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Juiz que recebeu “fatia” de processo de Moro diz que delação não pode ser tortura

juiz João Batista Gonçalves, da 6a. Vara Federal de São Paulo

O experiente Frederico Vasconcelos, blogueiro da Folha especializado no Poder Judiciário, deve ter boas razões para dizer que “deverá causar impacto entre os envolvidos nas investigações sobre corrupção na Petrobras a entrevista exclusiva concedida pelo juiz João Batista Gonçalves, da 6a. Vara Federal de São Paulo”.

Porque o juiz, que recebeu a “fatia” dos processos antes entregues a Sérgio Moro relativos a delitos que teriam se passado em  São Paulo, queira ou não, faz da entrevista da  ao Valor Econômico, publicada hoje apenas para os assinantes do jornal, é pura dinamite:

“Que diferença tem a tortura de alguém que ia para o pau de arara para fazer confissões e a tortura de alguém que é preso e só é solto com uma tornozeleira, depois que aceita a delação premiada?”

“Como pode o juiz recolher alguém no cárcere, forçá-lo a fazer a cooperação premiada e depois ele vai julgar. Com que serenidade?”

“Acho que a delação deve ser um instrumento à disposição dos imputados. Ela não pode ser extorquida, não pode ser obtida mediante coação, mediante violência.”

“Daí os mais antigos juízes, presentes a um seminário, que o ouviram falar  que a delação não era mero instrumento de condenação riram e falaram: ‘não, a juventude quer sangue’. O mesmo sangue que se queria no Coliseu. O mesmo sangue que se queria quando um romano enfrentava um leão.”

Hoje, o juiz Sérgio Moro é saudado nos jornais por ter decretado uma nova prisão preventiva do empresário Marcelo Odebrecht, diante da iminência da revogação da ordem anterior do Supremo, que mandou soltar um outro dirigente da empreiteira.

Os jornais destacam, quase que como “argumento jurídico”, o fato de que isso “garante” que Marcelo, que já está detido há quase  quatro meses e só há poucos dias foi interrogado pela primeira vez irá passar o Natal preso.

Os pitbulls  da turma do Diogo Mainardi comemoraram o fato de Moro ter sido “rápido”, como um cowboy: “O STF e o STJ terão muito trabalho para soltar a quadrilha”.

Será que o distinto leito e a caríssima leitora percebe alguma diferença de métodos ou de grau civilizatório?

Fernando Brito

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