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UM MINISTÉRIO DE ALTA DENSIDADE PARA ENFRENTAR A DISPUTA POLÍTICA

Os novos ministros anunciados nesta terça-feira, 23, ampliam a densidade política do segundo governo Dilma, qualificando-o melhor, comparativamente com o primeiro, para produzir resultados e para enfrentar a disputa política que será travada desde o início.

Dilma optou por nomes de projeção nacional, que incluem três ex-governadores (Jacques Wagner, Cid Gomes e Eduardo Braga), um ex-prefeito de capital (Gilberto Kassab) e parlamentares mais expressivos, como Eliseu Padilha e Edinho Araújo.

Este perfil mais político e de maior ressonância será reforçado com a confirmação de Ricardo Berzoini para Comunicações, pode contar ainda com a indicação de Patrus Ananias para Reforma Agrária e com o retorno de Celso Amorim ao comando do Itamaraty.

A qualidade de um gabinete ministerial é dada pela excelência de seus integrantes – técnica, ética e política – e também pela eficiência do conjunto na garantia da estabilidade política e da governabilidade. Vale dizer: para ser bom não basta que conte com grandes nomes.

É preciso também que ele garanta, nos governos de coalizão, a coesão e o equilíbrio dentro da base parlamentar. Na escolha da equipe econômica, Dilma levou em conta os imperativos da conjuntura e as demandas do mercado e dos agentes econômicos. Na escolha deste primeiro bloco de 13 ministros, mirou a dimensão do governo e suas necessidades políticas.

Todas as razões

Na escolha destes primeiros 13 ministros, houve um claro esforço de Dilma para construir novos pontos de apoio para a governabilidade ao reforçar o PROS e o PSD.

Nem todo o PMDB, entretanto, gostou da solução, embora tenha ampliado de cinco para seis o número de suas pastas. O partido engoliu a seco a escolha unilateral de Katia Abreu para a Agricultura e o próprio vice-presidente Michel Temer não gostou da substituição de Moreira Franco por Eliseu Padilha, indicado pela bancada.

Moreira, tido como ministro de alto desempenho à frente da Secretaria de Aviação Civil (SAC), vinha tendo sua permanência assegurada. Mas Eliseu foi indicado pela bancada da Câmara é ela é que tem os votos.

A escolha de Eduardo Braga pode ser creditada ao bloco peemedebista do Senado, liderado por Renan Calheiros, mas sua escolha é também um gesto de reconhecimento de Dilma à sua dedicação como líder do governo no Senado.

Ele se queixou muito, após ser derrotado na disputa pelo governo do Amazonas, de que demorou a cuidar da própria campanha, absorvido pelas tarefas da liderança.

Ainda que não seja um técnico da área, tem a experiência gerencial de um ex-governador. Helder Barbalho, na Pesca, também atende ao bloco do Senado, e Edinho Araújo está na cota da Câmara.

Há muxoxos mas não há sinais de que Dilma fará mais concessões ao partido no primeiro escalão; algumas compensações podem ser feitas para evitar problemas com o principal aliado, nos bancos públicos e na sucessão nas Mesas do Congresso.

O PT apoia a reeleição de Renan no Senado e pode compor-se com Eduardo Cunha na Câmara mas isso não entrou agora na aritmética ministerial.

O leque das alianças

Cid Gomes, futuro ministro da Educação, foi compensado com uma das pastas mais caras ao PT, que a ocupa desde o primeiro governo Lula, por sua lealdade durante a disputa eleitoral. Ele e seu irmão Ciro deixaram o PSB quando Eduardo Campos optou pela candidatura própria, foram para o pequeno PROS e ainda apoiaram o candidato do PT que se elegeu governador do Ceará, Camilo Santana, garantindo bom palanque para Dilma no estado.

O PROS terá apenas 11 deputados, mas é bastante provável que, imponderado, venha a crescer. Além do mais, o ministro, assim como Ciro, são personalidades políticas fortes, dispostas ao debate e ao combate.

Gilberto Kassab, fundador do PSD, ganhou a pasta das cidades, que era cobiçada pelo PT, e ainda deve manter Guilherme Afif Domingos na secretaria da micro e pequena empresa, que tem status de ministério.

O PSD terá 37 deputados a partir de 2015. O fortalecimento destas duas legendas reduz a dependência do PMDB, que entendeu o jogo.

PT disciplinado

As adversidades ensinam. Em recente entrevista que me concedeu, o presidente do PT, Rui Falcão disse que não agiria como linha auxiliar da oposição no segundo governo Dilma, criando dificuldades por questões menores.

O partido nunca se dava por completamente satisfeito nas formações ministeriais, embora fosse hegemônico. Agora, não viu ainda ninguém reclamar, nem mesmo da perda de uma pasta importante como o MEC.

“Este ministério, ainda incompleto, já tem uma dimensão bem maior que o do primeiro governo da presidente Dilma. Tem dimensão nacional e nomes de peso, com capacidade para enfrentar a disputa política. É um ministério de perfil alto, à moda Lula”, diz o ex-líder da bancada José Guimarães. Ele nega qualquer contrariedade do PT, apontando como ganho a indicação de Jacques Wagner para a Defesa e com a ida de Ricardo Berzoini nas Comunicações, ainda não oficializada.

O PT manterá Aloisio Mercadante no Gabinete Civil e também a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e a Secretária-geral da Presidência, pastas palacianas. Ao longo da terça-feira, o nome do deputado Pepe Vargas foi insistentemente falado para a SRI mas acabou não sendo confirmado.

O adiamento tem razões na política interna do PT. Pepe é da tendência Democracia Socialista, a DS, à qual também pertence Miguel Rosseto, que Dilma já tinha praticamente escolhido para a Secretária-geral.

O chamado Campo Majoritário reagiu. Um dos dois deve ser sacrificado, possivelmente Pepe, mas o PT ficará com as pastas, e ainda pode ganhar a do Trabalho, para a qual seria indicado o sindicalista da CUT José Lopes Feijó, ligado a Lula.

Mas isso cria um problema com o PDT, que ocupa o ministério desde o governo Lula. Seria preciso acomodar o PDT, apesar do comportamento dúbio do partido na eleição.

Em alguns estados, não apoiou Dilma. Como aqui no DF, onde apoiou Marina Silva e o candidato a governador vitorioso, Rodrigo Rollemberg, do PSB.

Por que Jacques na Defesa?

Jacques Wagner é hoje um dos mais importantes quadros políticos do PT. Sua ida para o ministério da Defesa suscita muitas indagações.

Por que colocá-lo ali, chefiando as Forças Armadas, tratando de armamento, submarino e caças, desempenhando atividades que nada agregam à sua própria trajetória, quando poderia estar ajudando mais o governo na frente política?

Alta fonte do PT, próxima a ele, sustenta que foi detectada, por Dilma e por ele próprio, que dialoga com os militares, a necessidade de um ministro com acesso direto à presidente, como é o caso dele.

As sensibilidades da área militar estariam elevadas, por conta de problemas salariais e orçamentários, e teriam aumentando com a divulgação do relatório da Comissão Nacional da Verdade. Mas Amorim tem garantido bons resultados, em matéria de recursos para as Forças Armadas, e não tem problemas de acesso à presidente.

De todo modo, a escolha de Jacques Wagner, que de fato desejava a pasta, requer atenção. Se a troca era necessária, algo não ia bem na área militar.

Em outra leitura, Celso Amorim estaria sendo liberado da Defesa para retornar ao Itamaraty.

Ali, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo já pediu para sair, reconhecendo a necessidade de um ministro especialista em comércio exterior, que não é o seu caso, nestes tempos de balança comercial deficitária, em que os exportadores clamam por uma postura mais agressiva do Itamaraty. Por isso o próprio ex-presidente Lula, como já registrado pelo 247, chegou a ser cogitado.

Quando presidente, ele foi um grande “mascate” da marca Brasil, como gostava de dizer. Além disso, Dilma tem arestas a aparar em sua relação com a diplomacia, muito queixosa de seu estilo e de certo desdém no trato com a casa.

Amorim, nos governos Lula, garantiu ao Brasil grandes vitórias na política externa, descosturando a ALCA, fortalecendo o MERCOSUL e a integração regional, liderando os emergentes na criação do G-20 e articulando a institucionalização dos BRICS.

Na era Dilma, a política externa baixou o perfil, o que não pode ser debitado a seus chanceles mas à própria escala de suas prioridades. Ela parece disposta a mudar isso.

Minas com Patrus

Até aqui, não há no ministério um representante de Minas, estado tão importante para a reeleição da presidente, terra do adversário Aécio Neves, agora líder maior da oposição, onde o governador eleito Fernando Pimentel deu ao PT uma de suas maiores vitórias estaduais em 2014.

Pimentel trabalhou pela escolha de Josué Alencar, filho do falecido vice-presidente José Alencar, para Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o MDIC.

Mas houve problemas internos, na administração das empresas da família, que inviabilizaram a escolha. Agora Dilma deverá chamar Patrus Ananias para a Reforma Agrária.

Ele também é um quadro petista de primeira grandeza, foi prefeito de Belo Horizonte e o primeiro ministro do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) no governo Lula, onde unificou os programas sociais sob o Bolsa Família. Ananias e Pimentel já se bicaram muito na política do PT mineiro mas agora estariam com as relações pacificadas. A ver.

O que falta

Além destas pastas que estão com escolhas pendentes, resta saber se Dilma manterá Ideli Salvatti na Secretaria de Direitos Humanos e Tereza Campelo no MDS. E falta a escolha dos presidentes dos bancos públicos.

Os da CEF e do Banco do Brasil serão trocados. Luciano Coutinho ficaria mais algum tempo no BNDES, mas a mudança na orientação econômica faz dele um quase estranho no ninho. A redução da participação do banco nos financiamentos empresariais, anunciada anteontem, é um sinal disso. 

Fonte: Tereza Cruvinel

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