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PGR está analisando ato golpista, enquanto Bolsonaro crias as condições

Militares afirmam que terá golpe

O Brasil chegou ao momento em que generais precisam afirmar que não haverá golpe. Jair Bolsonaro diz ter atingido o seu limite e declara ter as Forças Armadas ao seu lado.

Anuncia ainda a semana decisiva em sua disputa com o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, um dia depois de se encontrar com a cúpula militar do País, no Planalto. O presidente se sentia seguro, após a

reunião do dia anterior, para afirmar o que disse no domingo. A sequência dos fatos, após mais essa fala de Bolsonaro, é conhecida. Repetiu-se pela enésima vez um bailado: generais disseram pensar que estava tudo pacificado em definitivo ou ainda que o presidente não sabe se expressar.

 A verdade é que Bolsonaro se expressa bem. Apenas os que o cercam fingem não entender ou preferem tratar como café com leite um político com 28 anos de experiência no Parlamento. A conta não fecha. O definitivo sempre durou poucos minutos para o capitão, que não vive sem confusão.

Às vezes, briga com quem parece roubar seu lugar ao sol. Outras, com a própria sombra. No início da noite de domingo, dia 3, generais começaram a se indagar sobre a informação de que o chefe pretenderia mudar o comando do Exército.

Todos diziam nada saber sobre a saída de Edson Leal Pujol ou sua substituição pelo general Luiz Eduardo Ramos, atual ministro-chefe da Secretaria de Governo e amigo pessoal de Bolsonaro.

Um deles chegou a argumentar que, de todo modo, a decisão seria legal, esquecendo-se das implicações políticas de tal medida. Se confiasse ter o Exército ao seu lado, para qualquer aventura, a troca não faria sentido para Bolsonaro.

A questão é que as coisas que o presidente diz significam aquilo que ele fala.

Bolsonaro não exige subordinação à Constituição, mas ao seu projeto de País.

É lealdade e obediência pessoal que espera dos que o cercam. Lealdade que se estende à sua família. E é aí que o xadrez militar começa a complicar.

A família Bolsonaro desconfia da lealdade dos generais. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) já demonstrou isso inúmeras vezes. Nem Ramos escaparia das reservas do filho.

Um general que esteve com Ramos em São Paulo nos tempos em que este ocupava o Comando Militar do Sudeste (CMSE) disse à coluna: “O general Ramos é um bom interlocutor e democrata convicto. O diabo é que o Bolsonaro não atende nem a mãe dele.”

Mas o que faria o ministro-chefe da Secretaria de Governo se o presidente o nomeasse para o lugar de Pujol?

Como impedir que o vissem no mundo civil como integrante de um dispositivo militar do presidente?

Como lidar com os oficiais ligados ao Clube Militar, que participam de manifestações golpistas e contam com o apoio – segundo o mesmo general – de colegas da Brigada Paraquedista e da 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar?

“O Brasil não pode cair em mãos erradas novamente”, disse o general.

É verdade que Brasília é a capital dos boatos – como lembrou outro general à coluna – e eles nascem e morrem com a velocidade dos humores do governo.

“É bom exercitar a arte da prudência.” Mas os sinais de descontentamento dos filhos do presidente com alguns generais são antigos – e não apenas com os que foram imolados no altar do Poder.

E prudência é tudo o que esse governo não tem. A cada semana, Bolsonaro e filhos escalam as crises na República, acuam inimigos, cometem erros de avaliação e provocações desnecessárias.

Há entre os generais, no entanto, a visão de que os opositores do regime reproduzem os mesmo erros – muitos por oportunismo.

Quando os atores políticos resolvem escalar uma crise, é preciso perguntar a essas lideranças o que pretendem com tal movimento. Quem decide – e exercerá o poder – na hora em que uns não aceitarem mais se submeterem aos outros?

O bom senso desaparecerá e todos se voltarão ao Forte Apache?

Pujol se mantém em silêncio e, na dúvida, cumprimenta Bolsonaro com o cotovelo.

Nas últimas semanas, os políticos não se cansaram de lembrar de que não existe impeachment sem povo na rua. Naquele que atingiu Dilma Rousseff, em 2016, centenas de milhares foram às principais avenidas do País.

Toda semana Bolsonaro se esforça para criar um movimento igual. E fracassa miseravelmente. Poucos milhares – às vezes apenas centenas – se vestem de verde e amarelo para saudá-lo.

E os militares se lembram que, sem povo na rua, também não há golpe. Há aventura. E esta pode terminar na cadeia.

“Não vai haver golpe”, afirmou o general Roberto Peternelli, deputado federal pelo PSL e articulador em 2018 das candidaturas militares ao Congresso.

Quando se chega ao impasse, porque o governo não dispõe da maioria, nem no Parlamento, nem nos Tribunais e muito menos nas ruas, ou ele cede e se decide pelo compromisso de governar com outros grupos, ou terá dois caminhos: o da corrupção ou o da força.

Isso é o que diz a ciência política. Bolsonaro resolveu inovar. Acena com a mão amiga para o Centrão – e assim quer superar o impasse com o Parlamento – e exibe o braço forte ao Supremo.

Eleitor de Bolsonaro, o general Paulo Chagas reagiu assim ao movimento iniciado com a queda de Sérgio Moro do Ministério da Justiça:

“A chamada ‘governabilidade’ trouxe de volta o ‘presidencialismo de coalizão’ e faz de Sérgio Moro a sua primeira vítima.

O grande prejudicado é o Brasil, infelizmente”. O general Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, escreveu: “Dr Sérgio Moro – exemplo de liderança, dignidade, firmeza e proteção da lei e das instituições.”

Na manhã desta segunda-feira, dia 4, Chagas voltou a se manifestar: “Estar ao lado do povo é estar ao lado da lei e da ordem. Não sou porta-voz das Forças Armadas, mas asseguro que elas estarão sempre ao lado da lei e da ordem e não apoiarão nenhum golpe, tenha ele a origem que tiver.”

Manuela Dorea

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