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Le Monde analisa motivações por trás de ‘Bolsonaro, o presidente-miojo’

Bolsonaro e o miojo

Segundo o correspondente do jornal francês no Brasil, Bruno Meyerfeld, a postura anti-gastronômica do presidente brasileiro não teria nada de ingênua.

Ela seria executada para apelar ao eleitorado do “Brasil profundo”, e faria parte de uma estratégia de comunicação eficaz.

“Em suas viagens internacionais, há uma coisa que Jair Bolsonaro nunca esquece de levar em sua mala”, escreve o jornalista Bruno Meyerfeld, correspondente do Le Monde no Brasil.

“Seria um livro?

Um amuleto da sorte? Uma arma? Nada disso. São pacotes de macarrão instantâneo”.

O jornal francês destaca, não sem certa ironia, o fato do presidente do Brasil ter “gostos de comida simples e terrivelmente restritos, impedindo-o de tocar em vários pratos, especialmente no exterior”.

“Essa sensibilidade palaciana foi expressa excessivamente – como sempre – durante uma viagem ao Japão de 21 a 24 de outubro”, publica o vespertino.

Le Monde lembra que, Bolsonaro, visitando Tóquio para a entronização do imperador Naruhito, foi convidado a um “banquete imperial”, “infinitamente refinado baseado em peixes e frutos do mar, especialmente projetado para chefes de estado e cabeças coroadas como o príncipe Charles, Albert de Mônaco ou o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier”.

Falha diplomática

“Desembarcado no banquete de fraque, com o peito envolto em medalhas, Bolsonaro não abriu mão de seus hábitos e não tocou no banquete sumptuoso – contente com o famoso macarrão, preparado e provado no hotel após as festividades”, conta Meyerfeld aos franceses.

“Eu não gosto de comida à base de peixe, como apenas frito e cozido, explicou o presidente aos repórteres, acrescentando que não havia comido nada”, cita o jornal.

“Uma falha diplomática, quase uma afronta suprema, na terra do sushi e do sashimi”, avalia o repórter.

“Como sempre, Bolsonaro não se escondeu nem se desculpou. Pelo contrário.

Visivelmente orgulhoso de seu gesto, o presidente de extrema direita chegou a posar para uma transmissão de fotos nas redes sociais, com um pacote de miojo na mão”, publica Le Monde.

“Ele comeria até pedras”

“Mas com o “presidente-miojo”, como é apelidado, os cozinheiros do palácio de Alvorada (residência do Chefe de Estado) tiveram que reduzir seu cardápio”, explica Le Monde. “Bolsonaro não tem exigências, ele comeria até pedras”, já disse à imprensa uma próximo do chefe de Estado.

“A ‘bolstronomia’ pode ser resumida em feijoada (prato nacional feito de arroz, feijão e mandioca), carne grelhada, sanduíches e refrigerantes. A única extravagância (um pouco nauseante) do presidente acompanha o café da manhã: Bolsonaro de fato espalharia no seu pão… leite condensado”, diz o jornalista.

Uma estratégia de comunicação eficaz

Le Monde recorda que “de Nova York ou Brasília, Bolsonaro multiplicou suas ‘viagens de cantina’ ou ‘autoatendimento’.

“Porque, apesar das aparências, essa postura anti-gastronômica é bem pensada e faz parte de uma estratégia de comunicação eficaz”, diz o jornal.

“Mas toda a família Bolsonaro não come do mesmo prato”, lembra o jornal.

“Visitando Washington no final de agosto, Eduardo, o filho querido do presidente, fez uma boa refeição com os assessores e o Ministro de Relações Exteriores, em um restaurante muito chique da capital norte-americana: o Del Mar, às margens do Potomac”, diz o periódico.

“No cardápio do almoço: paella, tapas e sangria, com uma conta salgada de quase US$ 1.000 dólares, segundo a imprensa; tudo à custa do contribuinte. Um pouco envergonhado, Eduardo saiu do estabelecimento pela cozinha.

Sem dúvida, para evitar as perguntas dos jornalistas”, afirma Le Monde.

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