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Após ataques armados, agricultores da Zona da Mata de PE conquistam posse de terras

Pequenos agricultores ameaçados de morte

Depois de enfrentarem ameaças de morte no fim do ano passado, alguns agricultores do Engenho Batateiras, no município de Maraial, localizado na Zona da Mata Sul de Pernambuco, conquistaram a manutenção de posse da terra nesta terça-feira (5).

A decisão veio de uma liminar da juíza Carolina de Almeida Pontes de Miranda, da Vara Única da comarca do município.

Os agricultores moram na região há décadas e foram surpreendidos em maio de 2020 pela reivindicação do terreno pela empresa IC Consultoria em Empreendimentos Imobiliários LTDA, do empresário Walmer Almeida da Silva.

O representante da Comissão Pastoral da Terra, Geovani José Leão, destacou a importância da liminar.

“Pelo menos os três agricultores que tinham entrado primeiro com usucapião fosse garantida a manutenção de posse até que tudo seja julgado e finalizado, mas pelo menos agora esses três agricultores vão ter paz, sem que o gado ou os funcionários do Walmer entrem nos seus sítios”, afirma.

No total são 47 famílias que residem na região. E, apesar da conquista dos três agricultores, outros 44 ainda aguardam julgamento do pedido de manutenção da posse.

Enquanto isso,  os moradores denunciam que o conflito tem impedido a produção agrícola e que vem sofrendo com ameaças durante todo o ano passado, como afirma um dos moradores do local, que preferiu não se identificar.

“Lá era um lugar bom de se viver, a gente dormia tranquilo. Hoje a gente dorme com medo, dorme sem saber se vai acordar. Desde que ele chegou, passamos por várias ameaças, eu fiz alguns BOs. Quando foi no dia 24 de dezembro, nós conseguimos gravar algumas ameaças dele para com a gente, e Deus tomou a frente para que não acontecesse algo pior”, relembra.

O caso é mais um dos episódios de violência acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra, que no fim de 2020 emitiu um relatório com dados parciais sobre a violência no campo, que atualmente afeta 130.137 famílias em todo o país.

Geovani explica que as famílias vítimas do conflito ocupam a terra há mais de meio século.

“São agricultores que moram em pequenos sítios, isso há muitos anos. Tem agricultor que mora lá há 50 anos. Então foi o avô ou o pai que moravam. Batateira era como se fossem dois engenhos, duas partes, uma em que as usinas sempre plantaram cana. E tem outra parte que é dos posseiros, doada muito antigamente pelo antigo dono, provavelmente antes de 1953, e essa parte está com os agricultores e com os posseiros há muito tempo, e isso foi passado de pai para filho”.

A reportagem entrou em contato com a Polícia Militar da região, a Prefeitura de Maraial e a empresa IC Consultoria em Empreendimentos Imobiliários LTDA, mas não obteve respostas até o fechamento desta matéria.

Ainda não há previsão de julgamento dos processos dos outros agricultores do Engenho Batateiras

Lucila Bezerra

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