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Eduardo Cunha é o “homem do ano”. Pobre humanidade…

O jornalista gaúcho Juremir Machado da Silva é um homem bem humorado em meio ao mar de desgraças que são estes tempos.

Leio em seu blog, depois de rir com a engraçadíssima situação que imagina, ‘a de o time do Boca Juniors se naturalizar brasileiro, filiar-se ao PSDB e garantir, assim, que jamais seria punido na Justiça\’, escreve uma deliciosa crônica sobre a condição de \”Homem do Ano\” precoce de Eduardo Cunha.

É perfeita descrição desta figura que nasceu com Collor, conseguiu votos com Garotinho e poder na Câmara com o PT e que, agora, na Presidência da Câmara, sai das sombras para transformar, com a prestimosa ajuda de Renan Calheiros, o Congresso Nacional em um Legislativo dantesco.

Só sugiro ao Juremir que troque o prêmio de \”Homem do Ano\” pelo \”Faz Diferença\”, este que o Sérgio Moro acabou de ganhar da Globo. Porque Cunha, não há dúvida, faz diferença. E muita. E pra pior, muito pior.

Eduardo Cunha, o homem do ano

Sou precoce.

Escolho o Homem de Ano em maio.

Sei que nada mudará nos próximos meses. Nada mudou nos últimos anos. O Homem 2015 é Eduardo Cunha.

O presidente da Câmara dos Deputados destaca-se pelo pior. Ninguém é melhor do que ele no pior. Nem Renan Calheiros. Ele tem garantido a aprovação das medidas mais retrógradas dos últimos tempos.

Põe em votação tudo que possa ser ruim para o Brasil. Segura tudo o que tenha algum valor progressista. É um monstro.

 

Surra o governo petista sete dias por semana. Humilha a presidente Dilma Rousseff sem dó nem piedade.

 

Faz o PT rastejar quando bem entende. Ameaça retalhar o Senado do companheiro de partido Renan Calheiros.

Não, não é retaliar. Vingança e troco não lhe bastam.

É recortar mesmo, fragmentar, despedaçar, picotar.

Eduardo Cunha elegeu-se presidente da Câmara impondo ao governo uma derrota vergonhosa.

Depois disso, fez aprovar a liberação impositiva das chamadas emendas parlamentares, um grana alta que os deputados recebem para comprar votos nos seus Estados sob a forma de benefícios aos seus representados.

Em seguida, fez um alvoroço com a possibilidade de redução da maioridade penal. Não satisfeito com tanto barulho, investiu contra a legislação trabalhista.

Bancou a aprovação do projeto de terceirização. Na sequência, vem botando o governo federal de joelhos em grão de milho para fazer aprovar as medidas provisórias do pacote fiscal do ministro Joaquim Levy, que surrupiam outros direitos trabalhistas.

O homem não perde viagem.

Acossado pela operação Lava-Jato, suspeito de ter recebido propina e de ter feito tramitar um plano para intimidar maus pagadores dessas quantias subterrâneas cada vez mais visíveis, o homem de ano não se perturba: ataca o Procurador-geral da República, reduz o problema de corrupção a uma questão pessoal, critica o STF, acusa o governo de manipular o Ministério Público para investigá-lo, chuta o balde, ameaça com CPIs, insulta quem encontra pelo caminho, toma vaia por onde passa, mas se mantém ereto como um poste podre.

Quem dará o empurrão que o derrubará para sempre?

Sabe-se lá. Os cupins. O homem toma providências. Joga pelo regulamento. Antes, toma o cuidado de mudar o regulamento para melhor se defender.

Manchete da Folha de S. Paulo desta semana entregava tudo: \”Cunha muda norma para reforçar defesa nas investigações da Lava Jato\”. Que homem precavido!

Cobra o escanteio e faz o gol de cabeça. Não terceiriza. Faz.

Dizem que ele é muito inteligente. Quem fala isso costuma completar: \”Uma inteligência do mal\”. Que medo!

 

Cunha conseguiu, na semana passada, fixar uma nova regra pela qual deputados podem autorizar assessores a usarem senhas privativas dos eleitos, antes pessoais e intransferíveis, para protocolo de requerimentos e outros procedimentos.

Eduardo Cunha é ardiloso: a alteração tem o objetivo de indicar que isso era tão comum, tendo sido feito em seu nome no passado, que foi melhor formalizar.

Homem do ano, Eduardo Cunha quer se presidente da República em 2018. Só os cupins podem nos salvar. O malvado Eduardo Cunha só tem um inimigo pior do que ele: o governo.

Cunha botou em votação o fim do Fator Previdenciário, criado no governo FHC, que escorcha aposentados. O PT é contra e quer vetar. É uma nova forma de se refundar virando Partido dos Trovadores.

Só Eduardo Cunha, o homem do ano, faz pior.

Fonte: Fernando Brito

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