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NO ÚLTIMO DEBATE DILMA GANHOU DE POUCO, VENCEU DE MUITO

O debate de ontem terminou na primeira pergunta. Aécio Neves tentou usar a última edição da VEJA para colocar Dilma contra a parede.

A presidente deu uma resposta a altura, desqualificando uma denúncia que nem seu autor – nem a revista que a publicou – conseguem sustentar com base em provas. Foi uma colocação firme, sem piscar.

O debate terminou aí porque, como se sabe, o último debate de uma campanha envolve uma questão essencial. Quem está na liderança das pesquisas joga na defesa e pode ganhar mesmo que empatar.

Quem está atrás precisa tentar virar o jogo de qualquer maneira, mas isso só se consegue quando o interlocutor oferece brechas e oportunidades.

Num confronto que tem algo de uma luta de boxe, é preciso encaixar golpes no rival – uma forma de mostrar ao júri de eleitores, indecisos e pouco firmes, que ele tem pontos fracos que precisam ser levados em consideração.

Mas a presidente atuou como se estivesse protegida por uma couraça. Quando a primeira revista não deu certo, Aécio falou de uma reportagem da Istoé.

Entre o 5 de outubro, dia do 1 de turno, e o debate de ontem, o eleitorado brasileiro assistiu a uma outra campanha. Durante um ano inteiro, o discurso da oposição – qualquer que fosse seu candidato – colheu o benefício da postura dos principais meios de comunicação contra o governo.

Tratados como questões prioritárias da eleição, temas como inflação, baixo crescimento, incompetência administrativa, Petrobras, dominaram a agenda da primeira fase, graças também a um auxílio numérico, também. Em cada confronto presidencial, ocorria um conflito de 6 contra 1, sem alívio para a presidente.

No segundo turno, o debate teve outro horizonte.

Graças ao horário político, o domínio dos meios de comunicação foi amenizado. As redes sociais também mostraram seu alcance e sua garra. Tudo isso permitiu a Dilma defender os pontos de vista do governo, ajudando sua campanha a reencontrar a base de apoio que vinha construindo aos trancos e barrancos desde a posse.

Para dois terços do eleitorado, a inflação ficará como está ou pode cair. O desemprego pode diminuir ou ficar na mesma proporção. Para 44%, o crescimento pode melhorar.

Ao derrotar Marina Silva no plano das ideias e dos argumentos, num jogo que foi bruto de parte à parte, Dilma não venceu apenas uma candidatura. Também derrotou uma visão política, a noção de que o mercado tem as melhores e mais eficientes respostas para um país como o nosso. Fazendo uma campanha muito mais à esquerda do que seu governo, a presidente mostrou realizações.

Voltou ao discurso pobre x rico que está na origem do PT – e de toda organização política nascida pelo reconhecimento da existência de uma luta de classes nas sociedades contemporâneas.

O reconhecimento dos dramas mas também dos benefícios do presente permitiu ao eleitorado recordar o “passado”, aquela parte da história do país com a qual os herdeiros de 500 anos de governo tem uma compreensível dificuldade para conviver e explicar.

Com uma visão basicamente identica, que lhe permitiu diversas ações combinadas de auxílio-mutuo, Aécio ultrapassou Marina – mas já estava sem uma perna quando chegou ao segundo turno e precisava enfrentar um debate cara a cara. Não por acaso, perdeu todos os confrontos, inclusive aquele em que foi o mais agressivo. Empurrado para um canto conservador, debateu-se em contradições insolúveis.

As intervenções de Armínio Fraga como candidato a ministro da Fazenda trouxeram mais danos do que benefícios a candidatura, em especial depois de uma derrota amarga num debate – assistido por todos os entendidos – para Guido Mantega.

Aécio tentou, ontem, usar a AP 470 contra o governo – missão difícil para quem não oferece respostas convincentes para o mensalão PSDB-MG, que o eleitor hoje conhece e condena até com mais vigor, pois não levou a uma única punição.

Denunciou o porto de Mariel, em Cuba, um negócio que é difícil de condenar do ponto de vista comercial – mas serve para explorar o anticomunismo primitivo de fatias conservadoras do eleitorado, apenas.   

Fonte: Paulo Moreira Leite

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