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Virar Sarney é o melhor cenário para Temer

Sarney e Temer

José Roberto de Toledo,no Estadão, faz ótima análise dos resultados das últimas pesquisas sobre a popularidade de Michel Temer dentro do quadro de dissensões e enfraquecimento de sua base parlamentar,onde, diz ele, “os congressistas perceberam que o eleitor vai senti-los mexendo no seu bolso se aprovarem a reforma como foi proposta” e, por isso, “as defecções já consumadas refletem a pressão contrária que deputados e senadores sentem de quem os elege”.

Renan Calheiros e Eduardo Cunha puxaram as cordas para a assunção de Temer. Enquanto um lidera o PMDB, o outro está preso e condenado a 15 anos.

A diferença entre eles é a capacidade de ler o cenário e, quando necessário, retroceder.

Renan é um sobrevivente. Desde o governo Collor, sempre soube voltar algumas casas para permanecer no tabuleiro. Seu desembarque de Temer é mais do que o desquite entre dois aliados de ocasião.

Líder da maior bancada do Senado, Renan pode atrapalhar muito na Previdência, mas talvez nem precise.

A perda de governistas pelo caminho pode barrar a reforma antes mesmo de ela sair da Câmara.

E se isso acontecer, o que será de Temer? Qual o propósito de um governo reformista que não reforma e é cada vez mais impopular?

Toledo lembra que  apenas Sarney, Collor e Dilma alcançaram o grau de desaprovação que Temer ostenta hoje nas pesquisas e que, deles, apenas um chegou ao fim do mandato e que, neste precedente, “o melhor cenário que espera Temer é uma sarneyzação”.

Sim, o melhor poderia ser este.

Mas não o mais provável, porque a cassação eleitoral, que muito provavelmente será mantida como uma lâmina sobre seu pescoço, e efeito avassalador das investigações sobre seus ministros criam para ele um cenário mais graves do que era aquele enfrentado por José Sarney, o que o próprio Toledo ressalta.

O PMDB, que não era o partido de fato de Sarney, mas ocupava o governo como faz agora o PSDB, com Ulysses Guimarães, uma figura muito mais respeitável do que é Aécio Neves, teria o destino eleitoral que todos sabem que teve em 1989.

Há, porém, outra diferença.

A “solução Collor” encontrada pelo conservadorismo, àquela época, é menos visível hoje. Dória dificilmente terá como desvencilha-se das estruturas corroídas do PSDB e viabilizar-se como candidato “autônomo” como o alagoano.

Os problemas de Temer são, de fato, muito semelhantes. Mas as soluções, agora, estão longe de parecerem idênticas.

João Dória, o escoiceador da paulicéia, indica só ter chances de repetir como farsa a tragédia Collor de quase 30 anos atrás.

Fernando Brito

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