As pessoas estão cheias da combinação de imigração em massa, islamização e medidas de austeridade que fazem com que nós cortemos aposentadorias e recursos para saúde e para os idosos enquanto damos dinheiro à Grécia e à zona do euro.”
O candidato defende a saída da Holanda da União Europeia, a exemplo do Reino Unido, em um “Nexit” (“Ne” vem de “Nederland”, nome do país em holandês).
O principal oponente de Wilders é Rutte, o atual premiê, do VVD. Em 2010, o mandatário inclusive precisou do PVV para governar, em uma coalizão finalizada em 2012 após saída abrupta dos eurocéticos.
O PVV vinha liderando as pesquisas até meados de fevereiro, quando o partido do premiê Rutte passou à frente. Desde então, nos números médios publicados pelo site Peilingwijzer (Indicador Holandês de Pesquisa), a diferença entre os dois vem aumentando.
Os institutos de pesquisa estimam o VVD conseguindo entre 23 e 27 assentos; o PVV, entre 19 e 23; o CDA, entre 18 e 20; o D66, entre 18 e 20; a Esquerda Verde, entre 15 e 17; o Partido Socialista, entre 15 e 17; e o PvdA (Partido para o Trabalho), de centro-esquerda, de 11 a 13 cadeiras. O Parlamento tem 150 assentos.
EFE