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Marco Rubio criará dificuldades para o Itamaraty e desestabilizará governo brasileiro, diz analista

Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden e o presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante fotografia oficial, na Casa Branca, Washington

Nomeação de Marco Rubio para a chefia da política externa norte-americana sob Trump acende alarmes na América Latina. Conhecido por uma política intervencionista, Rubio não fará as pazes com governos progressistas e poderá agir para desestabilizar o governo brasileiro, alerta especialista ouvido pela Sputnik Brasil.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, revelou traços da política externa de seu segundo mandato ao indicar o senador pelo estado da Flórida, Marco Rubio, para o posto de secretário de Estado. Caso confirmado para o cargo, Rubio será o primeiro norte-americano de ascendência latina a ocupar o posto equivalente a ministro das Relações Exteriores no Brasil.

“Marco é um líder altamente respeitado e uma voz muito poderosa em prol da liberdade”, escreveu o presidente eleito dos EUA, Donald Trump. “Ele será um forte defensor de nossa nação, um verdadeiro amigo de nossos aliados e um guerreiro destemido que nunca recuará diante de nossos adversários.”

Em resposta, Rubio se disse “honrado” e prometeu “alcançar a paz através da força, e colocar os interesses dos americanos e dos EUA sempre em primeiro lugar”.

A indicação de Rubio foi um balde de água fria para quem esperava inovações na política externa trumpista. Como membro das comissões de Relações Exteriores e de Inteligência do Senado, Marco Rubio defendeu temas clássicos da agenda neoconservadora norte-americana, garantindo apoio incondicional a Israel e antagonizando com China, Rússia e Irã.

Filho de refugiados cubanos e representante de um Estado com forte influência hispânica, Rubio poderá reforçar a presença de Washington na América Latina. Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, no entanto, não estão convencidos de que isso será positivo para o Brasil.

“Querendo ou não, a indicação de Marco Rubio é a mais convencional dentre as nomeações feitas por Trump até agora”, disse a pesquisadora-colaboradora do IESP-UERJ, Monica Hirst, à Sputnik Brasil. “Rubio tem uma carreira política consolidada e certa legitimidade para assumir o cargo, já que lidava com temas de política externa no Senado norte-americano.”

Segundo a especialista em relações Brasil-EUA Hirst, ainda que Rubio tenha posições distintas das de Trump, o seu perfil é de executor, e não formulador de políticas públicas.

“Caso Rubio queira permanecer no cargo, ele terá que se adaptar às posições do chefe do Executivo”, notou Hirst.

“A primeira administração Trump foi marcada por alta rotatividade, com o tempo médio de dois anos de permanência em cargos de alto nível.”

Apesar de serem considerados rivais dentro do Partido Republicano, Trump e Rubio coordenam posições sobre assuntos latino-americanos já há algum tempo. De acordo com a Associated Press, Rubio aprovou indicações de embaixadores para a região durante o primeiro mandato de Trump e representou o presidente em visitas oficiais à região.

“É inevitável que a região ganhe algum peso [durante o mandato de Rubio], dadas as devidas proporções, afinal já faz muito tempo que a América Latina não é prioridade estratégica para os EUA”, lembrou Hirst. “E Marco Rubio já nomeou seus alvos preferenciais: Cuba, Nicarágua e Venezuela.”

Para a especialista, estar no centro das atenções da administração norte-americana não é necessariamente algo positivo. Hirst lembra a atenção dada ao México, “que está no topo da agenda em função do pânico da deportação massiva de imigrantes”. No caso da Venezuela, a expectativa é de reforço da agenda de sanções econômicas e aumento da pressão sobre o governo de

“Em um contexto de tensão geopolítica, Marco Rubio e Donald Trump tentarão ‘Fazer a América Latina Norte-Americana Novamente'”, disse Hirst. “Não acredito que o esforço será bem-sucedido, mas a expectativa é essa.”

O professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Vinícius Rodrigues Vieira, concorda, e alerta para tempos difíceis para as nações latino-americanas.

“Essa atenção será perigosa e a América Latina fica sujeita à instabilidade política”, disse Vieira à Sputnik Brasil. “A América Latina será tratada como um parceiro subordinado não só aos EUA, mas também à extrema direita norte-americana, representada por Donald Trump.”

Segundo o professor, o isolacionismo trumpista não significará menos intervenção norte-americana em países terceiros, mas sim ação unilateral, sem o aval de aliados ou formação de coalizões.

“Não há ali um isolacionismo, senão um recrudescimento do unilateralismo e das ações bilaterais, em detrimento do multilateralismo”, explicou Vieira. “Será uma administração que encara os EUA como a nação escolhida, branca, cristã, que deve agir sem articulação com parceiros ou organizações internacionais para garantir a sua primazia no mundo.”

Após aproximação com a administração Biden, o governo Lula poderá ter dificuldade para estabelecer contatos produtivos com o novo presidente do Partido Republicano. Para Vieira, a recente declaração da primeira-dama Janja Silva sobre o aliado de Trump Elon Musk tampouco favorece a aproximação entre o Planalto e a Casa Branca.

“Ainda que o Itamaraty tente rever as diretrizes de sua política externa, não vai conseguir conquistar Trump”, acredita Vieira.

“Acredito que Rubio criará dificuldades para uma aproximação institucional com o Itamaraty e, ainda que mantenha as aparências, no subterrâneo haverá, não tenho dúvidas, tentativas de desestabilização do governo brasileiro, como já houve no passado.”

Ana Lívia Esteves

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