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Isolamento social leva general que serviu no Araguaia a surto psicótico

General Álvaro - Foto Comissão da Verdade

No sábado, dia 11, por volta das 18h40, uma equipe da operação “Lagoa Presente” foi acionada para conter um “senhor de bigode” na Rua Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, caminhando com arma em punho, em direção ao Clube Naval. ]

O senhor, denunciado por um transeunte, foi interceptado na esquina da Rua Maria Angélica. Em surto, ele gritava que queria fazer contato com os filhos. Os policiais isolaram o local e iniciaram uma negociação para que ele colocasse a arma – uma pistola Bereta, 9mm, no chão. Ele se negava e dizia que só a entregaria aos filhos. Foi solicitado o auxílio de supervisão do “Lagoa Presente”. Acorreram ao local os oficiais Capitão Santos Filho e o subtenente Fialho. Os dois requisitaram policiamento reforçado e fecharam a Av. Epitácio nos dois sentidos.

O que os oficiais não conseguiram fechar foi a porta das lembranças que, certamente, assaltaram e assaltam a mente do general de brigada, do Exército, hoje na reserva, Álvaro de Souza Pinheiro.

À beira da Lagoa o general Álvaro entrou em mais um surto psicótico, talvez em consequência da solidão do isolamento social imposto pela pandemia. Se é que ele o tem seguido.

O general em questão, abordado em flagrante por colocar em risco a vida dos transeuntes, foi um dos oficiais que serviram no palco da selva amazônica, reprimindo, torturando e matando os militantes da Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência à ditadura (1964/1985) organizado pelo PC do B no final dos anos de 1960, e no qual houve apenas cinco sobreviventes.

Cerca de 70 jovens integrantes do partido, sob a liderança de Maurício Grabois, foram perseguidos e mortos pelas forças regulares. O confronto, que mobilizou cerca de 10 mil homens da Marinha, Exército e Aeronáutica, terminou em 1974 e não é reconhecido oficialmente pelos militares.

Os corpos dos guerrilheiros jamais foram devolvidos às famílias e todos continuam na lista dos “desaparecidos políticos”, com exceção de Lucia Petit. Seu corpo foi localizado no cemitério de Xambioá, município onde se deram os conflitos, enrolado em um paraquedas militar.

A propósito, após chegarem ao local, os filhos, com a ajuda do capitão Santos Filho e a guarnição “Lagoa Presente” iniciaram a negociação para que a vítima depusesse a arma.  Conseguiram, finalmente, imobilizá-lo e desarmá-lo. Ao final, o general foi levado para o Hospital Central das Forças Armadas.

De acordo com informações passadas ao site GI, pelo Comando Militar do Leste (CML), “o homem – que não teve a identidade revelada – está na reserva do Exército desde 2002 e foi diagnosticado com síndrome demencial. A arma que o general portava foi apreendida e está acautelada na 14ª DP (Leblon).

Sem ligar o nome do general ao seu passado, o site G1, que tratou do assunto, convidou um psiquiatra para fazer uma avaliação do quadro do general e publicou o seguinte:

“Um psiquiatra ouvido pelo G1 explicou que a síndrome demencial se trata de um “processo de prejuízo global do cérebro”, e que geralmente ocorre numa idade avançada.

O especialista, que pediu para não ser identificado, atribuiu a síndrome a algumas causas como Alzheimer, Parkinson, senilidade e outras.

Sem tratar do caso específico do general, o psiquiatra explicou que é possível que pessoas diagnosticadas com síndrome demencial apresentem um quadro psicótico.

“Pode acontecer de uma pessoa, tendo um quadro desses, apresentar um quadro psicótico: delírios, alucinações… Pode acontecer”, afirmou.

O psiquiatra acredita que o isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus pode ser um dos motivos para uma pessoa apresentar esse “mau funcionamento do cérebro”.

E acrescentou que isso pode provocar delírios por diferentes razões, como mudança de ambiente, de casa e estresse.

O psiquiatra, que ignora a história do homem cujas atitudes ele foi instado a analisar, não podia imaginar que no isolamento social, os fantasmas das cenas de violência cometidas na selva pelo general da reserva, devem tê-lo assaltado, levando-o de volta ao encontro de Osvaldão, André, Maurício, Dina, Fátima, Lúcia… O passado cobrou o seu preço.

Denise Assis

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