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Casamentos infantis no Brasil os números são assustadores

14 anos grávida e casada

O Brasil é o quarto país no mundo com maior índice de casamentos infantis, e a concentração está no gênero feminino, numa faixa etária em torno dos 15 anos.

Essas meninas de 15 anos encontram-se casadas com homens pelo menos nove anos mais velhos, mas não se iludam: existem registros de centenas e centenas de meninas casadas antes dos 15 anos de idade.

No Brasil 2.928.000 mulheres se casaram antes dos 18 anos, ou seja, 36% das mulheres casadas o fizeram ainda meninas.

Diante desse fato sempre percebo uma dúvida envolvendo três reações: surpresa, descrédito e relativismo.

No início geralmente existe um questionamento como: “Isso não pode ser verdade!

Vocês checaram esses dados?…” então caminham para a surpresa “Mas eu não imaginava que também acontecesse por aqui…” e culmina com : “Ah! mas esses números são absolutos, em números absolutos o Brasil sempre vai ficar nas primeiras posições em tudo”

Pensar sobre isso é um importante passo para uma maior reflexão sobre o casamento infantil – ajuda a pensar sobre o casamento infantil, que é capaz de revelar todo um funcionamento da sociedade.

Não é possível afirmar que o casamento infantil é desconhecido no Brasil, são 2.928.00 meninas casadas ou mulheres que se casaram ainda enquanto meninas, um número muito impactante para não ser notado.

Não é que o casamento seja invisível, é que as pessoas não o reconhecem como um problema.

O casamento das meninas é entendido como uma resposta para uma série de contextos: sabe aquela família que está com medo de cair na boca do povo com aquela menina namoradeira?

Sabe quem acha que a menina que tem 13 anos engravidou vai passar muita vergonha se tiver um filho-sem-pai?

Sabe aquelas pessoas que acham que lugar de menina não é na rua, que é dentro de casa? Ou ainda aquela outra que acredita que adolescente não tem valor, não tem opinião e não tem vez?

Temos ainda o elemento de uma sociedade adultocêntrica, nas quais a maioria não compreende meninas enquanto sujeitas de direitos, agentes em um processo de transformação social, uma voz a ser ouvida.

Mas que ao mesmo tempo erotiza seus corpos, cria as Lolitas, Anitas, Novinhas, como mulheres a serem desejadas e consumidas, pela sua juventude e baixo nível de poder em relações estabelecidas com homens mais velhos, que passam a deseja-las como esposas ideais.

Todas essas pessoas mobilizam importantes conceitos que fazem com que o casamento infantil seja entendido como parte de uma solução para a vida dessas meninas, essas pessoas estão por toda parte, talvez até você seja uma delas, e é por isso que você duvida.

Você não duvida que o casamento infantil existe, você duvida que ele seja um problema.

Viviana Santiago

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