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Maduro faz apelo para que Interpol capture no Brasil ex-procuradora-geral da Venezuela

Luisa Ortega e o procurador-geral, Rodrigo Janot, concedem entrevista coletiva em Brasília EVARISTO SA AFP

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez um apelo para que a Interpol capture no Brasil a ex-procuradora-geral . O casal chegou a Brasília nesta terça-feira para que Ortega participe de uma reunião de procuradores do Mercosul. Depois, ela deve retornar à Colômbia onde conseguiu asilo político.

“Espero que esses delinquentes sejam entregues à justiça venezuelana”, disse o mandatário durante longa conversa com a imprensa, que teve links com as principais embaixadas venezuelanas no mundo. Foi um evento curioso, porque também fizeram perguntas os embaixadores da Venezuela, líderes sindicais e advogados defensores da causa das esquerdas nos Estados Unidos. Cada um em seu momento deu oportunidade para Maduro atacar o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos – a quem acusou de liderar agressões contra seu Governo -, o da Argentina, Mauricio Macri – a quem chamou de “covarde” -, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro – a quem se referiu como “lixo”-, e “os governos golpistas do Paraguai e do Brasil”, que nos últimos dias concordaram com a expulsão da Venezuela do Mercosul.

O asilo a Ortega foi oferecido publicamente por Juan Manuel Santos horas antes da chegada dela à Colômbia, por meio de um tuíte: “A procuradora Luisa Ortega se encontra sob a proteção do Governo colombiano. Se ela pedir asilo, lhe daremos”. Segundo veículos de comunicação locais, os dois se reuniram pessoalmente na Casa de Nariño (sede da Presidência), onde Ortega expôs os motivos pelos quais havia fugido da Venezuela. O novo procurador-geral venezuelano,Tarek Saab, já havia dito que “Bogotá se transformou em centro da conspiração contra a democracia e a paz na Venezuela. Vergonha histórica do ‘Caim da América’”.

Na entrevista, Maduro também se referiu às relações com os Estados Unidos e reconheceu que se encontram “em seu pior momento”. Acusou Washington de ordenar “uma perseguição financeira” contra seu país e previu que o Governo de Donald Trump vai tomar medidas econômicas contra a Venezuela “que vão piorar a situação”. Mas disse que está preparando “uma série de decisões para proteger os venezuelanos do bloqueio comercial, petroleiro e financeiro”. Pediu o apoio dos venezuelanos: “Se esta revolução está sendo perseguida a partir de dentro e a partir de fora [do país], tem o direito de se defender. Vamos fazê-lo”.

Nos últimos meses, Washington criticou altos funcionários do Governo venezuelano, incluindo o próprio presidente, a quem qualificou como um ditador. Apesar de tudo, Maduro se mostrou disposto a conversar com seu homólogo norte-americano. Prometeu escrever-lhe uma carta: “Se ele ler com boa vontade, tenho certeza de que as relações entre os dois países vão melhorar”.

Maduro afirmou que o diálogo com a oposição continua ocorrendo privadamente todos os dias, mas disse que deseja iniciar um ciclo de conversas públicas, em qualquer país do mundo, com o acompanhamento da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). “O ex-primeiro-ministro da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero é testemunha. Estamos fazendo esforços com os Ministérios do Exterior do Equador, República Dominicana, El Salvador e Granada para concretizar uma conferência pelo diálogo, e fiz a proposta para que convidemos Governos de fora de nossa região para restabelecer o diálogo pela soberania e pela paz da Venezuela”.

O presidente revelou que estava disposto a adiar a eleição da Constituinte em troca da participação da oposição. “Tudo estava pronto, mas um dia receberam um telefonema. Alguém falou em inglês. Ao fim da chamada decidiram não assinar esse acordo”. Com essa infidelidade Maduro tentou desqualificar seus adversários. “A oposição não tem capacidade para decidir. Para chegar a um acordo conosco, precisam antes receber uma ordem do Norte (Estados Unidos). É lamentável. Ninguém tem capacidade de decisão”.

ALFREDO MEZA

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