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A ORAÇÃO/POR FLÁVIO LIMA

Flávio Lima e Carlos Lima

Você está satisfeito, satisfeita?

De um modo geral eu não estou.

Me sinto deslocado diante da realidade brutal que se apresenta. Nunca considerei que estar obrigado a competir em todos os aspectos da vida, fosse natural.

Não é aceitável que para sobreviver o ser humano precise ocupar primeiro para não ser deixado para trás. Posições em filas de postos de saúde, agências de emprego e escolas públicas, etc.

Também não consigo aceitar que a pobreza seja uma condição abençoada por alguma divindade celeste vestida de branco e barbuda, ou que seja mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino dessa mesma divindade celeste.

No entanto, de fato, alguns desfrutam de uma abundância de recursos pessoais, financeiros e intelectuais enquanto outros agonizam na incerteza do amanhã, sem pão, roupas, amigos, livros, saúde e beleza.

E os primeiros não percebem os últimos, ou pior, os ignoram. O tempo das injustiças está produzindo anomalias  sociais que, em um momento ou outro, exigirão reembolso, retificação e reparação.

Toda violência é injustificável?

Como exigir de nossos compatriotas que prossigam suas vidas em meio a agonia com resignação?

 Como fazê-los compreender o quão injusto é quererem nos tomar o fruto do nosso árduo labutar competitivo diário, ignorar nossa esperança de que dias melhores virão, tirando nossas vidas, e que mais justo seria que eles competissem conforme as regras já estabelecidas, e mais importante ainda, que as regras estabelecidas, são justas, mesmo que por essas regras eles não obtenham o sucesso esperado na competição?

Talvez encarcerando uma boa quantidade deles nos porões da sociedade…, ou talvez ainda haja tempo de convencê-los.

Para ajudar nessa tarefa de convencimento, pensei em compor uma oração, quem sabe seja um mantra, considerando que a grande maioria da população desse planeta onde vivemos, professa algum tipo de crença religiosa, sem esquecer também dos ateus e agnósticos, que poderão lê-la como um pensamento reflexivo.

É preciso.

É preciso ser produtivo, é preciso vender, é preciso ter lucro, é preciso concluir a graduação, é preciso ter um doutorado, é preciso superar as próprias limitações, é preciso sorrir, é preciso ser feliz, é preciso viver e deixar viver, é preciso ser saudável, é preciso ter charme, é preciso ser poliglota, é preciso ser esperto ou esperta, é preciso refletir, é preciso atingir a meta, é preciso ter um objetivo, é preciso ser magro ou magra, é preciso ser forte, resignado ou resignada e resiliente.

É preciso estudar, é preciso ter um carro, é preciso andar de metrô, é preciso ler jornais, se manter informado  ou informada, é preciso usar o transporte público, é preciso tocar um instrumento, é preciso viajar, é preciso ter amigos, é preciso agradar.

É preciso encontrar um caminho, é preciso poupar dinheiro e tempo, é preciso conhecer o código civil, o código penal e a constituição, é preciso votar, é preciso pagar a conta de luz, é preciso pagar a conta de água, é preciso ter acesso à internet, é preciso usar o computador, o “tablet” e o telefone esperto, “smartphone”.

É preciso comprar com dinheiro, é preciso ter cartões de crédito, é preciso ganhar dinheiro, é preciso saber envelhecer, é preciso beber dois litros de água por dia, é preciso ter, mas mais importante é essencial parecer.

É preciso honestidade, mas também, é preciso lealdade. É preciso não esquecer de onde veio, é preciso honrar pai e mãe, é preciso obedecer a hierarquia, é preciso respeitar a polícia, é preciso fazer contas, é preciso saber escrever, é preciso saber falar, é preciso entender as regras de pontuação, é preciso ter uma profissão.

É preciso ser humilde, subserviente e submisso?

É preciso saber perguntar, é preciso saber quando perguntar. É preciso ser valente, é preciso coragem, é preciso ser audaz, é preciso cautela, é preciso conviver com o medo, é preciso se contentar com pouco, é preciso ser ambicioso…, é preciso?

É preciso ter sabedoria, é preciso distinguir o certo do errado, é preciso separar o joio do trigo, é preciso correr, é preciso andar.

É preciso ajudar os necessitados, é preciso saber, que não poderemos salvar a todos.

 Amém.

Flávio Antônio Alves de Lima

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