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Cúpula do Mercosul será marcada pela tensão Bolsonaro-Fernández

Montagem mostra o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o candidato da esquerda à presidência na Argentina, Alberto Fernández — Foto: Alejandro Pagni, Evaristo Sa/AFP

O Mercosul realiza na quarta (4) e na quinta-feira (5) na cidade gaúcha de Bento Gonçalves um encontro de cúpula marcado pelas tensões que se avizinham entre o Brasil de Jair Bolsonaro e a Argentina de Alberto Fernández, que vai assumir o cargo somente na semana que vem e, portanto, ainda não vai ao Rio Grande do Sul representando o país vizinho.

Este 55º encontro presidencial do bloco será o último com Maurício Macri na Presidência argentina, a quem Bolsonaro tinha apoiado na campanha eleitoral.

O presidente brasileiro também fez campanha para o liberal Luis Lacalle Pou, que venceu no Uruguai e vai assumir em março, pondo fim a quinze anos de governos de esquerda em seu país.

Bolsonaro já tinha um aliado no Paraguai, com Mario Abdo Benítez.

A recomposição ideológica do bloco ocorre no marco das convulsões políticas e sociais que marcam a América do Sul e gera expectativas sobre seus eventuais impactos no processo de ratificação do acordo de livre-comércio assinado este ano pelo Mercosul com a União Europeia e nas discussões com outros países.

A vice-presidente do Uruguai, Lucía Topolansky, vai representar Tabaré Vázquez, que ainda é o presidente do país, mas estará ausente devido a problemas de saúde.

Animosidade declarada

O primeiro encontro entre Bolsonaro e Fernández, o presidente eleito da Argentina, não tem data marcada, e a hostilidade entre ambos preocupa o meio dos negócios, dada a interdependência das duas economias.

O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina que, por sua vez, é o terceiro do Brasil, depois da China e dos Estados Unidos, embora seja o principal comprador de seus produtos industriais.

Bolsonaro se absteve de cumprimentar Fernández e não assistirá à sua posse em 10 de dezembro, incomodado pela campanha do peronista a favor da libertação do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve preso por corrupção em Curitiba até o começo de novembro.

Temeroso de que Fernández, herdeiro de uma economia mergulhada em uma grave crise, adote políticas protecionistas, o governo Bolsonaro chegou a ameaçar deixar o bloco.

Na semana passada, no entanto, os dois presidentes baixaram o tom, comprometendo-se a manter um vínculo “pragmático”.

“Ainda não está claro se essas declarações do governo brasileiro são, de fato, um planejamento de deixar o Mercosul ou se isso é simplesmente uma maneira de pressionar a Argentina para adotar uma posição mais liberal em termos de comércio internacional”, disse à AFP Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas às importações de aço e alumínio do Brasil e da Argentina colocou inesperadamente os dois países no mesmo balaio para desgostos dos brasileiros, que almejam uma posição de aliados estratégicos dos americanos.

Esta decisão “deveria [aproximar] Brasil e Argentina. Essa tensão [entre Bolsonaro e Fernández] não é favorável [nem] para o Brasil, nem para a Argentina”, disse à AFP o ex-embaixador brasileiro em Washington Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice).

“Vamos ver se na reunião do Mercosul isso pode ser tratado”, acrescentou.

France Presse

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