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Guerra ao imperialismo e ao coronavírus na América Latina

Há alguns meses nenhum de nós imaginava que surgiria um novo tipo de coronavírus que geraria uma pandemia e uma crise internacional de enormes proporções, que nos impactaria tão fortemente.

Enquanto a epidemia somente acontecia na China, no início deste ano, a maioria de nós duvidava que chegaríamos a esse ponto, mas a realidade foi simplesmente implacável.

No América Latina somente começamos a nos dar conta da gravidade da situação nas últimas três semanas, quando a ampla maioria dos países da região começou a adotar o isolamento social como uma das principais formas de prevenção no avanço da doença.

Desde então, muitas forças populares têm feito grandes esforços de sistematizar o que está em jogo internacionalmente e nos seus países.

Têm sido elaborados programas populares para cobrar ações dos governos e debatidas ações práticas de solidariedade entre os povos, sempre com a premissa básica de que as vidas humanas são mais importantes que o capital.

A produção de conteúdo tem sido enorme e o nosso desafio maior tem sido selecionar o que ler, assistir e participar através das telas dos nossos celulares, computadores e televisores.

Neste sentido, pretendo contribuir na sistematização do que está em jogo nessa pandemia, sob uma perspectiva dos interesses dos povos latino-americanos que combatem o imperialismo estadunidense.

Primeiramente, quero trazer à tona como a pandemia do covid-19 está impactando a ordem internacional que, vale lembrar, já vinha se alterando após a crise econômica de 2008, passando cada vez mais de uma ordem unipolar – com hegemonia econômica, política e militar dos EUA – para uma ordem multipolar, onde principalmente a China e a Rússia, se destacam como novas potências no sistema internacional.

Está ficando cada vez mais evidente que, durante a pandemia, a China vem assumindo um papel muito mais destacado do que tinha antes, tanto no âmbito econômico e comercial quanto no aspecto político e ideológico.

Ainda é difícil projetar cenários do desfecho desse processo, no entanto, é inegável que o governo chinês tem sido aplaudido pelo mundo todo pela sua capacidade, eficácia e velocidade em enfrentar o avanço da epidemia na China – garantindo as medidas de isolamento social, construindo hospitais, fabricando testes e insumos hospitalares, qualificando profissionais e investindo em ciência e tecnologia.

Ademais, chama a atenção o fato do governo chinês, em especial suas representações diplomáticas, estarem demonstrando uma postura muita mais ativa e firme, se contrapondo às diversas manifestações racistas e oportunistas contra eles por parte de políticos de direita, tal como ocorreu no Brasil.

Por outro lado, os EUA e o governo de Donald Trump, tem tido uma postura vacilante em relação a pandemia, desacreditando inicialmente os impactos da doença sobre o país até chegar ao ponto de hoje se tornar o novo epicentro da doença, em que o governo não tem mais como negar tal situação e as recomendações da OMS.

Nos Estados Unidos não há um sistema universal público e gratuito de saúde, por isso os trabalhadores, os imigrantes e os setores mais pobres já são perversamente afetados por esse sistema.

Mas parece que o governo de Trump, ao invés de se dedicar às questões que afligem o povo estadunidense na epidemia, resolveu tirar proveito dessa situação para desgastar ainda mais seu principal inimigo na América Latina: o governo bolivariano de Nicolás Maduro.

Esse é o segundo ponto que quero destacar, como a atual crise impacta a América Latina, e sobretudo os povos e países que, antes da pandemia já eram o alvo principal de ataque do imperialismo estadunidense e dos governos de direita subordinados à Trump.

Nos últimos quinze dias, os EUA e seus aliados promoveram e apoiaram uma série de ações contra a Venezuela. A ofensiva começou com a absurda negação do FMI de conceder um empréstimo à Venezuela de um fundo criado especificamente para combater a pandemia.

Em seguida, assistimos o Departamento de Justiça dos EUA desempenhar um papel deplorável (no estilo velho oeste) oferecendo uma recompensa milionária pela entrega de Maduro e outras lideranças de seu governo.

Dias depois, o vice-presidente dos EUA apresentou publicamente um suposto “plano de transição democrática” para tirar Maduro do poder. E, mais recentemente, os EUA moveram as tropas militares do Comando Sul para o mar do Caribe, próximo à fronteira da Colômbia e da Venezuela.

Essa situação nos indigna profundamente, pois enquanto que o mundo se preocupa em como enfrentar uma crise sanitária internacional sem precedentes, enquanto vários países, como a Itália e a Espanha, enterram centenas de mortos diariamente, o governo de Trump se dedique a uma nova campanha de ataques ao governo de Maduro.

Paola Estrada

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