O presidente da França, Emmanuel Macron, expressou nesta sexta-feira (5) ao presidente turco preocupação com o destino de estudantes, professores e jornalistas na Turquia, e defendeu que países democráticos têm que respeitar o Estado de Direito em sua luta contra o terrorismo.
Depois de conversar com Tayyip Erdogan no palácio presidencial do Eliseu, Macron disse que os dois discordam na maneira como veem os direitos humanos.
“Nossas democracias devem ser fortes ao enfrentar o terrorismo… mas ao mesmo tempo nossas democracias devem proteger completamente o Estado de Direito”, disse Macron em uma coletiva de imprensa.
Uma onda de repressão desencadeada na Turquia após um golpe de Estado fracassado em julho de 2016 provocou críticas de ativistas de direitos humanos e também da União Europeia, que supervisiona o processo de filiação de Ancara ao bloco, atualmente paralisado.
Macron disse ter abordado os casos de jornalistas específicos e membros da Universidade Galatasaray com Erdogan, mas não quis dizer quais.
Erdogan defendeu a repressão argumentando que alguns jornalistas incentivam o terrorismo com seus escritos, comparando-os a jardineiros que cultivam plantas.
“Estes jardineiros são aquelas pessoas vistas como pensadores. Eles regam… a partir de suas colunas em jornais”, disse Erdogan. “E um dia você descobre que aquelas pessoas aparecem diante de você como um terrorista.”
As relações entre Erdogan e a UE se degradaram consideravelmente desde a tentativa de golpe frustrado na Turquia de julho de 2016, à qual o governo do presidente islâmico conservador respondeu com milhares de detenções e expurgos.
Turquia na UE
Erdogan também disse após a reunião que a Turquia está “cansada” de esperar uma eventual adesão à União Europeia (UE). “Não podemos implorar permanentemente por uma entrada na UE”, disse Erdogan, durante coletiva de imprensa conjunta com Macron.
O presidente francês ressaltou, por sua vez, que as “recentes evoluções” na Turquia sobre direitos humanos excluem qualquer “avanço” nas negociações de adesão desse país ao bloco comunitário, que começaram há várias décadas.
“Devemos sair da hipocrisia de pensar que é possível uma progressão natural para a abertura de novos capítulos (de adesão). Não é verdade”, afirmou Macron, que disse ter havido uma “discussão muito franca” sobre este tema com Erdogan.
O presidente francês propôs, a despeito de uma adesão, uma “associação” entre a UE e a Turquia, para preservar a “ancoragem” deste país na Europa.
“Meu desejo é que trabalhemos mais juntos, que a Turquia continue ancorada, atada à Europa, mas penso que o processo (de adesão) não será desbloqueado nos próximos anos”, admitiu Macron.
E acrescentou que, em sua avaliação, a União Europeia “nem sempre agiu bem com a Turquia porque lhe fez pensar que as coisas eram possíveis quando na verdade não não eram totalmente”.
G1