“Chorei muito quando vi saindo”, diz vizinha. Homem manteve esposa e filhos em cárcere por 17 anos.
Por conta da desnutrição, adultos têm aparência de criança de 10 anos. Luiz Antônio tinha o apelido de ‘DJ’ por colocar som alto para abafar gritos de dor e socorro. Os filhos nunca frequentaram a escola
Luiz Antônio Santos Silva manteve a esposa e os dois filhos em cárcere privado durante 17 anos. As vítimas foram resgatadas na sexta-feira (29) no bairro da Foice, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O torturador era apelidado na vizinhança de ‘DJ’ por colocar música alta todos os dias. Agora sabe-se que ele fazia isso para abafar os gritos de socorro das vítimas, que viviam acorrentadas e desnutridas.
Viviam na casa o agressor, Luiz Antônio Santos Silva, a mulher dele e dois filhos, de 19 e 22 anos. As identidades das vítimas não foram divulgadas.
Apesar da idade adulta, vizinhos e policiais relataram que os filhos do agressor aparentam ter cerca de 10 anos por causa da desnutrição.
“Chorei quando eu a vi saindo. Você olhava e dava uns 8 anos para ela”, disse uma vizinha.
Policiais militares foram até a casa após uma denúncia anônima. O agressor foi preso por agentes do 27º BPM e vai responder por sequestro ou cárcere privado; vias de fato; maus-tratos e crime de tortura.
Segundo os policiais que libertaram as vítimas, a principal preocupação no momento do resgate foi oferecer atendimento médico. “A situação era estarrecedora”, resumiu o policial militar que prestou socorro.
“Os policiais que primeiro chegaram aqui encontraram essas crianças realmente amarradas. Posteriormente, eu cheguei e vi que elas estavam sujas, subnutridas. Então, a preocupação imediata foi de prestar socorro médico. O Samu foi acionado para prestar todo o socorro. Inclusive, elas se encontram agora sob os cuidados médicos”, disse o PM.
A mulher e os dois filhos viviam em condições sub-humanas, amarradas e sem higiene havia 17 anos. Eles foram encontrados acorrentados.
Em depoimento à polícia, a mulher disse que os três sofriam violência física e psicológica de forma permanente e que eles chegavam a ficar três dias sem comer.
A mulher disse que tentou se separar do marido várias vezes e que o homem dizia que ela só sairia de lá morta. Ela também afirmou que Luiz Antonio Santos Silva nunca permitiu que ela trabalhasse nem que os filhos frequentassem a escola.
Moradores contaram que, antes da denúncia anônima que levou a polícia até a casa da família nesta quinta-feira (28), outras denúncias já haviam sido feitas ao posto de saúde do bairro e ao Conselho Tutelar — mas nada adiantavam.
Os vizinhos também relataram que Luiz Antonio costumava jogar fora a comida que recebia de doação para que a mulher e seu filhos não comessem.
O vizinho Sebastião Gomes da Silva disse que conseguiu dar uma fruta para um dos filhos no dia em que a família foi resgatada.
“A bichinha pegou a banana e comeu com casca e tudo. Ela estava com muita fome”.
O Conselho Tutelar de Guaratiba disse que acompanha o caso há dois anos e que acionou o Ministério Público e polícia, mas nada foi feito até então.
RPP