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Declaração de Bolsonaro sobre politica externa acedem alerta, segundo analistas

Bolsonaro, durante evento em São Paulo 18/6/2018 REUTERS/Paulo Whitaker

O jornal O Globo, da família Marinho, decidiu criticar abertamente os primeiros sinais da política externa de Jair Bolsonaro, que indicam total submissão aos interesses dos Estados Unidos, com decisões como a mudança da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, além do distanciamento em relação aos parceiros comerciais do Mercosul e da China.

Em artigo publicado nesta terça-feira, Miriam Leitão lembra que a tradição de governos militares, especialmente do general Ernesto Geisel, era defender interesses nacionais – e não rebaixar o Brasil ao posto de satélite dos Estados Unidos. “Geisel, em março de 1977, rompeu o acordo militar com os Estados Unidos assinado nos anos 1950. Era uma forma de o Brasil escolher seu caminho também nesta área. O então presidente chegou a pensar num rompimento de outros acordos, mas foi aconselhado pelos diplomatas a esperar a reação americana com cartas na manga. Tudo o que os Estados Unidos fizeram foi enviar o general Vernon Walters ao Brasil para tentar demover o país, missão que fracassou”, lembra a jornalista.

“A transferência da sede da embaixada do Brasil para Jerusalém pode ter como efeito bumerangue a retaliação comercial dos árabes ao Brasil. Mas principalmente é ruim por significar um retrocesso no não alinhamento automático com os Estados Unidos, um dos avanços conseguidos na diplomacia dos últimos governos militares. Só um país do mundo, a Guatemala, seguiu os Estados Unidos nessa decisão”, pontua ainda Miriam, que critica a adoção de uma política externa de ultra-direita.

Além dela, Merval Pereira também critica, em artigo, os movimentos iniciais de Bolsonaro. “É preocupante o rumo que Jair Bolsonaro parece querer imprimir à política externa, que poderá pôr em risco a credibilidade das instituições brasileiras e promover a importação de ódios e terrorismo, em vez de exportar concórdia, resultante do convívio harmônico entre judeus e árabes, de que o país é exemplo”, afirma.

“Além do mais, o presidente eleito terá que lidar com um problema adicional: a péssima imagem que tem no exterior, que contamina a do próprio Brasil. Seu futuro chanceler terá que ter credibilidade para reverter essa imagem, e suas ações contribuirão para facilitar ou dificultar o trabalho do futuro ministro das Relações Externas, que por isso mesmo precisa ser da carreira e com experiência para aguentar o tranco que vem por aí.”

Merval fala ainda de prejuízos econômicos que podem advir das decisões de Bolsonaro. “Desdenhar da China, nosso principal parceiro comercial, afastar-se do Mercosul bruscamente, menosprezar a Argentina como parceira regional importante, tudo parece improvisado e ditado por uma política ideológica de que o próprio presidente eleito acusa os governos anteriores”, diz ele.

Leonardo Attuch

 

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