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Karen Uhlenbeck, a pioneira “imperfeita” que levou o ‘Nobel’ de Matemática

Andrea Kane, Institute for Advanced Study

A matemática norte-americana Karen Keskulla Uhlenbeck se tornou a primeira mulher a receber o Prêmio Abel (considerado o “Nobel” da Matemática) desde que começou a ser concedido, em 2003. Professora emérita da Universidade do Texas, em Austin, e Senior Research Scholar da Universidade de Princeton e do Instituto de Estudos Avançados (EUA), Uhlenbeck fez avanços impressionantes no campo das equações diferenciais parciais geométricas, na teoria de gauge e em sistemas integráveis. Seus resultados tiveram um impacto transformador nos campos da geometria e da análise, ampliando os limites do conhecimento e fazendo descobertas profundas na fronteira da matemática com a física.

Seus trabalhos em aplicações harmônicas fizeram dela uma das fundadoras da área de análise geométrica. De todos os seus resultados nesse campo, se destaca o teorema obteve com Jonathan Sacks no início de 1980, sobre a existência de imersões harmônicas de superfícies compactas em 3-variedades de Riemann. Este resultado introduz alguns métodos (chamados minimax) que continuam sendo usados com sucesso hoje. Por exemplo, são uma das bases da demonstração do brasileiro Fernando Codá Marques e do português André Neves da famosa conjectura de Willmor. Por esse trabalho os matemáticos receberam o prestigioso prêmio Oswald Veblen em 2016.

Outro trabalho de Uhlenbeck, sobre a aplicação dos chamados instantons como ferramenta geométrica efetiva, foi fundamental nas pesquisas que renderam a Simon Donaldson (Stony Brook University e Imperial College London) a Medalha Fields em 1986. Esse resultado se engloba em outra área da matemática, a teoria gauge, pela qual ela se interessou depois de ouvir uma conferência de Michael Atiyah na Universidade de Chicago, também agraciado com a Medalha Fields e o Prêmio Abel.

O exemplo de Uhlenbeck é profundamente inspirador para todas as mulheres que fazem matemática e, em geral, para todas as mulheres cientistas. Esse merecido prêmio, e toda a divulgação que o acompanha, servem para dar visibilidade a todas elas. Além de, é claro, reconhecer uma carreira excepcional. Embora ela afirme que ser considerada um modelo para outras mulheres “é difícil, porque o que você realmente precisa é mostrar aos alunos como uma pessoa pode ser imperfeita e, no entanto, ter sucesso”. Espero que o exemplo dessa mulher tenaz sirva para que todas as jovens ousem na matemática, apesar de suas “imperfeições”, e aquelas que já estejam no caminho as encoraje a perseverar.

LEONOR FERRER MARTÍNEZ

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