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É uma carreira que causa arrepio: O que Cunha quer é o poder

Uma situação peculiar, a que não falta certa comicidade, é esta resultante da avassaladora invasão do poder político por Eduardo Cunha. Desde que emergiu, há quatro meses e meio, até a predominância absoluta que impõe, nada justifica essa “blitzkrieg” e nem ao menos a explica.

Diante dos seus propósitos, no entanto, todos baixaram a cabeça. Mesmo sem saber a finalidade de cada um deles ou o plano que os conjuga.

Apresentados com a serena segurança de determinações que vão se cumprir, os objetivos imediatos de Eduardo Cunha se sucedem sem distinção entre governo, Congresso, o seu e os demais partidos. No seu caso, querer é poder.

“Vamos fazer a reforma a política e votá-la até o fim do mês”, e pronto, mesmo sem preliminar alguma até a altura do decidido. “A Câmara não aceita esse projeto do governo”, e a voz de Eduardo Cunha passa a ser a voz da Câmara. E o governo baixa a cabeça: “Não há mal-estar com o presidente da Câmara”, existe sempre um ministro com disponibilidade moral para dizer.

Agora Eduardo Cunha absorveu o diretório nacional do PMDB, a convenção partidária e a presidência peemedebista.

“O PMDB está cansado de ser agredido pelo PT, essa aliança não se repetirá.” Os poderes internos do PMDB baixam a cabeça. O governo treme, e Edinho Silva, o mais recente incumbido de socorrer a imagem da presidente, mostra sua eficiência: “Não há mal-estar com o presidente da Câmara”. Cabeça baixa.

Um noticiário plantado por ou também por Eduardo Cunha andou dizendo que o ministro Aloizio Mercadante pretende tirar o peemedebista Michel Temer da coordenação política entre governo e Congresso.

Mas houve ainda uns brados de “fora Cunha” no congresso do PT. E a causa da ruptura decidida por Eduardo Cunha passou a ser localizada naqueles gritos anônimos.

O que Eduardo Cunha quer, no caso, não tem a ver com vaias nem com o PT. É retirar o PMDB da base parlamentar governista, ou seja, para efeitos práticos, arruinar politicamente o governo. Um passo radical em seguimento aos meses de ação para desgastar o governo e Dilma.

O PT entrou só como pretexto. Nem poderia ser mais do que isso porque, à parte ilusões sustentadas pelo comando petista, por Dilma, a imprensa e a oposição, não existe “o governo do PT”.

Nunca existiu. Nenhuma política e nenhuma orientação do governo Lula e do governo Dilma foi decidida pelo PT, com o PT ou se deveu ao PT de alguma forma.

O próprio Eduardo Cunha dá o melhor testemunho da marginalidade do PT. Seu poder emergiu da ausência de um governo de partido. Desse ou vazio, ou, o que dá no mesmo, caos partidário –nem frente, nem aliança, nem coligação– que abagunça e explora o governo.

A título de explicação ou lembrança: o inverso disso foi feito para o governo Fernando Henrique, no qual Luiz Eduardo Magalhães integrou PSDB e PFL como um partido no governo. Além de atrair e usar o PMDB, esse “partido” conduziu tudo no Congresso e reduziu o PT a espectador esperneante.

Nem sequer uma CPI saiu, embora a compra da reeleição fosse imoralidade incomparavelmente maior que o mensalão.

É desconhecido, claro, o desdobramento imaginado por Eduardo Cunha para a ruptura do alegado acordo com o PT e o governo. Mas, cá de fora, as muitas hipóteses devem incluir até, nos possíveis efeitos extremos, uma cisão no PMDB.

Muito improvável só à primeira vista, porque, na realidade, pode convir a certa armação, que se insinua, de Eduardo Cunha com vistas à sucessão presidencial. Não necessariamente com candidatura sua, como sabe seu novo correligionário José Serra. Mas talvez sim, sabe-se lá que fogos animam um tipo incomum como Eduardo Cunha.

Janio de Freitas

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