O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse, nesta terça-feira, que “está absolutamente convicto” de que não mentiu sobre contas no Exterior na CPI da Petrobras.
Durante a entrevista, em um hotel de Brasília, também rechaçou a possibilidade de uma eventual renúncia.
Tem uns que não querem a minha cassação. Querem a minha extinção — declarou.
Durante o evento, que durou mais de uma hora e meia, o presidente afastado da Câmara lembrou que não dava entrevistas públicas desde 19 de maio, quando prestou depoimento no Conselho de Ética da Casa.
Isso, de certa forma, tem prejudicado, e muito, não só minha versão de fatos e defesa, como também a comunicação.
Por isso, decidi voltar com regularidade a prestar satisfações eu mesmo, me expor ao debate, comentou o peemedebista, que criticou o tratamento recebido por parte da imprensa.
Cunha não poupou ataques ao PT. Ao mencionar o partido, afirmou que o ex-ministro da Casa Civil Jacques Wagner o ofereceu, em pelo menos em três encontros, os votos a seu favor dos três integrantes titulares da sigla no Conselho de Ética.
Em troca, o peemedebista teria que recusar o pedido de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
Segundo Cunha, Wagner chegou a fazer uma oferta para não incluir a mulher e a filha do deputado afastado na discussão do processo de cassação do qual é alvo na Câmara.
Além disso, frisou que os três encontros que supostamente teve com o ex-ministro ocorreram na residência oficial da presidência da Casa, na base aérea de Brasília e no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República.
De acordo com Cunha, o presidente interino Michel Temer intermediou o terceiro encontro, mas não participou da reunião.
E, nos três encontros, ele ofereceu os votos do PT no Conselho de Ética e chegou ao ponto de oferecer que não haveria discussão sobre minha mulher e minha filha(…) . Soava como chantagem, comentou.
Cunha também disse que não foi “herói nem vilão” na abertura do processo de impeachment de Dilma.
Disse que apenas cumpri com o seu papel de presidente da Câmara.
Na entrevista, o deputado afastado apontou existir “um nítido cerceamento de sua defesa em vários pontos”.
Cunha chegou sozinho à sala do hotel em Brasília onde a entrevista coletiva foi realizada. Nenhum de seus aliados foi visto no local.
Manifestantes protestaram na porta do hotel enquanto o peemedebista concedia entrevista.
Sons de buzina e palavras de ordem contra ele podiam ser ouvidas de dentro da sala.
A assessoria do deputado afastado só permitiu a entrada de jornalistas que possuíam a credencial oficial para a cobertura das atividades da Câmara.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) devem autorizar, nessa quarta-feira, a abertura da segunda ação penal contra Cunha por envolvimento com o esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato.
O inquérito apura se o peemedebista manteve contas na Suíça abastecidas com propina desviada da Petrobras.
Cunha também afirmou que a votação do parecer pedindo a cassação de seu mandato, realizada na semana passada pelo Conselho de Ética da Câmara, é nula e terá de ser refeita.
Segundo o peemedebista, a aprovação de um requerimento para votação por chamada nominal dos membros do colegiado foi “estranha” e está em desacordo com o Regimento Interno da Casa.
Cunha também questionou, mais uma vez, a escolha do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) para ser relator de seu processo no colegiado.
De acordo com ele, a relatoria do parlamentar será objeto de recurso dele à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
O peemedebista argumenta que Rogério não poderia ter assumido a relatoria, pois passou a fazer parte do mesmo bloco parlamentar de Cunha quando trocou o PDT pelo DEM.
Não acolher isso é rasgar o Código de Ética, afirmou.
O presidente afastado da Câmara voltou a falar de seletividade da Justiça e de cerceamento de sua defesa.
Tudo que faço é manobra, quanto aos que querem me derrotar, não é manobra, afirmou.
Cunha acusou o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), de ter usado de “má-fé” desde o início da tramitação de seu processo no colegiado.
Zero Hora