Tempo - Tutiempo.net

Alertas para as alterações cognitivas após cirurgias

Médicos alertam para as alterações cognitivas observadas depois da anestesia em procedimentos cirúrgicos — Foto: MrArifnajafovYükləyənin öz işi, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=14892024

Um grupo multidisciplinar internacional de especialistas anunciou novas recomendações a respeito da forma como clínicos descrevem as alterações cognitivas observadas depois da anestesia em procedimentos cirúrgicos.

Essas recomendações foram divulgadas simultaneamente em seis publicações médico-científicas, entre elas o veículo oficial da Sociedade Americana de Anestesiologistas, criada em 1905.

Tais mudanças nas funções cognitivas – como memória, atenção, linguagem, percepção – são mais comuns em pacientes acima dos 65 anos. Podem se manifestar de diversas maneiras e durar de dias até anos.

Até hoje, esse problema era conhecido como disfunção cognitiva pós-operatória (em inglês, postoperative cognitive dysfunction, ou POCD).

No entanto, os especialistas agora sugerem um novo termo, mais abrangente, que funcione como “guarda-chuva” para todas essas manifestações: desordem neurocognitiva perioperatória (perioperative neurocognitive disorder, ou PND).

Na medicina, o perioperatório compreende o período que vai desde o momento em que o cirurgião opta pela cirurgia e comunica sua decisão até a volta do paciente à sua rotina, depois da alta. Portanto, trata-se de um intervalo de tempo que pode ser bastante longo e repleto de emoções intensas, o que não pode ser desprezado no quadro geral.

O delirium é uma dessas alterações pós-operatórias e sua incidência vai de 5% a 15%. Pode provocar alucinações, além de a pessoa se mostrar desorientada. Diferentemente de uma demência, o delirium cessa com a solução dos problemas clínicos.

Entretanto, também acontece de, em relação aos idosos, esse estado de confusão ser atribuído à idade.

Muitos fatores concorrem para as alterações cognitivas depois de cirurgias, como o tipo medicamentos administrados, outras doenças crônicas que o paciente possa ter, além do próprio estresse da situação.

Quem já passou pela experiência de estar num CTI sabe que o isolamento daquela unidade contribui para um estado alterado de consciência.

“Alguns pacientes relatam o que chamam de ‘fog no cérebro’, que pode durar semanas ou meses, mas geralmente desaparece depois desse período”, afirmou o médico Roderic G.

Eckenhoff, membro da Associação Americana de Anestesiologistas e um dos autores dos estudos.

A desorientação mental pode impedir que o indivíduo faça palavras cruzadas, mas também pode levar ao esquecimento do lugar onde o carro está estacionado, já que essa recuperação pode ser mais lenta do que o previsto.

“Os anestesistas raramente conversam com os pacientes sobre problemas cognitivos após a cirurgia, mas essa é a complicação mais comum entre idosos.

Temos que falar sobre isso e prepará-los para o que pode ocorrer, assim como acalmá-los diante do receio sobre esta ser uma condição progressiva. Esperamos que a nova nomenclatura nos ajude”, completou o doutor.

 Mariza Tavares

OUTRAS NOTÍCIAS