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Sociedade de Medicina chama “governantes” de assassinos

Numa reação inédita e contundente, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro divulgou uma nota contra a política homicida em vigor nesta pandemia que em breve terá matado 200 mil brasileiros.

O que levou o presidente da entidade, Celso Ferreira Ramos Filho, a assinar essa nota foi, objetivamente, a morte por Covid de um dos mais brilhantes cirurgiões de cabeça e pescoço no país, Ricardo Cruz, com apenas 66 anos.

Digo “objetivamente” porque algo mais move a Sociedade a reagir assim, a meu ver: o desespero de profissionais treinados para salvar vidas, diante da incompetência e omissão governamentais que beiram o sadismo.

O compromisso médico de alertar a população que está sendo conduzida à morte como um rebanho cego, por políticos e generais sem princípios. Há uma guerra estúpida de vacinas em voga. Há promessas que não se podem cumprir. Há o colapso de hospitais sem equipamento básico. Bolsonaro – esse ex-capitão que conspurcou o cargo de presidente da República – pagará por seus crimes.

Deus não é seu parceiro. Chega de heresia. Ministros, governadores e prefeitos precisam começar a pensar mais em vidas do que em votos.

Médicos estão arrasados. Não só pela perda de Ricardo Cruz, que estava internado havia várias semanas no Hospital Samaritano, mas pela nau sem rumo dos desvalidos em que se transformou nosso Brasil.

Transcrevo aqui três parágrafos da nota da Sociedade, fundada em 1886 com o objetivo de discutir questões de saúde pública. A Sociedade lamenta, estranha e repele o silêncio de entidades diante do homicídio oficial.

“Ricardo Cruz morre após dez meses de pandemia, quando a percepção errônea da sociedade de que a transmissão está em vias de se extinguir levou a um relaxamento das normas de distanciamento social, com o consequente aumento da transmissão comunitária do SARS-CoV-2.

Percepção errônea esta estimulada e coonestada por uma política homicida (repitamos: homicida) por parte de autoridades municipais, estaduais e federais (em final, meio ou começo de mandato), que trocam votos e apoios por uma proposta indulgente e sedutora, que pode ser popular e atraente, mas que é (repitamos, ainda) simplesmente homicida”.

“Ricardo Cruz morreu apesar de ser submetido a um tratamento caro, sofisticado e disponível a uma minoria dos brasileiros, aí incluídos os usuários de planos de saúde de alto custo. Isto demonstra a miopia, a desumanidade, a negligência e a criminosa irresponsabilidade histórica de políticos e mandatários que propõem aumento de números de leitos de UTI ou extensão do horário de funcionamento de aparelhos de tomografia computadorizada, trocando essas aparentes benesses de apelo popular (ofertadas a uma população já exaurida por dez meses de confinamento forçado) pela liberação de eventos e de situações que inevitavelmente agravaram, agravam e agravarão a transmissão da doença. O que levará ao aumento do número de casos e, portanto, e mesmo com uma (necessária) suficiência de vagas, a um indesculpável aumento de mortes”.

“Nosso colega não morreu porque lhe faltou leito, ou porque a assistência demorou a chegar. Morreu pela inexorabilidade de uma doença que, se não mata sempre, sempre mata. A sua morte expõe a miopia criminosa oculta na barganha do relaxamento no distanciamento social (leia-se: aumento da transmissão) pelo aparente bom negócio de um incremento no número de leitos (ou de tomógrafos, ou outros cala-bocas ilusórios e enganosos) oferecidos a uma população cansada, sem rumo – e sem liderança. Não importa o quantitativo de leitos de UTI oferecidos: quanto maior o número de admitidos a essas unidades, maior será o número final de mortos. Ricardo Cruz não morreu por falta de leito, ou de assistência, ou de cobertura. Morreu de COVID”.

Se não mata sempre, sempre mata. Alguém que a gente conhece ou não conhece. Isso ficou martelando em minha cabeça.

Povo é irresponsável?

Ora essa. E o governo?

É homicida. Por omissão, por incentivar uso de cloroquina, por não seguir a ciência e a medicina, por politizar vacinas, por incentivar aglomeração e até condenar o uso de máscaras. Isso não é ignorância. É crime.

Enquanto isso, Bolsonaro dá mais uma de psicopata: expõe trajes da posse em vitrine, boicota pessoalmente a vacinação e comemora fim de imposto para importar armas.

Edição Fernando Brito

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