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O Meio Ambiente e a Luta de Classes

Desastre ignorado

Desde final de agosto, acompanhamos o drama da presença de óleo no litoral do país, sobretudo no nordeste. a sua expansão já atinge quase toda a costa litorânea do país.

Esse, infelizmente, não foi o único crime ambiental ocorrido esse ano, vale lembrar o crime cometido pela Vale em Brumadinho e das extensas queimadas que ainda continuam ocorrendo na floresta Amazônica.

São toneladas de óleo denso encobrindo parte do litoral do nosso país, matando espécies marinhas como tartarugas, peixes, corais, etc., e colocando em risco a vida da população. Frente a isso, mais uma vez, o Governo Federal quase nada fez, ou melhor se omitiu diante dessa tragédia em nosso meio ambiente. Não atuaram nem mesmo para a retirada do óleo das praias.

Ao contrário, só depois de 41 dias desse crime foi que o governo disse estar fazendo alguma coisa, demonstrando total indiferença e nenhuma disposição para resolver o problema.

O descaso do governo Bolsonaro com essa pauta é tão grande que, no início do ano, o presidente editou o decreto 9.759/2019, que acabou com os conselhos, comissões e fóruns relacionados à agenda ambiental, impossibilitando assim a participação da sociedade civil em espaços importantes de discussão para soluções dos problemas ambientais do país.

Diante desse cenário, quem efetivamente se preocupou em retirar o óleo das praias foi a própria população, que se revoltou diante do descaso do governo e colocou em risco a sua própria vida pra efetuar a limpeza de seu ambiente de pesca, lazer e moradia.

Apesar de o óleo ser tóxico, diversas pessoas se voluntariaram a realizar a limpeza das praias, mesmo sem luvas e botas apropriadas.

Interpretar esse ato como algo louvável e bonito, além de romantizar uma tragédia, tira a responsabilidade do governo Bolsonaro, que nada faz, enquanto perdeu tempo acusando sem provas outros países.

A questão ambiental não está descolada da luta pelo socialismo, porque ela própria é incompatível com o sistema capitalista, sendo os pobres aqueles que mais são atingidos com os problemas ambientais nesse país e no mundo.

Por que?

Porque as grandes fábricas poluidoras se localizam em países que oferecem mão de obra mais barata e que possuem menos direitos trabalhistas, enviando para cá todos os riscos ambientais como contaminação, poluição do solo e da água e liberação de substâncias tóxicas no ar;

porque a aplicação de agrotóxico é realizada por trabalhadores rurais e os atingem diretamente em curto prazo;

porque o desmatamento e a contaminação de rios atingem aqueles que dependem diretamente desses recursos, como ribeirinhos e indígenas; porque o secamento de rios inviabiliza a agricultura, gerando uma massa de camponeses que são obrigados a vender a sua força de trabalho a empresas;

porque as chuvas e enchentes nas grandes cidades vitimizam aqueles que moram nos morros; porque quando falta água é o pobre que carrega balde na cabeça, o rico compra.

Tudo isso está relacionado à questão ambiental, que é também uma luta transformadora que precisa ser feita, sendo necessário combater a lógica de que apenas a cobrança aos chefes de Estado irá resolver o problema.

A mudança climática é alarmante, mas no nosso cotidiano sentimos efeitos muito mais brutais e urgentes a resolver.

Portanto, a luta em favor do meio ambiente deve ser necessariamente uma luta de classe.

Bianca Suzy

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