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Presidente de ONG deixa o país, recebe ameaças de morte após palestra no TSE

Presidente da ONG SaferNet, Thiago Tavares

O presidente e fundador da SaferNet, organização que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet, Thiago Tavares, informou à empresa na segunda-feira que decidiu se exilar na Alemanha por conta de ameaças e sequestro relâmpago de um funcionário.

Ele afirma ter chegado a Berlim no último sábado, e que “o auto-exílio é medida extrema — e jamais aplicada desde a fundação da instituição em 2005”.

A providência é tomada quando a segurança pessoal de qualquer funcionário, colaborador ou diretor da SaferNet é colocada em risco.

Em carta distribuída aos funcionários e colaboradores, Tavares relatou que as intimidações começaram após um seminário internacional realizado pelo  Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 26 de outubro.

Ele participou da mesa “Como se estruturam as campanhas de ódio e desinformação”, assunto do qual é especialista.

A partir de então, diz ele, surgiram as ameaças, inclusive de morte.

Até ali restrita ao âmbito digital, a situação escalou quando outro funcionário da SaferNet sofreu um sequestro relâmpago em Salvador por quatro criminosos armados, que roubaram seu celular e laptop funcionais.

Tavares estava “a apenas 800 metros do local onde aconteceu a abordagem”, diz a carta.

A SaferNet diz ter coletado evidências, em 2 de dezembro, de invasão do MacBook Pro de Tavares pelo malware Pegasus, que vem sendo usado para perseguir jornalistas e defensores de direitos humanos em diversos países, inclusive no Brasil.

Tavares relata na carta que, na mesma tarde, uma parente sofreu traumatismo cranioencefálico ao desembarcar de um Uber em Salvador e precisou ser internada em UTI.

“A proximidade dos fatos, somado às ameaças que já vinha recebendo, não deixou alternativas a Tavares a não ser deixar o país, temporariamente, até que as circunstâncias dos fatos sejam totalmente esclarecidas e sejam restabelecidas as condições de segurança pessoal para o desempenho de suas atividades profissionais e acadêmicas no Brasil, seja como defensor dos direitos humanos, seja como especialista em tecnologia”, diz a carta.

Procurada pelo GLOBO, a SaferNet informou que Tavares não tem interesse em dar entrevistas.

Em julho, uma investigação jornalística conduzida por 17 veículos de comunicação ao redor do mudou revelou que milhares de jornalistas, empresários, defensores de direitos humanos, líderes religiosos e até chefes de Estado de dezenas de países tornaram-se potenciais alvos de espionagem. O meio utilizado para o ataque era um programa chamado Pegasus.

Produzido por uma empresa israelense, a NSO Group, trata-se de um equipamento (software mais hardware) capaz de invadir um telefone celular à distância, sem que o alvo perceba, e captar absolutamente tudo que houver no aparelho. Não há criptografia de ponta que resista.

O Pegasus identifica e recolhe sorrateiramente desde o histórico de conversas do WhatsApp e do Telegram até os lugares por onde o alvo passou, quanto tempo permaneceu em cada um, sua localização exata, além do som e das imagens do ambiente por meio da ativação de microfone e câmera feita remotamente e em tempo real.

O laboratório interdisciplinar Citizen Lab, da Universidade de Toronto, no Canadá, pioneiro na busca por evidências do uso do software, definiu o Pegasus como “um espião digital silencioso em seu bolso”.

Quando o vírus do Pegasus infecta um telefone, os dados coletados são enviados para servidores que ficam registrados na internet. Ao rastrear esses servidores, o Citizen Lab descobriu que o Pegasus foi utilizado em 45 países, incluindo o Brasil.

Seis países (Cazaquistão, Bahrain, México, Marrocos, Arábia Saudita e Emirados Árabes) tinham histórico de uso de softwares de espionagem contra civis.

gência O Globo

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