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Demora da vacina é maior erro político de Bolsonaro diz Rodrigo Maia

Atraso na vacina é o maior erro de Bolsonaro

Opresidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o maior erro político cometido pelo governo até agora foi não se preparar para comprar a vacina contra o novo coronavírus. “Isso pode impactar o projeto de reeleição”, afirmou ele, numa referência aos planos do presidente Jair Bolsonaro para 2022.

“Esse é o tema que pode gerar o maior dano de imagem. As pessoas estão começando a entrar em pânico, em desespero”.

Prestes a terminar seu mandato como presidente da Câmara, Maia disse ao Estadão que o governo está criando um “balcão” de negócios na Câmara para eleger o seu sucessor.

Na sua avaliação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se engana ao imaginar que Bolsonaro interfere na disputa no Congresso, marcada para fevereiro de 2021, porque quer tocar as reformas. “Bolsonaro quer tocar a agenda ideológica”, observou.

O deputado contou ter ouvido o rival Arthur Lira (Progressistas-AL) chamar Guedes de “vendedor de redes” – alguém que fala muito, mas entrega pouco.

Líder do Centrão, Lira é candidato ao comando da Câmara com apoio do Palácio do Planalto. “Uma vitória do candidato do Bolsonaro o recoloca no processo político”, afirmou Maia.

  • O País assiste a uma briga política em torno da vacina e o governo não comprou uma seringa até agora. Como sair disso?

A vacina é o ponto mais crítico do governo, o mais grave até hoje na sua relação com a sociedade. A demora na compra da vacina é o maior erro político de Bolsonaro.

Esse é o tema que pode gerar o maior dano de imagem para o presidente. Faz voltar na memória das pessoas todos os erros do governo, desde o início da pandemia. Isso pode impactar o projeto de reeleição.

Certamente, ele (Bolsonaro) tem pesquisa. E, se ele tem, está com essa mesma informação. As pessoas estão começando a entrar em pânico, em desespero.

E aí ele isenta a importação de armas. Precisa tratar sem paixão, sem ideologia, esquecer o conflito com o governador de São Paulo.

  • A Câmara pode assumir esse papel, como fez no início da pandemia, com relação aos recursos emergenciais?

Eu disse ao presidente que o Congresso e o governo deveriam construir um caminho sobre a questão da vacina. Não é possível que daqui a pouco tenha brasileiro viajando ao exterior para tomar a vacina, enquanto a maior parte da população aqui fica sem vacina, com a taxa de letalidade aumentando por falta de leitos.

  • O sr. entende que será necessário algum tipo de lockdown nas festas de fim de ano?

Se no Rio de Janeiro tem 99% dos leitos ocupados, você tem que ter uma ação do prefeito e do governador de mais restrições. Não falo de lockdown.

  • O presidente pode ser processado por crime de responsabilidade por causa do discurso negacionista na pandemia?

Que ele pode ter influenciado um menor isolamento em momentos importantes, isso pode. Mas é uma questão muito técnica. Alguém vai ter que vincular o discurso dele ao fato de as pessoas irem às ruas e isso ter gerado mais mortes. Não é uma coisa fácil de pegar.

  • O sr. deixará o comando da Câmara com quase 50 pedidos de impeachment não analisados. São mesmo improcedentes?

Com a crise que nós já temos, se a gente fosse entrar para esse tipo de conflito… E o impeachment é um julgamento político. Querendo ou não, é a realidade. Ele não pode ser um instrumento para estar na gaveta e ser utilizado em cada conflito.

  • O sr. manifestou o receio de que uma vitória do deputado Arthur Lira na disputa pelo comando da Câmara signifique uma agenda ideológica para os próximos dois anos. Qual o risco?

Se você olhar os candidatos, todos votaram a pauta mais liberal na economia. Se todos dariam conforto ao governo em relação a isso, por que o presidente quer interferir? Bolsonaro quer tocar a agenda ideológica, a pauta de costumes, do voto impresso. Ele quer essa agenda que foi travada nos últimos dois anos pela minha presidência.

  • Como o plenário reagirá se o seu sucessor tentar impor essa agenda ideológica?

Sempre há um limite para aquelas agendas que o governo quer. Da forma como Bolsonaro está entrando, com o Palácio recebendo parlamentares, oferecendo emendas, dessa forma muito escrachada, corre o risco de ter um ambiente menos confortável para as pautas relevantes.

  • O que leva o sr. a crer que os deputados vão abrir mão de tantas benesses em nome de um discurso de independência?

Tenho certeza de que a maioria da Câmara entende que a valorização vale muito mais do que achar que parlamentares estão à venda. Se eles liberam emendas e acham que com isso o candidato do governo ganha, eles diminuem a importância dos parlamentares. Esse troca-troca é um atraso.

  • sr. entende que isso é uma tentativa de compra de votos dos parlamentares?

Do ponto de vista do governo, dá a impressão de que eles acham que, criando um balcão, vão conseguir eleger o presidente da Câmara. Se essas práticas prevalecerem, você terá um governo pressionado e chantageado de forma permanente.

  • A eleição para a presidência da Câmara é mais um teste para a disputa de 2022?

Uma vitória do candidato do Bolsonaro o recoloca no processo político. A principal derrota dele foi a ruptura dessa rede populista nacionalista internacional com a derrota do Trump (Donald Trump, presidente dos EUA). Depois, a sinalização das eleições municipais. E agora tem eleição da Câmara. O resultado vai ter um simbolismo.

  • O ministro da Economia, Paulo Guedes, aposta em Arthur Lira para tocar sua agenda na Câmara. O que o sr. acha desse apoio?

Quem me deu a melhor frase sobre o ministro da Economia foi o próprio Arthur Lira. No início do governo, a gente teve uma conversa e o candidato do Bolsonaro disse para mim: “Rodrigo, esquece o Paulo Guedes, o Paulo é um vendedor de redes.” De fato, tem que admitir que o candidato do Bolsonaro tem alguma visão de futuro. Parece que é um vendedor de redes mesmo, né? Nada acontece.

cljornal com informações do Jornal Estado de São Paulo

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