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Mensagens mostram perseguição de ex-padrasto a jovem assassinada

Anna Carolina Pascuin Nicoletti

O advogado Eduardo de Freitas tornou-se réu por homicídio qualificado após a Justiça aceitar uma denúncia do Ministério Público que o responsabiliza pela morte de sua ex-enteada, Anna Carolina Pascuin Nicoletti, de 24 anos.

No entanto, o juiz não aceitou a prisão preventiva e ele responderá o processo em liberdade.

Anna Carolina foi achada morta no dia 13 de novembro de 2021, na cama dela, com uma marca de tiro na cabeça. De acordo com testemunhas, o ex-padrasto da vítima “tinha obsessão” por ela e já chegou a invadir a casa da família em Pilar do Sul (SP).

“Chegamos a entrar com uma medida protetiva contra ele [Eduardo]. Depois disso, implorei para que ela [Anna] se mudasse de Pilar do Sul. Era uma nova fase e ela parecia estar feliz”, conta Elaine Pascuin, mãe da vítima, acrescentando que a filha mudou-se para Sorocaba em janeiro de 2021.

Elaine Pascuin disse que manteve um relacionamento de quase 15 anos com Eduardo de Freitas e que, durante esse período, passou a estranhar a superproteção que ele tinha com Anna Carolina.

Segundo Elaine, ela decidiu romper a união no início de 2016, mas o advogado não concordou com a partilha dos bens e passou a persegui-la.

“Ele falava que era dono de tudo. E, ao mesmo tempo que era agressivo, ele pedia perdão e dizia que juntos éramos a família perfeita. Foi aí que eu me mudei para Sorocaba com a minha filha, mas diante de tanta insistência, resolvemos manter uma relação amistosa e voltamos para Pilar do Sul. A Carol foi junto e começou a trabalhar no escritório de advocacia dele”, lembra.

Apesar da tentativa, Elaine contou que a relação com o advogado ficou insustentável. Pouco tempo depois, ele foi preso suspeito de crime sexual contra uma adolescente.

Na época, a polícia informou que a vítima era ex-funcionária do advogado e afirmou que foi ameaçada pelo ex-chefe.

Obsessão e estupros
Nesta quarta-feira (9), a Polícia Civil divulgou uma sequência de prints de mensagens  que revelam como Eduardo de Freitas continuava perseguindo e sufocando Anna Carolina, mesmo após a mãe da vítima ter se separado do homem em 2016.

Segundo a investigação, enquanto Carol ainda morava em Pilar do Sul, o réu invadiu a casa dela e passou a lhe enviar fotos dos cômodos e mensagens, quando acreditou que ela estaria com outra pessoa. A bolsa dela também teria sido levada.

Após a ida da jovem para Sorocaba, o ex-padrasto teria criado um perfil fake e se passado por um cliente para visitá-la na loja onde trabalhava.

Em depoimento, a mãe de Carol contou que, há cerca de 4 anos, encontrou uma foto de Eduardo em cenas sem roupas e em horários que estaria com Anna Carolina.

A mãe chegou a indagar a filha sobre a situação, e Carol afirmou ter sofrido abusos sexuais do então padrasto desde os 14 anos.

A vítima já tinha 18 anos quando a situação veio à tona e os abusos não foram denunciados à polícia.

Conforme o relato da mãe, com 15 anos, a jovem chegou a viajar para Santa Catarina, em um parque temático, com Eduardo. Foram cerca de 5 dias juntos. Em outra viagem, os dois também foram sozinhos para o Mato Grosso quando ela já era maior de idade.

Depois de uma série de desentendimentos e separação da mãe de Anna Carolina com o réu, as perseguições não pararam.

O ex-padrasto chegou a matricular-se no mesmo curso da jovem, de medicina veterinária, e tentar ficar na mesma sala de aula. Mãe e filha conseguiram medidas protetivas contra Eduardo, que não poderia se aproximar delas.

Câmeras e contradições em depoimento
Os investigadores conversaram com funcionários da loja em que a vítima trabalhava. Testemunhas relataram que Anna Carolina contou que em junho de 2021 o ex-padrasto se passou por cliente e estacionou o carro em frente ao estabelecimento para supostamente obter informações de um veículo. Ainda segundo os relatos, ao ver que ele estaria entrando na loja, a vítima correu para um depósito.

A polícia analisou câmeras de segurança e viu que no dia da morte a vítima saiu às 18h01 do trabalho e foi até o terminal de ônibus, como de costume. Imagens revelam que, naquele dia, Eduardo passou perto do local às 17h45. Em interrogatório, o réu confirmou que estava em Sorocaba, mas disse que apenas comprou materiais de construção e retornou para Pilar do Sul.

Ainda no interrogatório, Eduardo disse que foi direto para a casa da mãe dele, onde teria passado a noite e de lá só teria saído no dia seguinte pela manhã, para ir até seu escritório.

Intimida pela polícia, a mãe de Eduardo contou outra versão e disse que o filho não havia voltado para casa desde a hora do almoço, bem como não tinha dormido na residência.

Em nota, a defesa de Eduardo informou que ele enviava mensagens a Anna Carolina, mas que seriam de “preocupações paternas” e que as duas viagens realizadas entre os dois, na adolescência e outra já maior de idade, seriam como “pai e filha”.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a vítima sofreu um disparo de arma de fogo na região da testa, sem a saída do projétil. A arma do crime nunca foi localizada.

Uma página no Instagram foi criada por amigos para pedir Justiça pelo crime.

RPP

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