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Jessé Souza: “Bolsonaro é o líder político da milícia”

Sociólogo Jessé Souza

Os desmandos políticos e sociais cometidos por Jair Bolsonaro desde que assumiu a presidência da República e a sua ligação com organizações paramilitares deram o tom da entrevista do escritor, advogado e sociólogo Jessé Souza a Ricardo Nêggo.

Para Jessé, o projeto de poder do atual mandatário do País visa unificar milícias e forças de segurança do Estado para garantir a sua governabilidade. “Esse sempre foi o seu plano. E ele nunca deixou de explicitar isso.

Bolsonaro é o líder político da milícia, e trabalha há duas décadas em conjunto com essa organização, tendo várias ligações entre eles.

A forma como ele se utiliza da política, a questão das “rachadinhas”, que, certamente, foi ele quem ensinou aos filhos como se faz. Ele age como um chefe de quadrilha. Não tem outra definição melhor”.

O autor de “A elite do atraso” associa a suposta política de combate ao crime que levou Bolsonaro ao poder – e que conta com a operacionalidade das milícias como braço do Estado – à continuidade do genocídio da população preta brasileira, o que ele classificou como racismo.

“Bolsonaro é o principal representante da mensagem miliciana, que propaga uma noção de guerra contra o crime, sob a forma de um racismo popular. Porque quem morre na guerra contra a polícia é o jovem negro.

As balas disparadas pela polícia sempre escolhem o corpo negro como alvo. Nas classes populares, quando se fala de violência policial, de guerra contra o crime, guerra contra as drogas e etc, as pessoas sabem que isso é uma senha para a matança indiscriminada de jovens negros.

Obviamente, isso é uma das formas de racismo. Quase sempre, o racismo precisa assumir uma forma, uma máscara, para que ele possa se exercitar dizendo que é outra coisa”.

O escritor aponta ainda o presidente da República como o homem escolhido pela elite burguesa para manter a estrutura social racista e excludente no País. “Bolsonaro é, e sempre foi o líder político desse racismo, que ele uniu ao racismo secular das classes dominantes brasileiras, que apoiaram Sérgio Moro no ‘combate à corrupção’.

Que também é uma máscara para o racismo, excluindo a participação de negros e pobres, para estigmatização do povo, para criminalizar a soberania popular e os eventuais líderes que as classes populares, na sua maioria, negra e mestiça, possa colocar no poder”.

Jessé Souza também avaliou a educação brasileira sob o governo de Jair Bolsonaro e classificou como “maldade em estado puro” o fato de o presidente ter recorrido ao STF para não ter que oferecer internet aos alunos da rede pública de ensino.

Jessé entende que “não há outra admissão para este fato. Bolsonaro não é apenas um político conservador como, por exemplo, Geraldo Alckmin, que governa para a elite, mas não é obrigatoriamente um monstro. Imagina um cara que recorre ao STF para impedir as crianças brasileiras que mais precisam de terem acesso à internet.

Isso é algo que demonstra a monstruosidade do que está acontecendo no País, que está no seu pior instante. A questão é entender como 57 milhões de pessoas votaram para eleger esse monstro, que todos já sabiam que era assim. O que está vindo à tona sobre ele são detalhes.

Porém, o que ele sempre foi e desejava já estava explícito. Estamos lidando com alguém que nunca escondeu quem ele era. E isso foi legitimado pela parte da sociedade que o elegeu. Uma prova de que estamos num país perverso e literalmente doente.

Um país que elege Bolsonaro é como a Alemanha que elegeu Hitler. E não é apenas uma aproximação retórica. Estamos falando de dois absurdos humanos, dois monstros”.

Brasil

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