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Doenças cardiovasculares rondam os cuidadores

Monica Parry, professora de enfermagem da Universidade de Toronto: “epidemia de cuidadores sobrecarregados” — Foto: Divulgação

No dia 10 de setembro, o “Canadian Journal of Cardiology” publicou pesquisa sobre as evidências científicas que mostram que cuidadores de pacientes com doenças cardiovasculares têm mais chances de eles próprios desenvolverem a enfermidade. Para o levantamento, cuidador é aquele que presta algum tipo de serviço, informal e sem pagamento, para uma pessoa com deficiência ou doença crônica. O estresse dessa ocupação é tão grande que já se pensa numa abordagem que contemple paciente e cuidador.

No Canadá, onde foi feito o estudo, metade da população está envolvida com algum tipo de cuidado, seja de um membro da família ou de um amigo. Este é um índice semelhante ao existente nos Estados Unidos e na Europa. Cerca de 40% dos cuidadores relatam que a atividade se traduz em estresse emocional, psicológico, físico, social e financeiro. São fatores que podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares, mas praticamente nada é feito para resolver ou reduzir o problema. Pior: a equação vai se tornar cada vez mais complexa nas próximas décadas, com o progressivo envelhecimento da população.

Monica Parry, professora de enfermagem da Universidade de Toronto: “epidemia de cuidadores sobrecarregados” — Foto:  Divulgação
Monica Parry, professora de enfermagem da Universidade de Toronto: “epidemia de cuidadores sobrecarregados” — Foto: Divulgação

“Há evidências abundantes de que os cuidadores precisam de maior apoio, uma vez que seu papel é fundamental, com enorme contribuição para o sistema de saúde”, afirmou Heather Tulloch, diretora do laboratório de saúde psicológica cardiovascular e medicina comportamental da Universidade de Ottawa. O levantamento mostrou que, entre eles, a atividade física era menor e um número significativo fumava. Sua dieta alimentar também deixava a desejar e o sono era de má qualidade. Quem cuidava do cônjuge apresentava mais sintomas de depressão.

Para os pesquisadores, o risco de desenvolver hipertensão e síndrome metabólica pode estar diretamente relacionado ao tempo dedicado a essas tarefas: foi considerado de alta intensidade o trabalho de cuidador por mais de 14 horas por semana, durante período superior a dois anos. A síndrome metabólica descreve um conjunto de fatores que aumentam as chances de o indivíduo desenvolver doenças cardíacas, diabetes e ter um AVC (acidente vascular cerebral): pressão sanguínea, glicose e triglicerídeos elevados, alterações no colesterol, grande quantidade de gordura abdominal.

Para Monica Parry, professora de enfermagem da Universidade de Toronto, estamos enfrentando uma “epidemia de cuidadores sobrecarregados”, principalmente entre pessoas de meia-idade que têm que se dividir entre a função de zelar por entes queridos, ter uma profissão e dar atenção à família. Apesar de um número muito maior de mulheres desempenhando esse papel, vem crescendo o contingente de homens que acaba assumindo esse tipo de responsabilidade. “Por razões culturais, eles podem ter mais dificuldades de pedir ajuda externa, o que vai impactar sua saúde”, explicou.

Mariza Tavares

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