Tempo - Tutiempo.net

Dilma: “O novo pode ser um Hitler”

Dilma deu entrevista à BBC:

Dilma Rousseff entrevista a BBC

BBC – Michel Temer continua na Presidência apesar das acusações contra ele.

Dilma Rousseff – Construíram com o maior corrupto da história desse país, chamado Eduardo Cunha, um impeachment. Esse mesmo Eduardo Cunha foi eleito por 267 votos (à Presidência da Câmara). Há indícios absolutos de que ele comprou a sua eleição com o auxílio de alguns empresários, e através de processos de corrupção.

Veja, o presidente Temer comprou sua impunidade com quase o mesmo volume de votos. São as mesmas pessoas que votaram para eleger o deputado Eduardo Cunha, as mesmas impediram que o atual presidente da República fosse julgado.

Acontece que colocaram no governo uma quadrilha. Não pense que o que ocorreu naquele dia do meu afastamento se encerrou.

BBC – O ex-presidente Lula foi condenado na Lava Jato. Então, em que o PT é melhor do que outros partidos?

Dilma Rousseff – A diferença é que a acusação do Temer tem vídeo, que mostra a mala. Do que acusam o Lula? De ter um apartamento que não está no nome dele. Que está no nome da empresa. E que a empresa deu esse apartamento como garantia para um banco. Mas podia não ser propriedade dele. Ele nunca usou esse apartamento.

O Ministério Público disse que ele recebeu esse apartamento porque era presidente e, portanto, por benefício que poderia conceder à empresa na Petrobras. Só tem um pequeno problema. O juiz disse que não foi assim. Que ele não recebeu, que não foi por conta da Petrobras… Lula não tem mala de dinheiro. Não usou o apartamento, nunca morou.

No Brasil você tem dois pesos e duas medidas. O presidente Lula eles condenam a nove anos. A pergunta é: por quê? É porque eles são maus, perversos? Até podem ser, mas não é por isso. O golpe tem um primeiro capítulo que é meu impeachment. Mas tem um segundo, que é impedir que o presidente Lula seja candidato em 2018.

BBC – A senhora acredita que Lula é a resposta que o Brasil precisa? O país não precisa de um novo líder, sangue novo?

Dilma Rousseff – Desde quando o novo é necessariamente novo em relação a um conceito positivo? O novo pode ser um Hitler. Não há garantia nenhuma. O povo reconhece o Lula porque durante o governo do presidente o povo viveu melhor. Não tem nenhuma manipulação.

Nós sabemos que a democracia tem suas falhas, mas continua sendo o melhor regime possível. Eu acredito que eles não vão simplesmente tirar o Lula da eleição. Tem a 3ª fase do golpe, que é implantar o parlamentarismo. Que já perdeu em plebiscito duas vezes. E esse processo vai vir com a tentativa de manter o controle político conservador do Congresso.

(…)

BBC – Há muito tempo o PT apoia o governo da Venezuela. Recentemente, a presidente do partido, Gleisi Hoffman, reafirmou o apoio. Qual é a sua opinião sobre isso?

Dilma Rousseff – Eu vi a Venezuela antes do Hugo Chávez. Eu acho que Chávez foi o grande líder. Ele teve a sorte de pegar a evolução do preço do barril do petróleo chegando a US$ 140. Uma situação bastante confortável. Quando o preço começa a cair, não é só a Venezuela que sente. E aí a situação começa a ficar difícil.

Acho que o presidente Nicolás Maduro não tem a mesma estatura do Chávez. E com isso eu não estou fazendo nenhuma análise de valor. São pessoas diferentes. Acho que o Maduro pegou a Venezuela numa situação extremamente drástica, com uma queda violenta do preço do petróleo, que é um elemento fundamental no orçamento dele. Pega sem recursos, com crise elétrica…

Então, você corre um risco imenso. Porque a Venezuela é um país dividido. O que se tem que se tentar é uma saída não sangrenta. Se continuar do jeito que está, vai ter guerra civil na Venezuela.

Eu acredito que a visão que se divulga no Ocidente a respeito da Venezuela é irresponsável. Acho um absurdo o tratamento da imprensa internacional à Venezuela. Vão criar, aqui na América Latina, depois de 140 anos de paz, um grande conflito armado, assim como fizeram no Iraque e no Afeganistão.

BBC – Mas a senhora não acha que o presidente Maduro é culpado pela situação?

Dilma Rousseff – Não vou culpar apenas o Maduro. Existe um conflito. É que nem o que fizeram com o Saddam Hussein. O criminoso era o Saddam Hussein. Mataram-no da forma mais bestial possível. Quando fizeram isso destamparam a caixa de pandora e saíram todos os monstros possíveis. A ponto de armas iraquianas financiarem os terroristas do Mali.

De onde saiu o EI? O (grupo extremista autodenominado) Estado Islâmico saiu do fato de os EUA acharem que tinha ali uma posição democrática. E não tinha.

BBC – Mas a senhora não pode culpar os Estados Unidos por todos os problemas da Venezuela.

Dilma Rousseff – Não estou culpando os EUA. Estou culpando a comunidade internacional. Não pode ter essa atitude. Eu até uma vez apelei ao Vaticano para entrar como intermediário, para tentar construir um clima de pacificação.

Eu não acho que a questão é ficar falando mal do Maduro. Na Venezuela estão lidando com forças sociais reais. Se querem guerra civil, terão. Com ou sem Maduro. Há um conflito lá. Não posso ser irresponsável e ser a favor de que o conflito seja resolvido intensificando a contradição. Ou tenta-se construir uma solução pacífica ou vai ter guerra civil. Os dois lados estão armados.

BBC

OUTRAS NOTÍCIAS