Ninguém duvida que o líder da força tarefa da Lava Jato, Deltan Martinazzo Dallagnol, é um homem de convicções. Mais do que isso, é um homem de fé.
Em fevereiro, Deltan fez uma peregrinação por igrejas evangélicas em busca de apoio às suas 10 medidas de combate à corrupção.
Num culto, respondeu a uma espectadora que queria saber sobre seus planos, de acordo com matéria de julho do Estadão: “Eu descartaria poucas coisas em relação a meu futuro, cogito talvez até virar pastor. Mas nós focamos no presente”.
Dallagnol é membro da Igreja Batista de Bacacheri, bairro de Curitiba, onde costuma ministrar palestras com seu indefectível powerpoint.
Lança mão de imagens fortes para impactar as plateias.
O mesmo sujeito que apontou Lula como “comandante máximo” e “grande general” da “propinocracia” gosta de lembrar que “a corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa”, uma “serial killer que se disfarça de buracos de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza.”
A retórica e as técnicas do show de Dallagnol foram influenciadas pesadamente pelas lideranças religiosas de sua terra. Não só a forma: o moralismo, o maniqueísmo e o antipetismo vieram dali.
“Dentro da minha cosmovisão cristã, eu acredito que existe uma janela de oportunidade que Deus está dando para mudanças”, disse ele no Rio em sua turnê religioso-política.
Repetiu essa sentença numa entrevista ao pastor Paschoal Piragine Júnior, da Primeira Igreja Batista de Curitiba, dono de um programa de entrevistas qualquer nota que ele chama de talk show.
Piragine é uma referência para esse povo. Ganhou fama em 2010 ao pedir a seus fieis que não votassem em candidatos do PT por causa do posicionamento do partido em relação a temas como aborto, criminalização da homofobia e divórcio.
O mote da pregação era “iniquidade”.
Piragine denunciou o Programa Nacional de Direitos Humanos.
“Se você olhar, vai ver como a máquina estatal está mobilizada.
Se os ministros de Estado que estão ligados a esse governo não trabalharem assim, perdem o seu cargo”, falou. O vídeo da peroração tem, hoje, mais de 3 milhões de visualizações.
Uma das admiradoras mais entusiasmadas de Dallagnol é Marisa Lobo, autodenominada “psicóloga cristã”, campeã de causas como a da cura gay.
Marisa faz conferências na mesma igreja do amigo sobre sua nova obsessão, a ideologia de gênero, tema de seu último livro.
Kiko Nogueira