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Mulher denuncia intolerância religiosa após vereadora de SP e Michelle Bolsonaro compartilharem vídeo nas redes sociais

Mulher denuncia intolerância religiosa após vereadora de SP e Michelle Bolsonaro compartilharem vídeo nas redes sociais — Foto: Reprodução/Redes Sociais

A baiana de receptivo Dekka Direitinha denunciou ter sofrido ataques de intolerância religiosa cometidos pela vereadora de São Paulo Sonaira Fernandes (Republicanos) e a primeira-dama Michelle Bolsonaro após a divulgação de um vídeo, onde Dekka aparece ao lado do ex-presidente Lula, com uma mensagem que associa o “banho de pipoca” às trevas.

“Sou iniciada no candomblé e respeito todos. Não acho justo este tipo de comentário preconceituoso, estou injuriada com esta situação, é uma fama que confunde, de um lado tem gente que elogia, por estar com Lula e outros criticam, isso preocupa. Entrego a Deus pra ser tudo resolvido”, desabafou Dekka.

Na segunda-feira (8), Michelle Bolsonaro compartilhou nas redes sociais um vídeo que mostra Dekka Direitinha em um ritual de religião de matrizes africanas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência do Brasil. Na legenda, a primeira-dama afirmou: “Isso pode, né! Eu falar de Deus, não”.

O vídeo, que mostra Lula recebendo um “banho de pipoca”, foi gravado em 26 agosto do ano passado, na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Ele foi originalmente publicado pelo deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).

Vereadora fez publicação de repúdio a ritual de religiões de matrizes africanas — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Michelle Bolsonaro, no entanto, compartilhou o vídeo de uma publicação feita pela vereadora Sonaira Fernandes, também na segunda-feira (8).
As imagens foram divulgadas acompanhadas da legenda: “Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição. Não lutamos contra a carne nem o sangue, mas contra os principados e potestades das trevas. O cristão tem que ter a coragem de falar de política hoje, para não ser proibido de falar de Jesus amanhã”.
Dekka é baiana de receptivo há 20 anos, além de assessora parlamentar de um deputado estadual do PT da Bahia, dona de uma marca de molho de pimenta e fundadora do bloco feminino, do bairro Nordeste de Amaralina, As Direitinhas.
Na sexta-feira (15), o advogado Rodrigo Coelho, responsável pela defesa da baiana, informou ao g1 que apresentou uma queixa-crime por injúria contra Sonaira Fernandes e Michelle Bolsonaro. A reportagem teve acesso ao documento nesta segunda-feira (15).
“O fato tomou conta do país, tendo a imagem da querelante circulado como uma pessoa associada às trevas em virtude de fazer parte de religião diferente a religião da Querelada, gerando danos à imagem, constrangimento e sendo motivo de piadas entre as pessoas. Portanto, pelos fatos narrados não restam dúvidas que a querelada foi autora do crime indicado, razão pela qual requer a sua condenação”, diz parte do documento.

De acordo com Rodrigo Coelho, a ação foi ingressada com a qualificadora em decorrência da raça, cor e religião. Ela foi distribuída no 1° Juizado de Nazaré, em Salvador.
“Além da condenação de quem praticou o ato, nós queremos a retratação da vereadora Sonaira Fernandes e Michelle Bolsonaro e que as duas publiquem, nas redes sociais, posts sobre a intolerância religiosa e a história das religiões de matrizes africanas”, disse Rodrigo Coelho.
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) informou que a petição contra a vereadora Sonaira Fernandes foi protocolada e distribuída na sexta-feira (12) e tramita na 4ª Vara do Sistema dos Juizados Especiais Criminal.
De acordo com o TJ-BA, na segunda-feira (15), o processo foi enviado para análise do juiz.
Já a queixa-crime contra Michelle Bolsonaro foi protocolada em segredo de Justiça, segundo a defesa de Dekka Direitinha.
“O processo será redistribuído em virtude do declínio de competência. Não podemos dar mais detalhes em virtude do segredo, mas acredito que com novo magistrado o segredo deve cair”, afirmou o advogado Rodrigo Coelho.
O g1 entrou em contato com a vereadora Sonaira Fernandes e com a assessoria de Michelle Bolsonaro por telefone, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.

Em nota, o Coletivo de Entidades Negras repudiou o caso e disse que Michele Bolsonaro estimula a perseguição às religiões de matriz africana.

“Michele Bolsonaro estimula a perseguição às religiões de matriz africana. O ato de intolerância religiosa praticado por ela reforça todo o ódio que é característica central do bolsonarismo nesses anos de governo. […]

A primeira-dama não só divulgou vídeo racista que ataca encontro do ex-presidente Lula com lideranças do candomblé, definindo nossa religião como ritual “trevas” e dos “demônios”, como usou também as redes sociais para escrever barbaridades que se configuram em grave violação de direitos humanos contra o povo de axé. […]

Reafirmamos que racismo é crime, intolerância religiosa é crime e racismo religioso também! Michele Bolsonaro terá que pagar pelo crime que cometeu.”

Por g1 BA

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