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Força-tarefa acredita que Eike Batista não tem saída e vai pedir delação premiada

CONDUÇÃO DO EIKE BATISTA

Preso na penitenciária carioca de Bangu, Eike Batista teve sua libertação negada pelo Supremo e agora terá uma longa lista de explicações a dar aos investigadores caso queira pleitear um acordo de delação premiada. Com o avanço da Lava Jato, uma miríade de depoimentos situaram as empresas do “grupo X” e o próprio empresário na engrenagem de esquemas de corrupção.

Delatores e candidatos à colaboração já apontaram o ex-bilionário como partícipe de negociatas envolvendo contratos da Petrobras, financiamentos analisados pela Caixa Econômica Federal e dívidas de campanha do PT.

A defesa de Eike diz que é “prematuro” falar em colaboração, mas interlocutores do empresário dizem que se trata de um caminho analisado. Caso decida segui-lo, há detalhes a serem esclarecidos sobre Sérgio Cabral, cuja relação o levou à prisão.

PROPINA – Eike tornou-se réu na Justiça do Rio por ter pago US$ 16,5 milhões a Cabral, que foi governador do Rio de Janeiro pelo PMDB.

A denúncia aceita pelo juiz Marcelo Bretas fala em pagamento de propina, mas os procuradores ainda não sabem explicar o que Eike recebeu em troca.

Até o momento, há suspeitas: licenças, desapropriações e outros atos do governo do Rio para viabilizar a construção dos portos do Açu e de Itaguaí e a concessão do Maracanã, que Eike levou em parceria com a Odebrecht.

Há dúvidas ainda sobre o que Eike lucrava ao prestar favores a figuras importantes dos governos do PT, como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que serviu às gestões Lula e Dilma Rousseff.

A PEDIDO DE MANTEGA – O próprio Eike procurou a Lava Jato para confirmar a informação de que, respondendo a um pedido de Mantega feito em 2012, pagara US$ 2,35 milhões a João Santana, o marqueteiro que elegera Dilma dois anos antes.

A mulher de Santana, Mônica Moura, havia narrado o episódio aos investigadores em sua proposta de delação. Eike, contudo, não disse o que lucrou com o gesto.

O ex-bilionário perseguiu o selo de “empresário do PT” e tornou-se próximo a diversos políticos do partido, como o ex-ministro José Dirceu, até chegar ao próprio Lula.

O empenho do ex-presidente em ajudar Eike a tentar sair da crise que terminou sepultando seu conglomerado é narrado no livro “Tudo ou Nada” (Record, 2014).

Nele, a jornalista Malu Gaspar conta como o petista fez lobby para empresas de Eike, como quando se encontrou em 2013 com o então primeiro-ministro russo para dizer do interesse numa parceria entre a OGX e uma estatal de petróleo daquele país.

CONTRATO DE FACHADA – Alguns frutos dessa relação com emissários petistas emergiram mais recentemente como no depoimento de Ivo Dworschak Filho, ex-diretor do estaleiro OSX, à Lava Jato em maio de 2016.

O executivo contou que pagamentos foram feitos a Dirceu por meio de contratos de fachada com o consórcio OSX e Mendes Júnior, que detinha contratos com a Petrobras.

Segundo Ivo, Eike não só sabia da propina como o orientou pessoalmente a não interferir no acerto. A empresa de logística LLX também foi beneficiada por um acerto entre Eike e Eduardo Cunha de acordo com o relato de Fábio Cleto, ex-vice da Caixa, cujo acordo de delação já foi homologado.

Diz o delator que Eike pagou propina a ele e ao ex-deputado do PMDB, hoje preso em Curitiba, para atuar na liberação de um empréstimo de um fundo do FGTS. Se estiver disposto a falar às autoridades, não faltará a Eike por onde começar.

DELAÇÃO PREMIADA – O advogado Fernando Martins, que faz a defesa do empresário Eike Batista, afirma que falar de delação premiada é prematuro.

Ele nega que Eike Batista, que se tornou réu na Justiça Federal do Rio após ser denunciado sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, tenha participado de negociações para obter qualquer vantagem.

Martins afirma ainda que isso ficará comprovado perante a Justiça.

Segundo o defensor, o grupo EBX era um conglomerado de mais de sete empresas, todas com gestão própria e autonomia na tomada de decisões.

Sendo assim, não seria de conhecimento de Eike Batista, que ocupava a posição de presidente do conselho de administração das companhias, se alguma irregularidade foi cometida.

Renata Agostini

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