Os brasileiros que saíram às ruas neste domingo deveriam reconhecer alguns fatos concretos:
1) A presidente Dilma Rousseff estaria numa situação muito mais confortável se, no início da Operação Lava Jato, tivesse agido para conter o alcance das investigações, seguindo o exemplo de governos anteriores.
2) Sua situação também seria bem mais tranquila se ela não tivesse, desde o seu primeiro mandato, demitido diretores da Petrobras como Paulo Roberto Costa e Renato Duque.
3) Ela também teria alívio no Congresso se, no início do segundo mandato, tivesse fechado um pacto para apoiar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara.
Com isso, um pedido esdrúxulo de impeachment jamais teria prosperado.
Dilma está na situação em que se encontra justamente porque decidiu deixar como uma das marcas da sua passagem pelo Palácio do Planalto o combate à corrupção.
E o que se viu, com a Lava Jato, é que ela está entranhada em todo um sistema político que apodreceu, contaminando todos os seus principais atores – tanto do governo como da oposição.
No domingo o que se viu nas ruas, foram manifestações amplas de apoio à Lava Jato e ao juiz Sergio Moro.
No entanto, a oligarquia política que comanda o Brasil alimenta a esperança de “mudar para que tudo continue como está”.
Ou seja: bastaria entregar a cabeça de Dilma e do PT para que a velha ordem se restabeleça.
Essa lógica, primeiro, foi explicitada por Ricardo Noblat, no Globo. “Políticos precisam derrubar logo Dilma antes que sejam atingidos ainda mais pela Lava-Jato e outras operações”, escreveu Noblat em sua conta no Twitter.
Hoje, foi Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, quem tratou do mesmo fenômeno:
SALVE-SE…
…QUEM PUDER
E PMDB e o PSDB têm pressa na solução da crise: são cada vez mais frequentes informações que dão conta de que vários de seus principais líderes podem ser atingidos em cheio por delações premiadas.
Já foram citados em algumas delas, entre outros, o próprio Temer, o tucano Aécio Neves, Renan Calheiros, presidente do Senado, que responde a inquérito.
Calheiros disse, em reunião recente, que é generalizada a sensação, entre os políticos, de que qualquer um deles pode ser preso a qualquer momento.
Portanto, se Dilma vier a ser cassada, isso será fruto de um movimento defensivo daqueles que hoje se veem ameaçados pelas guilhotinas de Curitiba e da procuradoria-geral da República.
Nesta guerra, a única saída para a presidente será explicitar essa lógica, ainda que corra o risco de ser apunhalada pelo Congresso.
Só assim, mesmo na hipótese de vir a ser derrotada, ela terá ainda uma vitória moral diante da História.
Leonardo Attuch