Quando os fatos se precipitam, num torvelinho, a gente lembra dos tempos da juventude, quando se atirava no mar sem medo ou cuidado, como fazem as crianças e as ondas nos embrulhavam, levando a gente num turbilhão de água e bolhas, sem saber para onte estamos indo e lendo levados tanto para a praia quanto para longe dela.
Vivemos dias assim, onde nem a volta modorrenta de um feriadão, anteontem, escapou: pancadaria, explosões, no Rio, com a prisão de Anthony Garotinho, em Brasília, transtornados gritando pela volta da ditadura sobre a mesa e o lugar de onde, nem trinta anos tem, o velho Ullysses Guimarães dizia ter ódio e nojo às ditaduras.
Ontem, de novo, uma explosão, Sérgio Cabral preso, jóias apreendidas de sua ex-mulher exibidas na mídia, a mídia refocilando no chiqueiro dos outros porcos.
Gente boa, honrada, “comemorando” as prisões…Será que não percebem que é uma espécie de “justiça” igual ao “socialismo” do confisco de Collor, que deixou “todo mundo igual”, com os mesmos 50 cruzados?
Quantos milênios faz que Garotinho faz fisiologia com “cheque-cidadão”? Há quantas eras geológicas Sérgio Cabral enriquece – veja a mansão em Angra – com dinheiro de origem escusa? O que aconteceu? Os juízes desembarcaram de Marte faz pouco tempo?
É obvio que não se trata de defendê-los.
Não, mas tudo é tudo política e dela Luís Nassif traça um “mapa-mundi” em seu artigo de hoje no GGN, imperdível:
Há a uma aliança clara envolvendo o PSDB-Globo-STF-PGR. E um conjunto de circunstâncias que irá definir se, nos próximos meses, se avançará o golpe no golpe.
O “problema” é que neste tipo de sociedade, despertam-se todas as ambições e fica-se sujeito ao que aconteceu ao que narra Maquiavel de Agátocles Siciliano, o Tirano de Siracusa que, certa manhã reuniu…
“o povo e o senado de Siracusa, como se tivesse de deliberar coisas pertinentes à república; e, a um sinal combinado, fez pelos seus soldados matar todos os senadores e os cidadãos mais ricos.
Mortos estes, ocupou e manteve o principado daquela cidade sem qualquer oposição civil”.
Os golpes – ou processos de quebra da institucionalidade, se preferirem “acham a palavra forte”, como já ouvi por aí – não são gestos que começam e terminam em pontos determinados.
Adquirem dinâmica própria e seguem em processo de aceleração mesmo depois de aparentemente consumados.
1964 começou “para restaurar a democracia” e a foi restaurando, não é, cassando corruptos e subversivos, depois o voto, prendendo, torturando, matando…
O golpe de 2016 ainda não terminou, nem poderia ter terminado com uma nulidade como Temer elevada ao governo – menos que ao poder, portanto.
A brutalidade e a violência sempre buscam uma justificativa nobre.
Como, por exemplo, “salvar a Pátria”.
Fernando Brito