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Neste domingo, brasileiros em Madrid pela democracia

Cartaz também divulgado em espanhol

Diante da atual crise política do Brasil, Madri não será uma exceção na onda de manifestações de brasileiros no Brasil e pelo mundo. No domingo, dia 03 de abril de 2016, na Puerta del Sol, lutaremos pela democracia, liberdade e direitos sociais e contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Um impeachment sem base jurídica, solicitado pela oposição e pelos grandes meios de comunicação desde o primeiro dia do segundo mandato de Dilma, que ganhou as eleições com 54 milhões de votos. Um claro rancor eleitoral. A perfeita definição da falta de respeito às urnas e às regras do jogo democrático.

A manifestação está sendo organizada por um movimento apartidário que pretende levar às ruas a indignação diante do golpe de Estado que está sendo orquestrado no Brasil e elucidar a todos os interessados sobre a situação que o país vive nesse momento.

As manchetes publicadas sobre o impeachment de Dilma Rousseff na imprensa espanhola não explicam a complexa crise que o país está atravessando. Gostaríamos de contribuir com nosso ponto de vista.

Temos a força de muitos, por todo o planeta, desde meios de comunicação internacionais, denunciando as manipulações informativas no Brasil, até referentes políticos mundiais como José Mujica, explicando que “a direita brasileira não quer perder seus privilégios.”

Em Madrid, também iremos fazer nossa contribuição e, para isso, abordaremos três pontos que consideramos primordiais:

1. A corrupção como desculpa

Todos os que desejam a saída da presidenta Dilma Rousseff utilizam como argumento a corrupção de seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT). Nós que clamamos pela sua permanência, obviamente, também condenamos a corrupção. É inaceitável!.

No entanto, é extremamente ingênuo acreditar que a corrupção nasceu com o PT e que morrerá com a sua saída da presidência. Atualmente, quase todos os partidos brasileiros estão manchados por escândalos.

Segundo a ONG “Transparência Brasil”, dos 65 deputados que formam a comissão que analisa a legitimidade do processo de impeachment, 34 estão acusados de corrupção e outros crimes graves. Um processo de impeachmentdeve ter bases e fundamentos para  que seja instaurado. Caso contrário, esse processo deveria receber outro nome.

Dilma nunca esteve envolvida com nenhum caso de corrupção e as acusações do Ministério Público de São Paulo ao ex-presidente Lula não foram aceitas pelo juiz que leva seu caso. No entanto, o ex-presidente Lula já passou por um julgamento midiático e foi condenado antes de poder se defender.

É importante para a Democracia brasileira que todos os casos de corrupção sejam julgados e condenados pelos órgãos competentes da Justiça e que os corruptos saiam do Congresso diretamente para a prisão. Para isso, é necessário que o poder judiciário seja independente e apartidário.

E que o quarto poder, a imprensa, vigie e denuncie as irregularidades cometidas pelos políticos. E isso nos leva ao seguinte ponto:

2. Um golpe jurídico-midiático

Aproximadamente dez famílias controlam os principais meios de comunicação do Brasil. Meios que apoiaram o golpe militar de 1964 e que agora fazem uma oposição explícita aos governos do PT.

Desde o primeiro dia do governo de Dilma Rousseff, a grande mídia brasileira como a TV Globo e a revista Veja deixaram de lado a ética e o trabalho jornalístico para fazer propaganda. Manchetes e chamadas dos jornais impressos e na TV estão a serviço da raivosa oposição conservadora e das classes mais favorecidas.

Os espaços para retratações estão sempre em letras pequenas e nas páginas interior. Essa mídia encontrou em alguns membros do poder judiciário os aliados perfeitos para levar adiante uma guerra aberta contra o governo, como o juiz Sergio Moro, por exemplo, que ordenou a prisão do ex-presidente Lula para prestar declaração.

Um prisão desnecessária, uma vez que Lula nunca tinha se negado a declarar, e que contou com a cobertura exclusiva da mídia.

O objetivo de Moro com essa medida não foi dar continuidade à investigação do caso de corrupção na Petrobras mas sim conseguir uma manchete: “o presidente Lula (o maior símbolo do PT e talvez o grande responsável pela eleição da Dilma) é preso”.

Esse dia os meios julgaram e condenaram Lula sem direito a presunção de inocência. Sem direito nem mesmo a um julgamento. O juiz Moro, em vez de atuar em benefício da justiça, atuou de forma interessada e partidária manchando, dessa maneira, a instituição que representa.

A detenção “para declarar” de Lula aconteceu algumas semanas depois de que ele anunciasse a possibilidade de se candidatar novamente à presidência da república e poucos dias antes da grande manifestação contra o governo de Dilma. Um timing estudado que, para uma parte da sociedade, desmascarou a clara intenção de golpe jurídico-midiático que estava se organizando no país.

Além disso, somam-se os grampos telefônicos à Lula e à própria Presidência da República, vazados exclusivamente à Rede Globo algumas horas depois, como se se tratasse de um Reality Show.

“O Brasil não tem povo, tem público”, diria Lima Barreto. Sobre esses grampos telefônicos, o juiz Moro teve que pedir desculpas. Mas claro, essas desculpas foram publicadas com letra pequena e em alguma página interior.

3. A saída é pela Esquerda.

Desde o dia 18 de março, coletivos formados por artistas, médicos, professores, advogados, escritores, editores, livreiros, estudantes, movimentos sociais e sindicatos saíram às ruas de todo o Brasil para denunciar o Golpe de Estado.

Personalidades da cultura brasileira como Chico César, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Wagner Moura, como outros milhões de brasileiras e brasileiros manifestaram seu apoio à democracia. Isso não significa que essas pessoas defendam siglas, se trata de defender o voto de 54 milhões de brasileiros.

Não se pode mudar um governante eleito pelo povo porque suas políticas não favorecem à elite e aos grupos de poder. Especialmente se não existe nenhuma acusação contra a presidenta. De acordo com a Constituição brasileira, as mudanças de governo devem acontecer de quatro em quatro anos sempre através das urnas.

As manifestações que ocuparam as ruas do país e do mundo, e às quais nos unimos em Madrid, não estão somente contra o impeachment, mas também exigem que o governo de Dilma continue com as medidas sociais que caracterizaram os governos do PT.

Nos últimos meses, o governo implementou medidas de austeridade que tem como objetivo agradar determinados setores da base aliada da direita e evitar o impeachment, uma tentativa que não deu o resultado esperado.

Dia 03 de abril às 17 horas, na Puerta del Sol, gritaremos que “a saída é pela esquerda”. Denunciaremos o Golpe de Estado e enalteceremos a democracia pela qual milhares de compatriotas derramaram sangue, não faz muito tempo. Mostraremos nossa oposição ao impeachment e, ao mesmo tempo, exigiremos que o Governo Dilma implemente mais políticas sociais, como as que conseguiram tirar 40 milhões de brasileiros da pobreza.

Muitas medidas ainda precisam ser feitas, as que ela prometeu e as que são necessárias. Há muito trabalho pela frente e lutaremos por isso.

P.S: O coletivo de brasileiras e brasileiros que vivem em Madri informa que esse documento já foi remetido, em espanhol, para os meios de comunicação daquele país.

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