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Recep Erdogan,comanda a Turquia há 16 anos e pode ficar no governo por mais dez

Ele é chamado de “beyefendi” (senhor, em turco) pelos que o cercam e de “reis” (chefe) pelos admiradores. Recep Tayyip Erdogan é um líder com formação islâmica que superou uma tentativa de golpe e foi reeleito presidente da Turquia no domingo (24) numa eleição que está sendo contestada pela oposição.

Apesar de dividir o país – a última contagem de votos indicava a vitória de Erdogan com 53% -, desafetos e apoiadores o consideram o segundo homem mais poderoso da Turquia. Em termos de poder, estaria atrás apenas de Mustafa Kemal Ataturk (1881-1938), fundador da República da Turquia e primeiro presidente do país.

Erdogan chegou poder em 2002, um ano depois da formação do partido islamista AKP, do qual ele é líder. Ficou 11 anos no cargo de primeiro-ministro da Turquia antes de se tornar o primeiro presidente eleito por voto direto em agosto de 2014.

Em 2016, Erdogan sofreu uma tentativa de golpe, ao qual reagiu com violência – cerca de 240 pessoas teriam morrido nos confrontos -, e fez a Turquia entrar num estado de emergência.

Desde então, Erdogan tem tomado medidas para reforçar seus poderes presidenciais.

Cerca de 107 mil servidores públicos e soldados perderam seus cargos sendo demitidos e mais de 50 mil pessoas estão presas, à espera de julgamento. A oposição afirma que pelo menos 5 mil acadêmicos e mais de 33 mil professores também perderam seus empregos. E, segundo a Plataforma para o Jornalismo Independente, uma organização local, mais de 150 jornalistas estão detidos desde a tentativa de golpe.
Com a vitória no domingo, Erdogan assume novos poderes, aprovados num plebiscito realizado no ano passado para transformar a Turquia numa república presidencial.

Mais poderes para Erdogan
O plebiscito do ano passado fez com que o cargo de presidente deixasse de ser meramente cerimonial. A partir de agora, não haverá mais primeiro-ministro despachando no Ak Sary” (Palácio Branco) em Ancara, a capital turca.

Além disso, Erdogan será o único responsável pela nomeação e demissão direta do primeiro escalão do poder, incluindo ministros e juízes. Também vai ter poderes para governar por decreto se necessário.

Na eleição em que o próprio Erdogan se declarou vencedor, o partido dele, o islamista AKP, ganhou também a maioria dos assentos no parlamento. Quando confirmado o resultado do pleito de domingo, o presidente vai ter uma liberdade de ação nunca antes vista na história moderna do país.

Erdogan também alterou a Constituição do país, que agora estabelece mandato presidencial de cinco anos e permite que ele dispute, novamente, a reeleição em 2023. As alterações podem fazer com que ele fique no poder por mais uma década.

Mas como esse filho de imigrantes da Geórgia se transformou no mais poderoso líder da Turquia atualmente?

Qual a importância das eleições na Turquia?
A Turquia tem a segunda maior força armada dos países membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)

Faz fronteira tríplice com a Síria e o Iraque, onde o Estado Islâmico representa uma ameaça
O país liga territorialmente a Europa com o Oriente Médio
É um dos mais fortes aspirantes a fazer parte da União Europeia
É uma das 20 maiores economias do mundo
Tem um importante papel no mundo muçulmano
Formação islâmica
Nascido em 1954, Recep Tayyip Erdogan é filho de um imigrante da Geórgia. Seu pai era guarda-costas e a família morava na região do mar Negro. Quando tinha 13 anos, seu pai decidiu se mudar para Istambul com esperança de poder dar uma educação melhor aos filhos.
Como adolescente, o jovem Erdogan vendia limonada e bolo nas ruas de Istambul para ganhar um dinheiro extra. Ele frequentou uma escola islâmica antes de se formar em Administração na Universidade de Mármara de Istambul, onde também jogou futebol profissionalmente.

Na faculdade, conheceu Erbakan, que virou o primeiro-ministro islâmico do país, e entrou para o movimento islâmico da Turquia.

Em 1994, ele se tornou o prefeito de Istambul. Os críticos admitem que ele fez um bom trabalho, já que conseguiu tornar a cidade mais limpa e mais verde.

Mas, em 1999, passou quatro meses preso depois de ter sido condenado por incitação religiosa. Foi preso por ler publicamente um poema nacionalista que incluía as frases: “As mesquitas são nossos quartéis, as cúpulas nossos capacetes e os fiéis nossos soldados”.

Em 2001, Erdogan se juntou ao AKP, depois de ter sido sondado pelo Partido da Virtude, que acabou proibido no país. Sua ascensão ao poder foi completa quando o AKP conseguiu uma vitória esmagadora nas eleições de 2002, e ele assumiu o cargo de primeiro-ministro da Turquia.

Erdogan tem 14 eleições no currículo, contando as seis vezes em que disputou uma cadeira no Legislativo, três pleitos locais, duas presidenciais e três plebiscitos. Saiu vencedor de todas as disputas.

Seus seguidores são de maioria muçulmana e conservadora. Eles exaltam a forma como Erdogan fez o país ascender como uma nação respeitada no cenário internacional e assegurou novos níveis de prosperidade econômica para a Turquia.

Os críticos, contudo, dizem que Erdogan se assemelha a um “sultão”, como nos tempos de Império Otomano. Dizem ainda que ele não tem conseguido conter a crise econômica – o crescimento da inflação em mais de 10% e a desvalorização da lira têm contribuído para aumentar a pobreza no país.

Os mais críticos dizem ainda que o presidente tem levado a Turquia rumo ao autoritarismo. Erdogan controla 90% dos veículos de comunicação e tem mandado inimigos para o exílio ou prisão.
Um grande escândalo de corrupção atingiu seu governo em dezembro de 2013, o que fez com que milhares fossem às ruas protestar. Ele reagiu com força às megamanifestações. Entre as várias prisões de opositores, estavam as dos filhos de três ministros de Erdogan.

O presidente da Turquia também é visto como um líder que tem favorecido medidas de cunho religioso. Em outubro de 2013, por exemplo, a Turquia cancelou a regulamentação que proibia as mulheres de usar véu nas instituições estatais do país.

Apesar da formação islâmica, ele nega que tenha desejo de impor os valores do Islã ao país e disse que está comprometido com um Estado “laico”.

Desafios para o novo presidente da Turquia
Apesar de ter conseguido mudar as regras para, se reeleito, ficar no comando do país por mais dez anos consecutivos e de poder governar sem precisar negociar uma coalizão parlamentar, Erdogan enfrenta pressão dentro e fora da Turquia.
Partidos que disputaram as eleições no domingo contra ele não apenas denunciam fraude no pleito como também devem se fazer ouvir durante a gestão do presidente. A situação econômica e política da Turquia pode atrapalhar os planos dele de se aliar à União Europeia (UE).

“O último obstáculo para a implementação de um sistema presidencial altamente antidemocrático foi, agora, eliminado. Um sistema que é absolutamente incompatível com as negociações de adesão à UE”, disse, no Twitter, a deputada Kati Piri, membro do Parlamento Europeu.
Espera-se que, entre as primeiras medidas como presidente eleito, Erdogan anuncie o fim do estado de emergência no país.

BBC

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