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Iraque tem segundo dia de calma.

Manifestantes se reúnem em protesto durante toque de recolher, em Bagdá, no Iraque, na noite de quinta-feira (3) — Foto: Reuters/Thaier Al-Sudani

A calma prevalece pelo 2º dia consecutivo no Iraque, que continua praticamente sem internet nesta quarta-feira (9). Porém, os Estados Unidos pediram a Bagdá que “preste contas” após as mais de 100 mortes registradas durante a repressão do movimento sem precedentes de contestação social que atingiu o país nos últimos dias.

Em Bagdá, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, a vida parece voltar ao normal, com enormes congestionamentos e as escolas recebendo seus alunos.

Manifestantes se reúnem em protesto durante toque de recolher, em Bagdá, no Iraque, na noite de quinta-feira (3) — Foto: Reuters/Thaier Al-Sudani
Manifestantes se reúnem em protesto durante toque de recolher, em Bagdá, no Iraque, na noite de quinta-feira (3) — Foto: Reuters/Thaier Al-Sudani

Mas, enquanto as repartições públicas e o comércio reabriram, o acesso às redes sociais permanece impossível. O corte no serviço de internet, que atinge três quartos do país, foi uma medida do governo para evitar a mobilização de manifestantes.

“Esta falta de conexão imposta pelo Estado na maioria das regiões limita gravemente a cobertura da mídia e transparência da crise”, denunciou o site especializado Netblocks.

As autoridades não comentaram o problema.

Onda de protestos

Em 1º de outubro, o Iraque entrou em uma espiral de violência: manifestações aparentemente espontâneas foram às ruas para reclamar da corrupção, do desemprego e dos péssimos serviços públicos em um país rico em petróleo, onde mais de uma em cada cinco pessoas vive abaixo da linha de pobreza.

Os protestos, que não tinham políticos ou religiosos como lideranças, foram reprimidos violentamente. Na madrugada de domingo (6), cenas de caos tomaram Sadr City, reduto em Bagdá d influente líder xiita Moqtada Sadr, que pediu a renúncia do governo.

Ativistas acusaram as forças de ordem de atirar diretamente contra os manifestantes. Porém, as autoridades disseram que “atiradores não identificados” foram os responsáveis pelos disparos.

O Exército reconheceu o “uso excessivo da força” apenas durante a noite de domingo, quando pelo menos 13 manifestantes morreram.

O balanço oficial da semana de violência que atingiu Bagdá e o sul do Iraque indica que, além dos mais de 100 mortos, outras 6 mil pessoas ficaram feridas.

Manifestante usa bandeira nacional iraquiana como máscara durante protesto em Bagdá, no Iraque  — Foto: Ahmad Al-Rubaye / AFP
Manifestante usa bandeira nacional iraquiana como máscara durante protesto em Bagdá, no Iraque — Foto: Ahmad Al-Rubaye / AFP

Crise política

Diante da violência, o movimento social degenerou em uma crise política.

Em um país dividido entre seus dois principais aliados – o Irã e os Estados Unidos – onde os líderes se acusam mutuamente de lealdade às potências estrangeiras, o presidente Barham Saleh apelou aos “filhos da mesma nação”.

Ele decretou um “diálogo nacional” que, por enquanto, deu origem a uma série de reuniões entre parlamentares, bem como entre líderes governamentais e tribais e partidos políticos.

Os manifestantes não responderam ao chamado de figuras políticas ou religiosas conhecidas.

O governo e o parlamento já anunciaram medidas sociais para acalmar os manifestantes, que reclamam da corrupção, do desemprego e dos péssimos serviços públicos em um país rico em petróleo, onde mais de uma em cada cinco pessoas vive abaixo da linha de pobreza.

Na terça à noite, a diplomacia americana anunciou que o secretário de Estado Mike Pompeo havia pedido ao governo iraquiano “contenção máxima”. “Aqueles que violaram os direitos humanos deverão ser responsabilizados”, acrescentou.

Manifestantes fecham ruas e fazem piquetes em Bagdá, capital do Iraque, nesta quarta-feira (2) — Foto: Hadi Mizban/AP Photo
Manifestantes fecham ruas e fazem piquetes em Bagdá, capital do Iraque, nesta quarta-feira (2) — Foto: Hadi Mizban/AP Photo

O sul do Iraque, igualmente atingido pela violência, também se prepara para comemorar em 20 de outubro o Arbain, a maior peregrinação do islamismo xiita do mundo, que reúne milhões de visitantes, principalmente do Iraque e do Irã.

A maioria converge a pé de Basra, na ponta sul do Iraque, ou de Bagdá, para o túmulo do imã Hussein em Kerbala, 100 km ao sul da capital.

Comentando o recentemente a contestação em seu vizinho, o Irã denunciou uma “conspiração” de “inimigos” da República Islâmica para semear a discórdia entre Teerã e Bagdá.

AFP

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