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‘O medo é o que conecta as pessoas’, diz Thomas Olde Heuvelt

Apesar de ter publicado uma novela há alguns anitos, Thomas Olde Heuvelt tornou-se recentemente muito falado pelo conto The Day the World Turned Upside Down

Histórias de terror são universais, mas a relação de proximidade do público pode ser decisiva para fazer sucesso. Foi pensando nisso que o autor holandês Thomas Olde Heuvelt resolveu adaptar sua obra HEX, de 2013, escrita e ambientada nos Países Baixos, para o público americano. Lançado nos EUA em 2016, o livro acaba de chegar ao Brasil pela editora DarkSide, que trouxe o autor para eventos de imprensa e com os fãs.

Depois de publicar, tive uma reação muito boa de leitores na Holanda e quis fazer isso no resto do mundo”, explica Thomas Olde Hevelt ao Estado. “Para assustar bem o seu leitor, você precisa criar um senso de familiaridade para deixá-lo confortável.” Se ele levou quatro meses para escrever o livro, para reescrever, junto com sua editora, levou um ano.

O livro foi adaptado para os EUA por ser o primeiro mercado internacional, incluindo o Reino Unido. Os nomes, a cidade central e os aspectos culturais foram modificados, mas a história central continuou a mesma: um pacato município está amaldiçoado por uma bruxa há mais de 300 anos, quando ela foi perseguida e torturada na Inquisição. Nos dias atuais, com os olhos e a boca costurados, e correntes amarradas aos membros, ela vaga pela cidade e os moradores da região utilizam um aplicativo para a seguir e evitar que novas pessoas entrem mortalmente em contato com ela.

Mesmo com a adaptação para os EUA, o livro continuou bem holandês, já que a nova cidade é uma ex-colônia do país no Estado de Nova York. “Também deixei nos personagens o jeito prático e natural que os holandeses lidam com o sobrenatural”, ele esclarece. “Não temos muitas superstições e crenças, quis deixar essa vibe. Eles estão acostumados com essa mulher aterrorizante, e não têm medo.” Para o resto do mundo, incluindo o Brasil, onde o livro já é o mais vendido de terror na Amazon, ele acredita que “o medo é o que conecta as pessoas”.

Em histórias cinematográficas de terror, a tecnologia vigente é constantemente utilizada como recurso, como na fita VHS de O Grito. Agora, na obra do jovem Heuvelt, de 35 anos, são os apps e as câmeras GoPro que dominam. “Pensei de uma forma prática. Imagine uma cidade amaldiçoada hoje em dia, as crianças, com certeza, iriam querer gravar vídeos dessa bruxa para colocar no YouTube.” No livro, que é contado sob o ponto de vista de alguns moradores da cidade, o jovem Tyler Grant tem algumas discussões com o pai, Steven, sobre o que ele pode ou não mostrar dos eventos sobrenaturais em seu canal de vídeos.

Desde jovem, Thomas Olde Heuvelt é apaixonado por histórias de terror. Não por acaso, HEX tem várias referências ao gênero, como As Bruxas de Blair. O holandês tem ainda como mestre Stephen King, que não só leu como elogiou sua obra no Twitter. Para ele, HEX é “totalmente brilhante e original”. “Foi bizarro! Minha editora no Reino Unido mandou o livro para ele, mas me disse para não ter esperança, porque ele só tuíta sobre coisas que ele realmente gosta”, explica Heuvelt, aos risos, tentando disfarçar o orgulho. “Eu sabia que era no estilo dele, mas não dava para saber se ele iria gostar.”

Assim como inúmeras obras do ídolo, HEX também vai ganhar uma adaptação audiovisual, e justamente pelas mãos de Gary Dauberman, roteirista do sucesso It: A Coisa, de King, no ano passado. A encomenda é da Warner, que vai produzir uma série de 10 episódios baseada no livro. Heuvelt não vê a adaptação com surpresa. “O jeito que eu escrevo é muito visual, principalmente em relação à bruxa. Você vê a coisa criando vida em frente aos seus olhos.”

O autor holandês trabalha dando consultoria para a série, que deve ser filmada nos próximos meses, com direito a uma pontinha de Heuvelt, no maior estilo Stan Lee. Segundo ele, toda a história do livro deve ser adaptada para a primeira temporada da série e, se houver uma segunda, será inteiramente por conta dos roteiristas. Para Heuvelt, a história é totalmente encerrada no livro, sem espaço para uma continuação. “Acredito que eu ainda estaria envolvido numa eventual segunda temporada, mas tudo bem continuar com eles, é uma interpretação da história e é algo bonito”, diz ele, que afirma não ter ciúmes dos seus personagens.

Pedro Rocha

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