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CANDIDATOS INVESTEM PESADO PELA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA FEDERAL

Fora a disputa no plano mais amplo, que por vezes conta com ofensivas palacianas e contra ofensivas partidárias, a corrida pela presidência da Câmara dos Deputados envolve uma rotina que em nada fica devendo para eleições majoritárias.

 

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG) investem em encontros com aliados e adversários, viagens pelo Brasil, confecção de material de campanha e muita saliva para tentar convencer seus colegas deputados de que cada um deles é a melhor alternativa para os próximos dois anos.

 

Em jogo, o controle da pauta de votações da Câmara, a coordenação das discussões sobre comissões e o peso de uma posição que, no modelo presidencialista brasileiro, pode vir acompanhada da capacidade de engessar a governabilidade do chefe do Executivo.

 

Favorito, Cunha foi também o que mais cedo começou seu giro. Está na estrada desde 4 de dezembro e, de lá para cá, percorreu todas as regiões do país.

 

Na próxima terça-feira, quando passará por Belém, Cunha terá percorrido os 27 estados brasileiros e o Distrito Federal.

 

Foram reuniões com cada uma das bancadas estaduais. Os encontros reuniram ainda prefeitos, governadores, deputados estaduais e lideranças locais.

 

O ritmo é frenético e lembra aquele adotado por candidatos a presidente da República. Nesta semana, o líder do PMDB passou por Aracaju, Maceió, Natal e Fortaleza.

 

Para cobrir todo esse cronograma, o líder do PMDB teve um jatinho alugado pelo partido a sua disposição. Segundo cotação feita pelo iG, o aluguel de um jato pelo prazo de um mês com a compra antecipada de 20 mil quilômetros chega a custar R$ 420 mil.

 

O favoritismo atrai aliados. Cunha que o diga. Segundo interlocutores, ele teve de administrar o anseio de colegas e correligionários que se desdobravam para acompanhá-lo em suas andanças Brasil afora. Nos bastidores, a brincadeira é que o jatinho de Cunha teve overbooking, expressão usada para situações em que companhias aéreas vendem mais bilhetes do que assentos disponíveis num voo. Coube ao líder do PMDB gerenciar o acesso de aliados e realocar alguns deles para outros destinos.

 

Cunha investiu pesado na sua campanha. Desde o final do ano passado, vem distribuindo panfletos aos colegas. Não economizou: os impressos são coloridos e em papel nobre. Neles, apresenta-se como “a voz da Câmara” e vende o slogan “Câmara independente, democracia forte”.

 

E é apoiado nessa máxima que o deputado fluminense se equilibra entre seus compromissos como líder do principal partido aliado do governo e os desejos de uma bancada que cada vez menos aprecia o fato de estar na mesma canoa da presidente Dilma Rousseff (PT).

 

O discurso de independência não agride nenhum dos lados e, assim, Cunha busca convencer seus colegas sobre suas qualidades.

 

Mas os tempos são outros e, hoje, Chinaglia busca se apresentar como um candidato suprapartidário. Sabe que os despojos eleitorais atiçaram na Câmara um sentimento anti-PT semelhante àquele visto em parte do eleitorado que rejeitava a reeleição da presidente Dilma.

 

Apesar disso, o PT, ainda antes do lançamento oficial de Chinaglia para a disputa, argumentava que era preciso respeitar o rodízio entre os presidentes da Câmara.

 

Logo, depois de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), era chegada a vez do partido da presidente, que tem a maior bancada eleita para a próxima legislatura, dirigir a Casa.

 

A demora no lançamento de Chinaglia para o confronto com Cunha teve origem numa estratégia que buscava evitar a antecipação da disputa.

 

Nas contas de petistas, ao largar na frente, Cunha poderia ganhar terreno, mas também acabaria se expondo mais, virando alvo de possíveis adversários.

 

Até fontes palacianas acreditavam que o ímpeto de Cunha poderia ser também sua desgraça.

 

Meses depois, o líder do PMDB acabou vendo seu nome envolvido em denúncias no âmbito da Operação Lava Jato. Ele foi acusado de ter recebido propina orinda de verbas desviadas da Petrobras.

 

Cunha não apenas nega a acusação como a desqualifica comparando-a com o escândalo dos aloprados, quando em 2006 petistas foram presos enquanto negociavam um dossiê contra o então candidato ao governo paulista José Serra (PSDB).

 

Da mesma forma que Cunha, Chinaglia tem a sua disposição um jatinho alugado pelo PT para sua locomoção pelo Brasil.

 

Até aqui, passou pelas regiões Sudeste e Nordeste e nesta sexta-feira visitará o Norte do país. Também tem agendas confirmadas para a semana que vem no Centro-Oeste e Sul.

 

Depois retorna ao Sudeste. Enquanto o petista corre atrás do tempo que preferiu atuar nos bastidores, Cunha chega no momento em que termina sua agenda.

 

Na próxima semana, a partir de terça-feira, o líder do PMDB deverá permanecer em Brasília. Não descarta algumas viagens, mas pontuais.

 

Chinaglia também encomendou material de campanha impresso, que deve começar a ser distribuído na próxima semana.

 

A previsão é que os primeiro lotes sejam entregues pela gráfica ainda nesta sexta-feira. Neles, o petista prometerá empenho na tramitação das reformas política e tributária.

 

E se Cunha vende o discuros de independência, Chinaglia tem sua versão do mesmo argumento ao prometer melhorar a interlocução da Câmara com os demais poderes da República.

 

Não há relatos de overbooking no jatinho de Chinaglia, mas ele tem sido sempre acompanhado por aliados em seu giro nacional.

 

Os mais assíduos são Sibá Machado (PT-AC), candidatíssimo a líder do PT na próxima legislatura, e Paulo Teixeira (PT-SP). O líder do PROS, o alagoano Givaldo Carimbão, acompanhou o petista em algumas passagens pelo Nordeste.

 

Empenhado em viabilizar como terceira via na disputa, Júlio Delgado (PSB-MG) conta que a realidade de sua campanha é um pouco diferente daquilo que seus adversários andam fazendo. A começar pelos deslocamentos.

 

Enquanto Cunha e Chinaglia têm previsão de cobrir o país todo até o dia da votação que decidirá o futuro presidente da Câmara, marcada para a tarde do dia 1º de fevereiro, Delgado diz que deverá no máximo passar por 17 estados. Nesta semana, passou pela região Centro-Oeste.

 

Além disso, o PSB não ofereceu um jatinho para seu representante, os deslocamentos são feitos em voos comerciais, deixando o deputado exposto a todos os imprevistos que qualquer cidadão é nessas situações.

 

Delgado contou que ficou horas esperando decolagens por problemas diversos. No Espírito Santo, diz que a impaciência deu lugar a um sentimento de solidariedade quando um garoto autista teve problemas e seu pai acabou optando por desembarcar.

 

 

Foi uma hora de espera até que as malas de ambos fossem localizadas. Em São Paulo, a chuva o deixou novamente a mercê das circunstâncias.

 

A decolagem só foi autorizada depois de muita espera. Também por causa disso, Delgado conta que muitas vezes é difícil conciliar agenda com colegas nas regiões por onde passa.

 

“Tem muita gente que está viajando, outros estão de férias”, diz. Nada que o impedisse de estar com o presidente Nacional do PSDB, Aécio Neves, e com o governador pauista Geraldo Alckmin. O socialista recebeu apoio da bancada do PSDB.

 

Acostumado com campanhas eleitorais, Delgado conta que nessas situações é complicado conciliar agenda com as necessidades do dia.

 

“Essa semana só almocei uma vez”, afirma ele, que diz que tem abusado das refeições nos voos que pega. O cardápio depende do que a companhia aérea oferecer.

 

Nada disso, entretanto, têm tirado a motivação do socialista. Pelo menos não na fala dele. Questionado sobre possíveis acertos de segundo turno, Delgado recorre à cartilha básica dos políticos.

 

“Não tem isso. Vou estar no segundo turno”, resume. Ele diz ainda que sua agenda, além de incluir governadores e prefeitos, também teve plenárias com gente que sequer votará na eleição da Câmara. Delgado afirma ter participado de plenárias que reunirão 150 pessoas.

 

Da mesma forma que seus adversários, o deputado mineiro é eclético na escolha das reuniões que faz. Dialoga com oposição e com governistas.

 

“Se engana o Arlindo se acha que será eleito só com os votos da base. Como também se engana o Eduardo se acha que será eleito só com votos da oposição. Eu falo com todo mundo”, diz ele.

 

 

 

Sobre material impresso para turbinar a campanha, o socialista diz que deverá ter alguma coisa, mas aguardará mais até rodar seus panfletos e a quantidade será reduzida.

 

Fonte: Marcel Frota

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