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Brumadinho: na véspera do Natal, buscas não são interrompidas

Bombeiros continuam buscas em Brumadinho mesmo no Natal

Pelo menos 100 militares vão passar a semana longe de casa para continuar a operação que procura os corpos de 13 pessoas.

O Natal, que celebra o nascimento de Jesus Cristo, também vai marcar em Brumadinho o “renascimento” de todos aqueles que sobreviveram à tragédia.

Acostumado a trabalhar em feriados e em fins de semana, o soldado do Corpo de Bombeiros Lucas Miraglia já previa que seria escalado para alguma missão durante o período do Natal. Mas ele não imaginava que voltaria a atuar em Brumadinho, na maior operação de buscas da história do país.

O soldado Lucas compõe o efetivo de 100 militares que vão continuar as buscas pelos corpos das 13 pessoas ainda não localizadas.

Como consequência, ele não vai passar o Natal com os pais, que estão em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Apesar de estar longe de casa, o soldado encara o trabalho durante o Natal com o espírito de solidariedade.

“Quando a gente entra para o Corpo de Bombeiros, a gente já está ciente de que teremos que abdicar de algumas coisas. E esse contato mais próximo com a família, em algumas datas especiais, a gente acaba perdendo.

Mas seria até um egoísmo da nossa parte ficar triste porque vamos passar o Natal longe. A gente está aqui de serviço e buscando dá um mínimo de conforto para as as famílias que não vão poder passar mais o Natal com seus parentes. Então para gente é mais uma honra do que uma tristeza de passar o Natal longe de casa”.

Durante essa semana, os militares dos bombeiros mantêm uma rotina de trabalho normal. As buscas em Brumadinho são iniciadas por volta das 6h nas 15 frentes de trabalho e se encerram às 19h, quando o sol se põe.

Nesta véspera de Natal, os bombeiros vão participar de uma ceia especial, para celebrar a data. Mas, nesta quarta-feira, eles voltam a campo normalmente.

O porta-voz dos bombeiros, tenente Pedro Aihara, explica que passados 11 meses da tragédia, as equipes correm contra o tempo para localizar as últimas 13 vítimas, por causa do processo de decomposição.

Além disso, com a chegada do verão, as condições climáticas ficam mais adversas, já que o calor e as chuvas aumentam. Dessa maneira, as estratégias de buscas foram modificadas, como explica o tenente Aihara.

“Uma dessas mudanças foi o estabelecimento de uma tenda de 15 mil metros quadrados. Essa tenda, ela possibilita que a gente faça o carregamento do rejeito pra esse local e aí dentro desse local, a gente consegue fazer a inspeção e também promover a secagem desse rejeito, de modo, que mesmo no período chuvoso, a gente consegue dá continuidade às buscas e não precisa interromper.

E tudo isso revela a preocupação da instituição em fazer a operação continuar, mesmo sob as condições mais adversas”.

O Natal, que celebra o nascimento de Jesus Cristo também vai marcar em Brumadinho, o “renascimento” de todos aqueles que sobreviveram à tragédia. Como o operador de saneamento ambiental Sebastião Gomes que conseguiu escapar da lama.

Sebastião e mais outros dois colegas estavam em uma caminhonete, na área de empilhamento de minério da mina do Córrego do Feijão quando a barragem se rompeu. Em vez de ser engolida pela lama, a caminhonete foi expelida pelos 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos e, por causa disso, todos eles sobreviveram.

Cristão fervoroso, Sebastião considera que escapou da tragédia por um milagre. Ele se diz grato por ter a chance de passar o Natal novamente em família, mas sente tristeza ao lembrar que perdeu vários amigos no desastre.

“É uma alegria muito grande pra mim poder compartilhar essa alegria com eles (família), como sobrevivente.

Agradeço a Deus a cada dia, cada minuto da minha vida como se fosse o último dia da minha vida. Então eu agradeço a Deus demais, porque não foi fácil o que nós passamos aqui.

Perdi muitos amigos e a minha tristeza é essa, porque continua gente desaparecida ainda, então pra mim foi um choque muito grande”.

As 270 vítimas do rompimento da barragem da Vale vão ser homenageadas nesta quarta-feira, data que marca o Natal e os 11 meses da tragédia. As famílias dos mortos vão participar de uma missa de Natal e depois vão fazer um ato para cobrar a localização de todos os corpos.

Débora Costa

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