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Caminhando ao inferno até João “de Deus”: a banalização do mal

O mal está banalizado

Uma das notícias que chocou o país recentemente é o escândalo de João “de Deus”, criminoso sexual que se dizia médium, aproveitando-se de uma sociedade já tão abusada que não se lembra dos últimos abusos sofridos.

O abuso sexual está em pacote no qual se incluem o estelionato da fé, com curandeirismo charlatão, e a venda de milagres para ficar rico facilmente, como se isso fosse possível sem que se trabalhe. Bastaria “comprar” o milagre.

O resultado disso é que falsos líderes religiosos, como pastores, médiuns, pais de santos e demais embusteiros, tornam-se bem sucedidos financeiramente. Alguns até milionários.

Se você tem um espírito verdadeiramente cristão não pode se deixar ludibriar por esses bandidos e, para saber se são pregadores cristãos, basta conhecer o que pregam os evangelhos e comparar com o que essa gente prega e faz em nome dos evangelhos.

Cristo ensinou o desapego às coisas materiais. Logo, se eles pregam como graça a aquisição de bens materiais, não passam de bandidos. Se a graça ou o milagre fossem se tornar rico, Cristo seria o mais rico de todos. Mas veja o que Cristo fala de si:

Mateus 8:20 Jesus lhe respondeu: As raposas têm tocas, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde descansar a cabeça.

Vejamos o que Cristo fala da riqueza e do rico:

“Mateus 6:24 Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”

“Mateus 13:22 E o que foi semeado entre os espinhos, esse é o que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, e ela não produz fruto.”

“Marcos 10:23 Então, olhando em redor, Jesus disse aos discípulos: Como é difícil para quem tem riquezas entrar no reino de Deus!”
Se eles pregam algo diferente disso é porque são bandidos.

Vejamos o que o apóstolo Paulo fala sobre como ele vive, enquanto pregador do evangelho:

“1Tessalonicenses 2:9 Irmãos, sem dúvida vos lembrais do nosso trabalho e fadiga; trabalhamos dia e noite para não ser um peso a nenhum de vós, enquanto vos pregamos o evangelho de Deus.

”Se eles fizeram da condição de pregadores do evangelho um meio de vida de conforto, luxo e abundância de bens materiais é porque são bandidos. E não adianta dizer que é tudo de propriedade da igreja se o usufruto é deles.

Passemos, agora, ao que o apóstolo Pedro fala dos falsos líderes religiosos e dos que se deixam enganar:

“2Pedro 2:14 Têm os olhos cheios de adultério e são insaciáveis no pecar; enganam os inconstantes e têm o coração exercitado na ganância. São malditos.”

O noticiário da televisão de todo dia é violência e de abusos, a tal ponto que não nos escandalizamos mais.

Esta naturalização da imoralidade, da improbidade e de todo o mal costume praticados pela sociedade provocam apatia e desesperança no povo e indiferença com o próximo e com o destino do país, levando o povo a se apegar nesses salafrários, não distinguindo mais o mal do bem, o bom do mau.

Essa banalização vemos, por exemplo, quando se corrompe um policial para não ser multado, quando um policial forja provas para incriminar alguém, quando um juiz condena um inocente para obter alguma vantagem (conhecemos bem um que, recentemente, foi premiado com um ministério por ter condenado um inocente).

Isso tudo faz com que as pessoas não conheçam mais a si próprias e não consigam se definir; faz aumentar a ignorância e, consequentemente, o preconceito, a maldade, a naturalização da hipocrisia e da demagogia.

Fica tudo normal e a ignomínia se torna apenas mais uma notícia: Roger AbdelMassih, João “de Deus” e tantos outros que não são denunciados, investigados e, muito menos, condenados. É tudo normal para uma sociedade que não se manifesta mais segundo sua própria vontade e consciência, mas é apenas manipulada.

Diante de tantas atrocidades também é normal um juiz de primeira instância cometer infrações, desafiar a segunda instância e desconsiderar qualquer decisão do Supremo Tribunal Federal, abrindo graves precedentes e dando mal exemplo a outros juízes, que se sentem livres para fazer o mesmo.

Torna-se normal também o sistema judiciário forjar provas contra um ex presidente da república, prendê-lo para tirá-lo da disputa presidencial. É normal. Só mais uma notícia. É tudo normal.

Uma sociedade tão violentada e confusa não sabe mais o que é certo nem o que é errado. Não sabe mais pensar.

Há um estupro da consciência cada vez que se liga a televisão e se recebe como programação os crimes diversos do dia a dia: assassinatos, corrupção, mal feitos e abusos das autoridades.

Usos e costumes cada vez se distanciando mais do bem e da ética, forjando uma nova moral, indecente, vil, perigosamente violenta e sem parâmetros que enlevem o espírito.

Os abusos das autoridades tornaram-se comuns e aceitos pela sociedade, naturalizando tamanha violência a ponto de autoridades inexpressivas forjarem provas contra um ex-presidente da república, o melhor presidente que o Brasil já teve, o político mais influente do mundo neste século.

Mesmo sem nenhuma prova, a sociedade aceita tudo naturalmente, sem ao menos indignar-se.

É só mais um estupro. Até quando?

*Nereu H. Cavalcante é filósofo

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