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Lisboa ganha um memorial em homenagem às vítimas da escravidão

O capital portuguesa foi o palco principal deste período trágico da história. Durante quatro séculos, Portugal teve um papel central no tráfico e contribuiu para a deportação de seis milhões de escravos, mas até agora, não existia nenhum monumento na cidade que olhasse para este passado.
A proposta da criação de um Memorial às Vítimas da Escravidão foi feita pela Associação portuguesa de afrodescendentes. O projeto foi um dos vencedores do Orçamento Participativo de Lisboa. O monumento deve ser construído perto do Campo das Cebolas, à beira do Tejo, local onde os escravos que chegavam a Portugal eram vendidos.
“Achamos fundamental que o memorial fosse erguido em um local de destaque na cidade de Lisboa. É um lugar extremamente nobre, com grande visibilidade, de fácil acesso, que permite visitas de grupos escolares e turistas. É um local simbólico, de grande importância”, explica Beatriz Gomes Dias, presidente da Associação.
Segundo ela, estava na hora de promover o debate sobre questão. “O projeto surgiu da necessidade de trazer para o espaço público alguns aspectos da nossa história coletiva que são poucos discutidos”, disse. “Outros países como a Holanda, a França e os Estados Unidos têm memoriais para prestar homenagem às pessoas escravizadas e de alguma forma reconhecer o papel que esses países tiveram nesse comércio, caso de Portugal”, explica Beatriz.
Para o brasileiro afrodescendente Alex de Lima, que mora em Lisboa há mais de dez anos, o memorial era o que faltava na cidade. “É uma iniciativa maravilhosa que o Estado e a sociedade civil deveriam apoiar, levando em conta toda a história da África com Portugal”, diz. “Como afrodescendente, filho de pai português e mãe brasileira, estou em casa e acredito que faltava isso na cidade”, afirma o brasileiro.
A associação pretende, desta maneira, contribuir para o debate racial. “A vitória deste projeto nos dá uma grande esperança. Há muitas pessoas que querem discutir o papel que Portugal teve no comércio de pessoas escravizadas, discutir o racismo e pensar em formas de superar o racismo”, diz a representante.
Um memorial para lembrar o passado

Alexander de Oliveira, carioca que mora há cerca de dois anos em Lisboa, considera o memorial como uma homenagem a todos os afrodescendentes. “Todo monumento tem o objetivo de resgatar alguma coisa do passado. Este memorial servirá para nos lembrar que não devemos repetir os mesmos erros”, declara.

Mamadou Ba, da organização SOS Racismo, acredita que o Memorial permitirá que Portugal olhe para seu passado e pense no seu presente e futuro. “A presentação de propostas concretas por parte das comunidades negras e a possibilidade dessas propostas vingarem no espaço político conjugam fatores que, finalmente, abrem caminho para uma outra forma de ver a presença dos negros no espaço público”, afirma.

RFI

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